Com caneta preta de material transparente mas mãos e muitos anos bem vividos nas costas, candidatos que já estão bem acima da média de idade entre os inscritos para o Exame Nacional do Ensino Médio são inspiração, exemplo e a voz da experiência para quem vai tentar a prova pela primeira vez.
Aos 60 anos, o pedreiro Carmelo Candado (foto) chegou a começar três faculdades, mas a dificuldade financeira e problemas familiares não deixaram ele terminar nenhuma. Porém, isso não o impediu de levantar cedo e enfrentar uma sensação térmica de 37°C (segundo o meteorologista Natalio Abrão) para tentar de novo.
"A vida nos ensina muita coisa. Em 2002 nem concluído o ensino médio eu tinha e vi um pôster de uma senhora de 80 anos que tinha passado em uma PUC. Eu pensei: se ela pode, por que eu não posso?", conta o trabalhador.

Depois de pegar o certificado do ensino regular, começou Direito em 2005 em uma universidade particular e não aguentou pagar. Passou para Letras na UFMS, mas o filho sofreu um acidente e ele acabou perdendo o curso. Hoje ele faz administração pública "aos trancos e barrancos" e vai tentar voltar ao curso onde tudo começou: direito.
"A idade não me impede nada. É o desejo de conseguir algo melhor que me move", diz.
Depois de trabalhar anos como auxiliar administrstivo na área contábil, o aposentado Aparecido Alves dos Santos, 60 anos, quer diploma de contabilidade para aprender "as manhas" do ofício.
"Eu me considero um lutador. Estou aposentado, mas estou batalhando ainda. A minha expectativa é super boa", completa.
TUDO PELA CARREIRA
Em Mato Grosso do Sul, 70.396 pessoas se inscreveram para fazer o exame, e em todo o país, 5.095.308 participantes tiveram as inscrições confirmadas.
Uma multidão lotava a Avenida Ceará em frente à Uniderp, um dos maiores locais de prova, faltando uma hora para a abertura dos portões. O sol escaldante fazia os termômetros marcarem 33°C naquele momento segundo Natalio Abrao, embora a sensação fosse ainda mais quente.
Faltou espaço para acomodar tanta gente na sombra. Muitos se espremiam embaixo das árvores e nos abrigos dos pontos de ônibus.
Os portões abriram pontualmente às 11h e todos correram para dentro da universidade não apenas para encontrar a sala, mas para aproveitar o ar condicionado e se refrescar um pouco.

Vendedores de água aproveitaram para lucrar e acadêmicos também entraram no jogo para levar alguns para a formatura, centros acadêmicos ou associações atléticas. "Água mineral para quem quer passar na Federal", gritavam alguns.
Hoje, os estudantes terão cinco horas e meia para a realização da prova, que será de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Ciências Humanas e suas Tecnologias e Redação.
No próximo domingo (10), são cinco horas para responder às questões de Ciências da Natureza e suas Tecnologias e de Matemática, totalizando 180 perguntas. O acesso à sala só será permitido com a apresentação de documento oficial de identificação com foto.