Um vídeo. Uma postagem. E muita confusão.
Assim foi a terça-feira (2) do vereador Vinícius Siqueira (DEM), que foi alvo de um protesto por parte de moradores de dois bairros da região norte, Coophasul e Vila Nasser, após uma série de postagens em suas redes sociais enttulada "chega de abndono."
A reação foi a pior possível. Na sessão da Câmara Municipal desta manhã, associações de moradores da região cobraram o parlamentar com cartazes e gritos de ordem. Foram apoiados, publicamente ou não, por outros vereadores, que em tom provocativo contestaram as 'informações' de Siqueira.
"Ele nunca apresentou nenhum projeto para os bairros e agora vem com esse discurso eleitoreito", disse um dos vereadores.
"Ele não deveria adotar a Vila Nasser, mas sim adotar a cidade inteira. Nós não precisamos que ele adote nada. Ele ganha mais de R$ 15 mil e nós, representantes de bairro, não ganhamos nada, só estamos pela causa. Agora no período de campanha ele quer adotar e aparecer", desabafou Ednaldo Nogueira, presidente da Associação de Moradores da Coophasul.
Como resposta, Siqueira admitiu que está em campanha, mas que tem familiares morando na região e que as respostas nas postagens corroboram as denúncias.
"Olha, é uma região que a gente está começando atender agora na verdade. Não fiz nenhuma indicação lá, a minha linha de fiscalização de contratos resolvi adotar de forma mais firme a região. Porque é a terceira maior região da cidade. Eles deviam estar felizes que tem um parlamentar olhando pela religião e não criticando quem quer fazer algo. É só olhar a postagem que eu fiz, vários comentários como falta de médico, não tem asfalto. Nós estamos em campanha. Vamos cuidar mais de lá. Eu já morei lá no Nossa Senhora das Graças. E minha família ainda mora lá", disse.
FOLIA INTERROMPIDA
Uma postagem específica do vereador, contudo, foi além. Siqueira mostrou uma foto do terreno cedido pela Prefeitura para uso da escola de samba Deixa Falar, campeã do Carnaval campo-grandense em 2018. Junto à imagem da armação abandonada de um carro alegórico, mato alto e parede pichada, a publicação diz que o local está dominado por sujeira e usuários de drogas. Vai além: exige que o Poder Municipal retome a área caso não seja realizada a manutenção.
"Esse lugar era uma creche antes, que foi construída mais acima, só que é um lugar complicado, não tem luminação pública, é bastante precária. A área está sendo utilizada para consumo de droga", disse o vereador ao Correio do Estado, antes do protesto. "A Prefeitura tem que exigir que a escola de samba faça a manutenção. Mantenha guardas. Ou então retorna essa área. Esse imóvel, do jeito que está, é um criador para uso de entorpecentes.
Nós vamos fazer um requerimento para a Prefeitura se pronunciar sobre isso e emergencialmente, vamos pedir para que a guarda municipal esteja no local, para permanecer no local. Eu acho que só foi uma permissão de uso para usar o imóvel, não que seja da escola de samba."
O tiro saiu pela culatra. Durante o protesto, vereadores ligados ao Carnaval da cidade saíram em defesa da Deixa Falar, como Valdir Gomes (PP). "Carnaval é cultura, não tem como retomar uma área dessas. Tem como ajudar, caso alguém queira. É parte da nossa cultura", disse.
Não precisa, contudo, ter ligação com o Carnaval para fazer uma avaliação. Pelo local, vizinhos defenderam a agremiação das acusações.
"Não sei do que ele (vereador) está falando. Droga em tudo o que é lugar. O pessoal da escola faz o possível para cuidar do local, são simpáticos e fazem parte da comunidade. Não há risco", disse o aposetado Jaime Souza, 71 anos, há três quadras do portão de entrada.
Segundo o presidente da Deixa Falar, Francis Fabian, a escola está no local há pouco mais de quatro anos. Ele reconhece as dificuldades financeiras para deixar o terreno na melhor das condições, mas c ritica o caráter acusativo da postagem e a falta de diálogo com o parlamentar.
"É no mínimo infeliz", disse Fabian. "Ele nunca apareceu aqui, nunca perguntou nada da situação daqui, nunca fez nada. É um terreno muito grande e evidente que não temos orçamento para cuidar perfeitamente de tudo. Mas fazemos o que é possível", completou.
Fabian vai além. Disse que para evitar polêmicas, bastaria o vereador ou os seus assessores conversarem para verem que a denúncia de abandono não é real. "Todo mês fazemos a limpeza do que é possível. Arrumamos o portão, colocamos cerca. É extremamente negativo um discurso nesse tom. Ainda mais nessa fase do ano, em que já estamos discutindo o Carnaval do ano que vem, tem gente todo dia. É um sonho nosso, ofendido", apontou.
Ainda de acordo com o presidente, são oferecidas oficinas de corte e costura e bateria no local, informação confirmada por vizinhos à reportagem. E os planos são de ampliar as atividades oferecidas à comunidade.