Estadão Conteúdo
12/10/2020 10:47
O Brasil chega hoje ao seu 168º dia seguido com a média móvel diária de mortes por covid-19 acima dos 300 óbitos, valor alcançado apenas por dez países - e freado rapidamente pela maioria deles.
Por aqui, atingimos essa marca em 28 de abril e, desde então, nunca mais saímos desse patamar.
O único país em situação pior do que a nossa são os Estados Unidos, que registraram números parecidos um mês antes e ainda mantêm índices elevados de óbitos pela doença.
O Estadão procurou especialistas para entender como uma curva tão longa de óbitos e de isolamento social pode atrapalhar a vida das pessoas em aspectos emocionais, sociais e econômicos.
Raul Borges Guimarães, professor de Geografia da Unesp, estuda a pandemia desde o seu início e lembra que um primeiro ponto a se considerar é a característica demográfica de Brasil e EUA, principalmente onde há concentração de pessoas. "Há países povoados como Japão e Coreia do Sul que desenvolveram um sistema de vigilância e controle baseado em testagem em massa e monitoramento", diz.
"Isso não ocorreu no Brasil, que foi um dos países com menor porcentagem de testes. A gente ficou caminhando às cegas na pandemia."
Guimarães observa que entre os dez países que ultrapassaram a marca de 300 mortes diárias na média móvel estão nações populosas e com megacidades, como Nova York, São Paulo e Nova Délhi.
"Essas metrópoles tiveram um papel muito grande na dispersão da doença. Já na Europa, há grande malha urbana. A disseminação viral leva dois componentes fundamentais do território em conta: densidade populacional e mobilidade urbana, com pessoas convivendo no mesmo espaço.", lembra.