Todos nós reclamamos e nos sentimos no direito de criticar tudo e todos, principalmente quando estamos em meio às rodas de bate-papo. No dia a dia somos pegos a todo instante falando e ensinando o certo, o correto, o que tem que ser, como tem que ser e muito mais. Faz parte da cultura do ser humano, mas, principalmente do brasileiro, de se achar o mais esperto, o mais "descolado", o malandro do bem.
Afinal, quem nunca se utilizou de uma pequena "malandragem" para levar vantagem em alguma situação?
Em uma cultura onde a educação é, de longe, a menos privilegiada pelo poder público, como educarmos nossos filhos em um mundo socialmente desigual e mais ainda, em uma sociedade que preza a ascensão social e financeira à qualquer custo?
No pacote de apresentação do ser humano, a honestidade passou a ser uma ferramenta de qualidade de marketing pessoal, mas, principalmente, um item subjetivo na vida das pessoas, ou seja, não importa o que esteja fazendo, mas, se não está prejudicando alguém (diretamente), não tem problema. Vira e mexe nos deparamos com a famosa frase: Ele rouba, mas, faz!, ou seja, ele é desonesto, mas, ajuda, faz alguma coisa pelo bem social, pela comunidade, pelo povo, etc.
Me atrevendo à uma reflexão mais simplista, o que muitos gostariam e poucos buscam deveria ser uma interação pura e verdadeira entre a conscientização e o comportamento das pessoas, seja na política, na vida social, na educação e assim por diante.
Por muitas vezes, ao nos depararmos com situações desconfortáveis, como motoristas parados em fila dupla, isso incomoda muito, atrapalha o fluxo do trânsito, reclamamos! No entanto, logo à frente, somos nós que estamos parados em fila dupla, ou seja, quando as más atitudes partem de outros nos sentimos agredidos em nossos direitos, porém, quando somos nós que cometemos infrações, por menor que seja, achamos normal.
Essa é a diferença entre conscientização e comportamento, por muitas vezes, somos ou ficamos conscientes dos atos que não se devem cometer, em contrapartida, não nos comportamos condizentemente com nossa conscientização. Vemos a todo instante um motorista ocupar uma vaga destinada a pessoas com deficiência sem ter qualquer deficiência, na maioria das vezes, dizem: é só por um minutinho! Quer dizer que o motorista tem a consciência, mas, não aplica o comportamento condizente ao seu dia a dia.
Todos têm consciência de que não se pode dirigir alcoolizado, mas, não põe em prática o comportamento correto, no entanto, ao se envolver em algum acidente onde a outra parte se encontra alcoolizado, pronto, se enche de razão, mas, se esquece que comete o mesmo erro, só deu a sorte de não se envolver em acidente.
Mudando o foco para nossos políticos, alguém tem dúvidas de que eles além de conscientes, efetivamente, praticam o comportamento?
É verdade, todos sabem sobre o mal que a corrupção causa à sociedade, no entanto, muitos cometem este comportamento repulsivo. Todos sabem que desviar verbas da saúde é, além de crime, um comportamento desumano, mas, muitos cometem tal comportamento.
Este ano temos eleições, todos sabem que candidatos necessitam de votos, todos têm essa consciência, e depois de eleitos? Se comportam como legítimos representantes do nosso voto?
Isso nos mostra que consciência e comportamento deveriam, obrigatoriamente, caminhar juntos em nossas vidas. De nada adianta termos consciência e não nos comportarmos condizentemente, fazendo a integração dessas duas características.
A necessidade de mudarmos nossos hábitos torna-se um desafio constante e diário em nossas vidas, de nada adianta termos a tal da conscientização se não nos comportarmos para colocar em prática essa consciência.
Vejam algumas situações antagônicas que cometemos no dia a dia:
Cobramos educação, mas, não a colocamos em prática;
Culpamos a cultura, mas, sabemos que não é conveniente agir de forma diferente à cultura que aí está;
Subornamos e somos subornados quando nos pegam cometendo infrações de trânsito;
Falamos ao celular quando estamos dirigindo, mesmo sabendo que estamos correndo riscos e colocando outros em risco;
Votamos em candidatos que, sabidamente, compram votos;
Os cidadãos saqueiam cargas em acidentes, no entanto, não veem esta atitude como roubo.
Enfim, acho que temos consciência o bastante para discernirmos entre o certo e o errado, mas, não nos comportamos puramente entre o certo e o errado, nos comportamos entre a conivência e a conveniência, diante destes deslizes de comportamento temos a consciência de vivermos em um País muito rico, em que a riqueza é distribuída entre meias, cuecas e sacolas.
Infelizmente temos um tipo de consciência na vantagem e um comportamento na desvantagem ou o contrário.
Nas próximas eleições vamos ser mais conscientes e nos comportarmos com inteligência diante das urnas. Quem sabe assim, teremos um mundo um pouco melhor.
Adriano Garcia - Méd. Veterinário, cadeirante e cidadão – [email protected]