Com extensa lista de problemas que vai desde muita poeira, fogo nos matagais, fuligem, enxurradas, alagamentos, falta de acessibilidade, acidentes e até assaltos planejados são enfrentados diariamente pelos moradores do Porto Galo, em Campo Grande. Na semana passada os moradores do local ganharam os holofotes, após protestarem na Câmara Municipal e conseguirem no grito que os vetos do prefeito Marcos Trad (PSD), a dois projetos de drenagem e um de asfalto, fossem derrubados. Agora a prefeitura terá que fazer as obras e assim garantir que as moradias não sejam mais invadidas pela água entre outros direitos que devem passar a ser garantidos com a melhoria da infraestrutura do local.
A reportagem do Correio do Estado foi conferir a situação do bairro, e cosntatou que os problemas são realmente graves. Ariovaldo Ribeiro de Oliveira, presidente da associação de moradores do Porto Galho - ou seu Ari, como é chamado pelos colegas do bairro -, contou uma série de situações complicadas e injustas que os moradores passam diariamente. Ele explica que a falta de fiscalização e de comprometimento dos governantes está prejudicando cada vez mais a região. “Não adianta trazer caminhões de cascalhos e jogar pela rua, porque na próxima chuva, esburaca e fica pior ainda. As pessoas aqui já cansaram de ver essas máquinas fazendo um trabalho repetido e que não soluciona o problema”.
O clima diferente na cidade, também traz problemas diferentes ao longo do ano. Com o tempo seco, poeira, fumaça e fuligem entram as casas diariamente. “Não tem condições. Fica tudo preto e cinza, com poeira”, conta Ari. O entorno das construções é repleto de matagais, ruas de terra esburacadas e com entulhos. Com o tempo seco, os matos pegam fogo e toda o bairro fica embaixo de fumaça misturada com poeira.
Já nos dias de chuva, outros problemas ainda maiores aparecem. “Não tem como andar na rua porque a enxurrada te leva lá pra baixo. Ela vai até o Guaicurus. Eles [governo] já fizeram contenções, mas não está segurando mais. Fica tudo alagado”. Ainda de acordo com o presidente da associação, as enxurradas arrastam o lixo das casas. “Meu vizinho da esquina fechou a mercearia dele por conta dessa situação. Toda chuva, o estabelecimento dele enchia de entulhos, sujeira, lixos, e ele tinha que pagar para um trator ir lá, e raspar os entulhos. Até que ele cansou e acabou desistindo do seu negócio”.
E quando chove, o alagamento passa de um metro. Ele reforça que o comércio ajuda a melhorar e desenvolver a região, e que até as crianças, quando vão pra escola sofrem pelo perigo das enxurradas. Existem outras questões, como a falta de creches. “Sabemos que falta creche aqui. Mas do que adianta ter creche e você não consegue levar seu filho por conta dos alagamentos?”.
Como as ruas não são asfaltadas, além das enxurradas, o local forma muita lama, e as enxurradas vêm carregadas de sujeiras de esgoto. “A tubulação de esgoto serve de drenagem. As pessoas não conseguem ficar nem dentro, nem fora das casas. Essa água suja da enxurrada junto ao esgoto, saí também dentro das casas, transborda dos vasos” Afirma Ari. Os moradores tentaram colocar uma válvula, que não resistiu. “Vem sujeira, aquela coisa podre, fica fedido. Mesmo que, lavando no dia que abre sol, o cheiro demora a sair. É injusto as pessoas viverem desse jeito”, lamenta.
Mais um problema enfrentado é a falta de acessibilidade. Há cadeirantes que moram no local, que não conseguem sair das casas, porque a cadeira não consegue passar, por conta das pedras, buracos, falta de calçadas e asfalto. A esposa de seu Ari, dona Geralda, 55 anos, complementa a fala do marido. “Por exemplo, a dona Helo é cadeirante. É muito complicado a mobilidade dela. Uma moça doente, que os familiares cuidam com tudo que podem, e quando ela passa mal, não tem jeito nem de entrar a ambulância do SAMU por conta dessa situação”.
Geralda conta a luta diária que é viver por ali. “Fomos para cima, a batalha, as lutas, não foram fáceis. Foram lutas constantes. As ambulâncias e Corpo de Bombeiros, por exemplo, não chegam até o local”. Juntamente a fala da esposa, seu Ari contou também que a casa de uma moradora pegou fogo, por conta de um raio que a atingiu, “O bombeiro não teve acesso pra conseguir passar, por causa dessa rua esburacada.”
Por fim, os pontos de ônibus ficam no meio do mato. Ari reforça que a cobrança é para todos. “Cobramos da prefeitura e dos moradores, para limpar a frente das casas, carpir os lotes, porque é comum, bandidos ficarem escondidos dentro desses matos altos, esperando o morador chega do serviço. É aquele transtorno”. Acidentes também são constantes pelas irregularidades das ruas, de acordo com o presidente. “Já aconteceu acidente, pessoas já morreram. Tem que continuar a morrer mais pessoas para eles fazerem alguma coisa?”, disse indignado.
As obras que os moradores almejam, não são só para o Porto Galo. Ari faz um apelo, por essa luta que já vem há cinco anos, e mostra que tem esperanças. “Agora esperamos esse retorno sensível, creio que ele vai assinar essa obra para nós, não tem como ele negar, não é uma coisa minha só, é todos que moram na cidade”.
DECISÃO
Os vereadores derrubaram, este mês, quatro vetos do Executivo às emendas apresentadas a projeto que vetava obras de drenagem e infraestrutura para o Porto Galo, que fica na região do Bairro Pioneiros. A solicitação foi assegurada pelo vereador Dr. Lívio (PSDB) ao apresentar suas emendas em 2019. “Recebemos várias imagens de ruas alagadas nos dias de chuva na região. Nossa solicitação para essa demanda foi vetada pelo prefeito, mas trabalhamos para que fosse incorporada ao orçamento deste ano”, ressaltou o vereador.
Em dezembro foi publicado no diário oficial as emenda e os orçamentos para a obra nas ruas Joana Dar’c e Gonçalves. “Participamos de audiências, dos orçamentos participativos, cobramos o executivo, fizemos nossa parte, chegamos até o prefeito, tivemos nossas reuniões com ele e expomos o problema”. Contudo, Ari afirma que o prefeito disse que a obra seria inadimplente, porque para conseguir o orçamento, merendas de escolas seriam cortadas.
“São coisas incabíveis. Isso não é um capricho. É uma necessidade, que vai servir para todo mundo. As pessoas têm que trabalhar, e não consegue sair de casa porque tá alagado. Não tem ônibus… Essa obra pode sanar vários problemas e ajudar muita gente”. Complementa o presidente, que termina afirmando. “Cansamos de ir atrás de político que promete e não faz”. Contudo, seu Ari tem esperanças. “Creio que o prefeito vai ser sensível conosco e vai assinar essa obra. O presidente da Câmara já veio aqui também, fizemos uma reunião com ele e com mais 200 pessoas”.
Sobre o início da obra, a prefeitura não informou o início ou prazo para realização da mesma. “Não temos previsão. Dependemos da liberação de recursos do Governo Federal”, disse o secretário municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep), Rudi Fiorense.