O PIB brasileiro terá em 2010 a mais expressiva expansão dos últimos dez anos. O maior índice de crescimento, 6,1% em 2007, será superado este ano, devendo ficar em torno de 7%, segundo estimativas de analistas e do governo. Vale citar que, caso o país conseguisse manter esse nível nos próximos dez anos o PIB dobraria no período.
Um dos fatores preponderantes para o crescimento da economia brasileira tem sido o consumo das famílias. Nos últimos anos a demanda vem se mantendo aquecida em parte por causa dos ganhos reais dos rendimentos de um grande contingente que se beneficia de programas da seguridade social, como o Bolsa Família, que só este ano conta com recursos que somam mais de R$ 13 bilhões, e os benefícios previdenciários, que só no início de 2010 teve um reajuste nominal de 10% frente a uma inflação ao consumidor de 4% em 2009.
A seguridade tem sido importante para aquecer o mercado interno, mas nada se compara com o que ocorre no mercado de trabalho e no crédito à pessoa física. Na questão do emprego os dados do IBGE revelam que desde março de 2002, quando a nova Pesquisa Mensal de Emprego foi aplicada, o número de desempregados nas seis regiões metropolitanas do país caiu de 2,6 milhões para 1,7 milhão em abril deste ano. Os índices de desocupados despencaram no período de 12,9% para 7,3%. Nesses cinco anos o contingente de ocupados saltou de 17,3 milhões para 21,8 milhões e o rendimento real médio mensal dos trabalhadores se elevou de R$ 1.359,81 para R$ 1.424,10l. A massa salarial desse grupo passou de R$ 23,5 bilhões por mês para R$ 31,1 bilhões por mês. São R$ 7,6 bilhões mensalmente, R$ 91 bilhões no ano, em recursos sendo aplicados no consumo de alimentos, roupas, perfumaria e outros bens e serviços. Vale repetir que esses valores estão expressos em termos reais.
No que se refere ao crédito para as pessoas físicas os números também são impressionantes. Em janeiro de 2001 o volume de recursos para os consumidores equivalia a 5,6% do PIB e em abril de 2010 foi para 15,2%. O que não falta é dinheiro para financiar automóveis, eletrodomésticos, imóveis, passagens aéreas etc.
O consumo está aquecido e os investimentos produtivos estão voltando depois da retração no ano passado. O resultado foi o repique da inflação e a rápida deterioração das contas externas. O nível de preços ao consumidor se descolou do centro da meta de 4,5% para este ano e as transações correntes do balanço de pagamentos, que em 2005 foi superavitária em US$ 14 bilhões e no ano passado teve déficit de US$ 24 bilhões, vai crescer e pode fechar 2010 com saldo negativo de US$ 40 bilhões.
O Banco Central já começou a elevar a Selic e o governo projetou cortar despesas para amenizar o impacto da demanda sobre a inflação. Mas, a maior preocupação refere-se ao rombo nas contas externas. O que virá depois das eleições para reduzir o atual ritmo de crescimento e diminuir a pressão sobre os preços e o balanço de pagamentos deveria se pautar pela preservação do nível de empregos, da renda e dos investimentos.
O Brasil mais uma vez se vê incapaz de crescer de modo robusto e sustentado com equilíbrio em seus fundamentos econômicos. É uma equação difícil, mas que poderia ter sido resolvida se o país tivesse feito uma reforma tributária nos moldes do imposto único.
Marcos Cintra, doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.