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ESTATÍSTICA

Dois anos depois, quase metade dos casos de morte violenta no Brasil continuam em aberto na polícia

Dois anos depois, quase metade dos casos de morte violenta no Brasil continuam em aberto na polícia

G1

06/10/2019 - 00h00
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A família de Shayene Rodrigues, de 14 anos, ainda espera uma resposta. Da polícia, da Justiça, de alguém que possa dizer quem a matou. A adolescente, grávida de 7 meses, foi assassinada a tiros em Pernambuco, no dia 26 de agosto de 2017, um sábado. Levada ao hospital, não resistiu. Seu bebê também não. Dois anos depois, seu caso continua em aberto na polícia, sem um autor identificado, sem nenhum preso pelo crime. Sem qualquer perspectiva de solução.

O caso de Shayene não é isolado. Das 1.195 mortes violentas registradas de 21 a 27 de agosto de 2017, quase a metade segue em investigação na polícia. Só um em cada cinco casos teve uma prisão efetuada, e menos de 5% já têm um condenado pelo crime. É o que revela um novo levantamento exclusivo feito pelo G1.

O Código de Processo Penal determina que um inquérito policial seja concluído em 10 dias quando houver prisão em flagrante ou 30 dias em caso de inexistência de prisão cautelar. Os delegados, no entanto, podem pedir um prazo maior para elucidar o caso – o que normalmente acontece.

Mais de 230 jornalistas espalhados pelas redações do G1 no país acompanham esses casos há dois anos, quando uma megamobilização foi feita para contar as histórias de todas as vítimas de crimes violentos ocorridos durante uma semana no Brasil. O trabalho, inédito, marcou o início de uma parceria com o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Em 2018, um ano depois, um balanço do andamento de todos esses casos foi publicado. E agora, dois anos depois, um novo esforço de reportagem foi feito. E os resultados não são nada animadores.

Os novos dados mostram que:

quase metade dos casos continua com a investigação em andamento na polícia (48% do total, ou 569). A outra metade (595) foi concluída ou arquivada, mas 105 sem solução — ou seja, sem a autoria do crime. Em 31 casos, o status não foi informado ou o inquérito não foi instaurado

considerando todos os 1.195 casos, a polícia ainda não identificou os autores de 501 deles (42%). O número de inquéritos com autores identificados aumentou desde o último balanço, há um ano, mas pouco — passou de 469 para 492, ou seja, somente 23 novos casos

apenas 22% dos casos (259) tiveram um ou mais suspeitos presos. Desde que os crimes aconteceram, 431 pessoas foram detidas, mas 129 delas já foram soltas

somente 292 casos (24%) têm autores processados na Justiça. Destes casos, apenas 68 foram a julgamento, e 57 resultaram na condenação de ao menos um réu

das 1.195 mortes, 99 foram classificadas como suicídio pela polícia. No balanço de um ano, eram 104, o que significa que a polícia reviu alguns casos e os reclassificou como homicídio

No caso de Shayene, a polícia chegou a divulgar que havia identificado os autores do crime. Mas voltou atrás.

Maria José de Fátima Santana, de 62 anos, avó de Shayene, diz que não teve mais nenhuma notícia sobre o caso. "Acho que deixaram para lá." Ela diz que já tinha perdido o filho, pai de Shayene, assassinado, há dez anos. "É uma dor que eu não quero para mãe nenhuma."

A polícia trabalha com a hipótese de acerto de contas. Também foi morto Carlos Vinícius de Oliveira Castro, de 21 anos, que tinha um relacionamento com Shayene e era considerado o alvo do crime.

Há vários outros casos como o de Shayene ocorridos naquela semana que aguardam um desfecho na polícia, como:

o de Kedson Rodrigues, vereador de Governador Nunes Freire (MA). O corpo dele foi encontrado em um matagal com golpes de faca. O crime continua sem solução

o de Cristina Martins Bispo, que foi estuprada e estrangulada em João Neiva (ES). Ela foi encontrada nua, com marcas de agressão sexual. O motivo e a autoria do crime ainda são desconhecidos

o de Nialber Alves Lima, morto após vários disparos em Caruaru (PE). Ele conversava com um amigo e com o irmão na frente de casa quando homens que fingiram ser policiais atiraram. Os criminosos nunca mais foram localizados

o de Silvio Luiz Fogaça, baleado ao abrir o portão de casa para entrar com o carro em Maringá (PR). Ele já havia escapado de um atentado cinco anos antes, quando um menino de 3 anos morreu em seu lugar. Nenhum suspeito foi identificado até agora

o de Gisele Rosana da Silva, assassinada após um tiroteio em uma praça na Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ). Ela assistia a um jogo de futebol de amigos quando foi atingida. Ninguém foi preso pelo crime

No 1° Encontro Nacional de Diretores de Departamentos de Homicídios, realizado na última semana no Rio, foi aprovada pelos delegados uma recomendação para que as investigações de homicídios no Brasil não ultrapassem o prazo de 24 meses (ou seja, dois anos).

Desafios nas investigações

Para delegados e promotores, a investigação de homicídios vem se tornando mais difícil e complexa com o avanço e a interiorização do crime organizado. Facções do tráfico e milícias têm usado seu poder de fogo e capacidade financeira para esconder provas, ameaçar testemunhas e cooptar agentes da lei, dizem.

Para lidar com essas dificuldades, segundo eles, é necessário maior investimento em perícia e inteligência para desarticular organizações e reunir provas que levem à condenação dos assassinos. Também é preciso aumentar o efetivo de policiais civis e peritos, além de melhorar a integração da polícia com o Ministério Público e a Justiça. O G1 ouviu 5 delegados e 4 promotores de 7 estados que elencam os seguintes desafios na investigação de homicídios no Brasil:

Expansão do crime organizado

Falta de pessoal na Polícia Civil

Falta de acompanhamento dos avanços tecnológicos

Falta de capacitação de peritos e de investimento em estrutura

Melhora no atendimento ao local do crime

Dificuldade para investigar confrontos policiais

Falta de integração entre os sistemas

Baixo investimento no programa de proteção à testemunha

Modernização do Código Penal e da legislação

Andamento dos casos

Um estudo da pesquisadora Ludmila Ribeiro, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública, referência na área, diz que se forem cumpridos os prazos previstos em todas as etapas (sem prorrogações), desde o crime até a condenação ou absolvição do acusado, um processo de homicídio deve ser finalizado em menos de um ano – tempo esse raramente cumprido, como mostra o levantamento do G1.

Edson Luz Knippel, criminalista e professor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirma que o cumprimento dos prazos e a duração dos processos, no entanto, depende muito das características do crime. “Quanto mais complexo o crime, mais provas eu posso ter que produzir”, afirma, citando a produção de laudos periciais como exemplo.

Knippel afirma que as estruturas policial e judicial também influenciam bastante na celeridade dos casos. Ele cita três elementos específicos que podem acelerar as investigações e, consequentemente, os andamentos dos casos:

a existência de delegacias especializadas: “Em São Paulo, por exemplo, tem o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). O andamento no DHPP acaba sendo mais rápido que na delegacia de bairro porque a polícia é treinada para investigar homicídios. O incremento dessas delegacias de forma nacional é uma possibilidade de acelerar as investigações.”
a existência de varas do júri: “Muitas vezes, há comarcas que não têm sequer vara do júri. É vara única, então o juiz que cuida de vara de família, acidente de trabalho, criminal, cível e empresarial é o cara que cuida também do júri. Existe uma falta de especialização nas varas. Precisa ter uma estrutura melhor para cuidar [destes casos de homicídio].”
a produção de provas periciais: “Temos que tirar das costas da vítima e da família da vítima o ônus de produção de provas. Temos que pensar em outros tipos de provas, como as periciais. Incrementar a perícia no Brasil e dar mais estrutura para os institutos de perícia são uma forma de chegarmos a uma investigação mais forte.”

Taxa de esclarecimento

A taxa de esclarecimento de crimes (ou seja, o número de casos em que uma investigação levou um autor a ser denunciado na Justiça em relação ao total de crimes) é de 28% nos casos do Monitor da Violência – índice pouco superior ao registrado um ano atrás (25%). O cálculo da taxa não considera os casos de suicídio e os reclassificados para morte não violenta.

O doutor em sociologia Arthur Trindade, professor da Universidade de Brasília e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma que as autoridades de outros países, como Estados Unidos, Canadá e Japão, acompanham e contabilizam os números de homicídios esclarecidos – o que não acontece no Brasil.

Relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês) mostra que a taxa global de esclarecimento de homicídios, levando em conta dados de 72 países, é de 63%. Nos EUA, por exemplo, a taxa foi de 58% em 2017 (último ano disponível), segundo o “Murder Accountability Project” (Projeto de Responsabilização de Homicídios). Já no Canadá, em 2018, o índice foi de 67%, de acordo com o Canadian Centre for Justice Statistics (Centro Canadense de Estatísticas de Justiça).

Como o índice do Monitor da Violência leva em conta apenas uma semana, é difícil fazer uma comparação precisa. Mas os dados indicam que, no Brasil, essa taxa é bem menor que nesses países.

“A gente só melhora aquilo que a gente mede, conta. Um fato que reafirma o quanto a gente não liga para esse tema é que a gente não tem sequer o dado. Como a gente não tem dado, também não tem parâmetro para dizer o que precisa melhorar ou não precisa melhorar. Isso é um sinal claro de que o Brasil não dá a devida importância para a investigação de homicídios. Outros países [EUA, Canadá, Japão e outros] contam isso, mensuram isso e, a partir disso, tomam várias decisões”, diz.

O professor da UNB destaca ainda que os dados do Monitor da Violência apontam uma grande diferença entre os estados, quando analisados os percentuais de esclarecimento de crimes. O Rio de Janeiro e o Ceará, por exemplo, têm taxas de 9,9% e 14,8%, respectivamente. Já Tocantins e Piauí registram índices de 77,8% e 72,7%.

Para Trindade, isso mostra a necessidade de um índice nacional de esclarecimento de homicídios. Com isso, diz, será possível identificar os estados bem-sucedidos e aqueles com mau desempenho para intensificar o treinamento de policiais especializados em investigar homicídios e aumentar o investimento tecnológico.

No 1° Encontro Nacional de Diretores de Departamentos de Homicídios, foi aprovada uma recomendação para que o Brasil passe a padronizar a taxa de esclarecimento de crimes.

 

Saldão

Coletivo de brechós promove Black Saturday no Horto Florestal

Evento que celebra o consumo consciente reúne diversos expositores, com opções para amantes de moda sustentável

03/10/2024 20h40

Imagem Divulgação

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O Coletivo de Brechós retorna com mais uma edição que promete variedade de peças. Ao todo, serão mais de 40 expositores durante o evento, que ocorre no sábado (5), no Horto Florestal, em Campo Grande.

Desta vez, o coletivo, que ficou conhecido por disseminar a ideia de moda sustentável e economia colaborativa, inova mais uma vez ao lançar o Black Saturday, com preços de peças para todos os bolsos.

Os amantes de brechós terão a oportunidade de conhecer os produtos de mais de 40 expositores, ou seja, haverá vestuário para todos os gostos e a chance de renovar o look no armário.

Imagem Divulgação

Doação de mudas


Durante o evento, haverá distribuição de mudas de árvores frutíferas e de ipês. Os visitantes que forem prestigiar poderão levar uma para casa. Com isso, o coletivo espera conscientizar a população sobre a preservação ambiental.

Outro ponto a destacar é a característica dos envolvidos no evento, que estabeleceram o compromisso de incentivar o consumo responsável e sustentável, alinhando moda, meio ambiente e comunidade.

"Queremos mostrar que é possível consumir moda de maneira consciente, ao mesmo tempo em que incentivamos as pessoas a pensar no impacto positivo que elas podem ter no ambiente. A doação de mudas é um convite para que todos reflitam sobre o papel de cada um na construção de um futuro mais verde", destacou a coordenadora do Coletivo de Brechós, Val Reis.

Serviço:


Black Saturday do Coletivo de Brechós
Data: 05 de outubro
Horário: 8h às 16h
Local: Horto Florestal, Campo Grande
Atrações: Brechós com moda sustentável, doação de mudas de árvores frutíferas e ipês.
Entrada gratuita

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Golpe milionário

Fármácia de Campo Grande é enganada em fraude de R$ 440 mil

Homens de 29 e 41 anos foram presos em flagrante após adquirirem diversos medicamentos de uma farmácia em Campo Grande e fraudarem os pagamentos

03/10/2024 18h30

Entorpecentes e medicamentos foram encaminhados a Polícia Civil de Campo Grande

Entorpecentes e medicamentos foram encaminhados a Polícia Civil de Campo Grande Fotos/ Polícia Civil-MS

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Integrantes de uma organização criminosa foram presos em flagrante nesta terça-feira (1º) por realizarem compras fraudulentas de medicamentos por meio da simulação de pagamentos, gerando um prejuízo de R$ 441.124,93 em uma farmácia na região central de Campo Grande.

Segundo as investigações, no dia 16 de setembro, um dos integrantes da organização criminosa entrou em contato com a empresa, se identificando como médico e manifestando interesse em adquirir 20 unidades do medicamento Ozempic, que custa em média R$ 1,2 mil.

Ainda de acordo com a polícia, o suposto médico realizou mais sete compras. Outros contatos com a rede de farmácias ocorreram no dia 17 de setembro, quando foram adquiridas 60 unidades do mesmo medicamento. No dia 18, outras 35 unidades foram compradas e, no dia 20 de setembro, mais 90 unidades.

Segundo as investigações, os contatos com a rede de farmácias foram contínuos. No dia 23 de setembro, foram adquiridas 20 unidades, e no dia 24, outras 20. Todas as notas fiscais foram emitidas em nome do suposto médico.

Entorpecentes e medicamentos foram encaminhados a Polícia Civil de Campo Grande Fotos: Polícia Civil-MS

O setor de televendas da empresa recebeu, em seguida, o contato de um segundo indivíduo, que também se identificou como médico. Ele realizou duas compras: uma carga de 50 unidades do mesmo medicamento no dia 18 de setembro e outros 90 exemplares no dia 22 de setembro.

Os pagamentos foram realizados via link, e a administradora de crédito aprovou todas as compras com sinal positivo de liberação para a farmácia, razão pela qual a venda foi efetivada e a mercadoria retirada por uma pessoa indicada pelo adquirente. No entanto, no dia 29 de setembro, a rede de cartões entrou em contato com a empresa da vítima, informando que todos os pagamentos haviam sido contestados pelos titulares dos cartões e cancelados.

Contatos foram realizados com os médicos titulares dos cartões informados nas compras, que disseram não ter sido eles os responsáveis pelas aquisições dos medicamentos e que já haviam registrado um Boletim de Ocorrência, pois, segundo eles, seus nomes estavam sendo utilizados de forma indevida para a prática de crimes.

Diante de mais casos de estelionato, a vítima procurou a Polícia Civil e informou, no registro da ocorrência, que teve um prejuízo de R$ 500 mil.

Diante das informações, a Polícia Civil iniciou uma investigação para identificar os criminosos.

Localização dos suspeitos 

Entorpecentes e medicamentos foram encaminhados a Polícia Civil de Campo Grande Divulgação/ Polícia Civil 

Após semanas de investigações e análise de dados, os policiais descobriram que os suspeitos mantinham os remédios bem refrigerados até a destinação final. Um dos integrantes, de 41 anos, foi localizado na posse do veículo utilizado para transportar os medicamentos. Ele confessou ter recebido, em três ocasiões diferentes, mercadorias acondicionadas em caixas de isopor e esclareceu que sua função era manter o conteúdo armazenado em geladeira por poucas horas, informando que seu companheiro, de 29 anos, foi quem passou o “trabalho”.

Os investigadores concluíram que o homem de 41 anos guardava as mercadorias em seu local de trabalho, onde foi localizada uma geladeira utilizada para armazenar os remédios. Ao ser questionado, ele respondeu que entregou a outra pessoa para dar a destinação, mostrando em seu aparelho celular as conversas mantidas com o companheiro. Além disso, levou os policiais até o local onde residiam para comprovar que não estava na posse da mercadoria.

No local, os policiais encontraram maconha e cocaína, além de utensílios utilizados para a comercialização das drogas.

Ambos os autores possuíam mandados de prisão em aberto. Eles foram autuados em flagrante pelos crimes de associação criminosa destinada à prática de estelionato, tráfico de drogas e associação para o tráfico de drogas, cujas penas somadas podem alcançar até 28 anos de reclusão.

A prisão em flagrante foi convertida em prisão preventiva, e as investigações prosseguiram para identificar os demais integrantes da associação, bem como para recuperar o dinheiro e/ou os medicamentos desviados da vítima, que já haviam sido vendidos pelos autores.

 

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