Especialistas alertam para a falsa sensação de segurança que a ausência de picos da Covid-19 em Campo Grande pode trazer. Em plena ascensão da doença e com ampliação na quantidade de testes, o município fechou a sétima semana desde o primeiro caso com queda de 29% em relação ao período anterior.
Conforme os dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES), entre o sábado (25) e o Dia do Trabalhador, 26 pessoas testaram positivo para o novo coronavírus, contra 37 entre os dias 18 e 24 de abril.
Na quarta e na quinta, a Capital chegou a zerar o placar de casos novos, mas Júlio Croda, epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), disse ao Correio do Estado que só há alívio quando há 14 dias seguidos com quedas sucessivas, e como houve 26 novos pacientes com a doença no domingo (26), ainda não é o caso.
“Se essa tendência se confirmar, será o sexto dia sem restrições para a realização de exames, mas ainda assim são necessárias duas semanas consistentes para avaliarmos com mais precisão”, afirmou o epidemiologista.
Um fato positivo é que o drive-thru do governo estadual, inaugurado no dia 13 de abril, ampliou a investigação e ajuda a traçar um panorama cada vez mais próximo do real sobre o avanço da Covid-19. Se antes apenas casos graves eram dignos de ter o material biológico analisado pelo Laboratório Central (Lacen), hoje, qualquer paciente que esteja até o sétimo dia com febre e sintomas respiratórios faz o swab.
Além do Quartel Central do Corpo de Bombeiros, as unidades de saúde do Coronel Antonino e Coophavila também estão fazendo coletas, caso o doente seja uma criança ou não tenha carro para ir no drive-thru.
Somente 2,5% de todos os testes feitos nesse esquema deram resultado positivo e 953 foram descartados.
“É ótimo ter essa quantidade maior de exames. Se não tivéssemos, não conseguiríamos entender se a doença de fato está subindo ou caindo. O Estado está com a testagem adequada, não há pacientes na rua aguardando testes e a positividade não está elevada”, comenta Croda.
Como era esperado, a média de casos por dia subiu após o drive, e segundo o infectologista, não foi pouco.
Antes do serviço ser implementado havia 1,7 caso diário, e desde o dia 13 de abril são pouco mais de quatro casos por dia.
“Não é um aumento pequeno, mas significativo. Estamos detectando mais casos ao longo da semana”, afirmou Júlio Croda. Diante de todo esse cenário, o epidemiologista acredita que é hora de o Estado dar um passo extra e ampliar ainda mais a amostragem, testando quem tem apenas sintomas respiratórios, mesmo sem febre.
Questionado se não seria o momento de testar a população aleatoriamente, como fez o Rio Grande do Sul, Croda afirma que ainda é cedo para realizar esse tipo de levantamento. “Lá mesmo eles testaram bairros inteiros e só acharam dois”, completa.
MINUTOS INCERTOS
O epidemiologista faz um alerta quanto aos testes rápidos, que nesta semana passaram a ser oferecidos em farmácias. Ele recorda que o exame, cujo resultado sai em até 40 minutos, só dá positivo se encontrar anticorpos contra Covid-19 presentes no sangue do paciente. O problema é que se a pessoa está com o vírus há menos de sete dias, ela ainda não produziu defesas suficientes para serem detectadas.
Uma vez contaminada, e ainda por cima assintomática, ela vai espalhar coronavírus em todos os lugares por onde passa, risco para crescimento da chamada contaminação comunitária.
O secretário de Saúde de Mato Grosso do Sul, Geraldo Resende, fez o mesmo alerta e disse que todos os resultados deverão ser encaminhados ao Lacen e orientou que os cidadãos cujo exame der negativo ainda assim mantenham o isolamento social. “Eles [testes rápidos] não dizem com certeza se a pessoa não tem a doença, mas pode dar uma falsa impressão que a levará a andar pelas ruas e contaminar outras pessoas”, afirmou o titular da SES.