Preocupadas com o aumento do número de mortes por Covid-19 entre pessoas com doenças crônicas, as sociedades brasileiras de diabetes e cardiologia, além da Associação Brasileira de Medicina de Emergência e da Rede Brasil AVC, estão lançando a campanha nacional Saúde Não Tem Hora.
As entidades estão chamando a atenção dos portadores dessas enfermidades para o cuidado com a manutenção do tratamento. Dados do Ministério da Saúde sobre o cenário de pandemia do novo coronavírus mostram que, entre os casos fatais de Covid-19, cerca de 40% dos pacientes apresentavam cardiopatia, e 30%, diabetes.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, a preocupação dos médicos é que a busca da população por atendimento para as síndromes gripais e sintomas de infecção pelo coronavírus em hospitais e unidades básicas de saúde acabaram por afastar um outro grupo, o de pacientes de doenças crônicas.
Para a entidade, por serem os pacientes de doenças crônicas os mais afetados pelas complicações e formas mais graves da Covid-19, pessoas com cardiopatias ou diabetes precisam estar atentas aos sinais que podem indicar piora e uma situação de urgência, além de não descuidarem do tratamento.
CAMPANHA
Com a campanha Saúde Não Tem Hora, médicos e rede de apoio estão alertando que sinais de alerta dessas doenças não devem ser ignorados. A mobilização, que tem um trio de embaixadores formado pelos médicos Drauzio Varella, Ana Escobar e Roberto Kalil, chama atenção para a necessidade de se manter o atendimento médico durante a pandemia, período em que, nota-se, pessoas estão deixando de buscar postos de saúde e mesmo os consultórios particulares, temendo uma contaminação pela Covid-19.
Conforme a entidades participantes da campanha, a pandemia trouxe à tona uma preocupante realidade constada por médicos em todo o País: a queda do número de atendimentos de emergência de casos de infarto e acidente vascular cerebral (AVC) em 50% e 40%, respectivamente, além de baixa procura nas consultas de rotina para pacientes com diabetes (que também é fator de risco para infarto e AVC).
Sobre a diminuição de procura por atendimento, a neurologista Sheila Martins, presidente da Rede Brasil AVC, diz que “levantamentos feitos nos hospitais mostraram essa redução no número de casos de AVC chegando às emergências, o que não significa que caíram os números de AVCs, mas, sim, que esses pacientes estão ficando em casa com medo de pegar coronavírus. Isso é um grave problema, porque pode gerar sequelas para a vida toda”.
Somado a isso, de acordo com dados recentes da Sociedade Brasileira de Cardiologia, os cartórios de registro civil brasileiros anotaram um aumento de 31% no número de mortes por doenças cardiovasculares no período de 16 de março a 31 de maio deste ano (comparado com 2019), o que pode ser uma demonstração de uma possível falta de atendimento rápido para esses casos.
MORTES POR COVID-19
Em Mato Grosso do Sul, segundo os boletins epidemiológicos da Secretaria Estadual de Saúde (SES), das 281 mortes registradas desde o início da pandemia até esta sexta-feira, 116 pacientes tinham histórico de diabetes, e 104, de doença cardiovascular. Isso sem contar os registros de hipertensão, que chegaram a 75. Alguns pacientes apresentavam duas ou três comorbidades simultâneas.
Indagado sobre por que o diabetes e mesmo as doenças cardiovasculares aparecem, numericamente, como as principais comorbidades em casos de óbito pelo novo coronavírus, Domingos Malerbi, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, disse ao Correio do Estado que “esses problemas aliados a outras doenças respiratórias, além de hipertensão, tabagismo, entre outras, tornam o organismo mais suscetível a quadros com maior intensidade por conta de processos inflamatórios e pela própria virulência mesmo. Quanto aos dados, precisamos analisar mais detidamente e ver uma série de aspectos que envolvem a contaminação, a realidade social etc”.
Sobre o fato de um número cada vez maior de pessoas com doenças crônicas hoje estar relegando seus tratamentos a segundo plano, Malerbi reafirmou a existência de medo: “Há um receio muito grande de contaminação [por parte] das pessoas que já têm esses problemas de saúde e temem agravá-los com a Covid-19. Muitos serviços estão sendo prejudicados pela pandemia, mas outras formas de abordagem, como teleconsultas, são alternativas importantes para o atendimento”.