Após a realização de audiências públicas e debates entre setores da sociedade civil organizada, chega à Câmara Municipal o projeto Cidade Limpa. O projeto proíbe outdoors pela cidade e restringe as propagandas nas fachadas e calçadas, assim como a distribuição de panfletos e placas. A ideia, na verdade, foi gestada no início do ano passado pela administração municipal com base no bem-sucedido projeto executado pelo prefeito Gilberto Kassab, de São Paulo. Inicialmente recebida com protesto por todos os segmentos da sociedade paulistana, a lei acabou agradando a maioria da população por reduzir a poluição visual e dar nova cara à cidade. Hoje é praticamente unanimidade. Outras dezenas de cidades brasileiras também copiaram o projeto paulistano e hoje comemoram o fim do emaranhado de placas e fios, que lhes conferiam visual poluído e fazia mal não só aos seus habitantes, mas aos comerciantes que depois dos protestos iniciais hoje comemoram crescimento das vendas por conta da limpeza.
Em Campo Grande, pesquisa veiculada pelo Correio do Estado, ano passado, já mostrava igualmente apoio da população pelo Cidade Limpa. O cidadão campo-grandense também apoia a retirada das placas, outdoors, letreiros e outras peças publicitárias que em vez de informar terminam por dar à cidade visual pobre, poluído.
Cabe à Câmara Municipal dar o devido valor à proposta e seguir ao menos uma vez o pensamento e a vontade do povo de Campo Grande; fato raro, uma vez que acima dos interesses do coletivo alguns usam e abusam do cargo para auferir dividendos pessoais. Não se trata de prejulgamento, mas de antever embate para os holofotes de plantão, onde com toda a certeza alguns integrantes do Legislativo Municipal aproveitarão o clima eleitoral para buscar na mídia um lugar ao sol.
Neste caso, a população deve estar muito atenta a essas sanhas para evitar que o projeto seja retalhado por vereadores que estarão a serviço de minoria que insiste em manter Campo Grande com a mesmas caracaterísticas do século passado, para garantir ganhos eleitoreiros daqui pra frente. É comum alguns segmentos da sociedade, em especial o econômico, protestar sempre que iniciativas positivas ou não venham a interferir no ganho imediato. Mas neste caso, trata-se de uma iniciativa mais do que positiva e que trouxe resultados igualmente positivos para um sem-número de cidades espalhadas Brasil afora, Aqui, certamente não será diferente e neste caso convém, nobres vereadores, avaliar com mais responsabilidade posição sobre a Lei da Cidade Limpa. Sob pena de sofrer desgaste político sem precedentes.
O projeto que mudou a cara de São Paulo é também uma lição de política. Aliás, do bom exercício da política. Mostra como a postura e o empenho do prefeito Gilberto Kassab foram importantes para a aprovação e a implantação da lei. Esta prática deve ser copiada e seguida à risca pelos nobres edis, pois comprova que, por mais problemática que seja, a realidade pode ser transformada com vontade política e cidadania. E essas duas virtudes devem preceder a análise da proposta em tramitação na Casa de Leis. Cabe agora à sociedade fiscalizar e cobrar de seus representantes políticos uma posição sobre o caso.
Mais além, o prefeito Nelson Trad Filho deve fazer a sua parte explicando para a sociedade de que forma e quando efetivamente vai executar o Cidade Limpa na Capital. Afinal, a população aguarda por esse posicionamento desde o ano passado, quando fez alarde para anunciar a "boa nova" e depois adotou o silêncio para justificar o desinteresse naquele momento. Espera-se que desta vez o projeto não fique apenas na falácia.