Pelo 15º dia consecutivo, manifestantes bolsonaristas lotam – em Campo Grande – a avenida Duque de Caxias para defender uma intervenção federal dos militares e impedir a posse do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nem mesmo o sol escaldante do início da tarde desta terça-feira (15) retirou o ânimo dos manifestantes que defendem a permanência de Jair Bolsonaro (PL) no poder.
O feriado da Proclamação da República possibilitou um maior engajamento de manifestantes que protestaram de forma pacífica, apesar das hostilidades verbais com a imprensa, reproduzindo o comportamento do presidente Jair Bolsonaro, que muitas vezes se irritou com perguntas de jornalistas em entrevistas coletivas.
Ao percorrer a avenida Duque de Caxias, principalmente nas proximidades do Comando Militar do Oeste (CMO), a equipe do Correio do Estado ouviu frases hostis do tipo “vê se escreve a matéria corretamente”, “vê se para de mentir para a população”. Houve ainda manifestantes bolsonaristas mais acalorados fazendo “convites” para a reportagem “descer do carro se tivesse coragem”. No entanto, as hostilidades não ultrapassaram as barreiras verbais.
Na avenida Duque de Caxias, o que se viu também foram canteiros lotados de veículos e – em determinados trechos – carros estacionados em fila dupla, a maior parte caminhonetes, embora também houvessem caminhões parados.
O trânsito estava lento, mas não houve paralisações ao tráfego de veículos. As ruas adjacentes à avenida Duque de Caxias ficaram lotadas de carros estacionados, com destaque para as ruas Lúdio Coelho, Joaquim Dornelas e avenida Presidente Vargas.
Todos os canteiros da avenida Duque de Caxias estavam ocupados por veículos. Famílias inteiras se reuniram para tomar tereré. O sol forte exigiu uma hidratação rigorosa.
A organização da manifestação se preocupou com este detalhe e não faltou água mineral. Pelas ruas, comerciantes aproveitaram o dia para vender bandeiras e – devido à proximidade da Copa do Mundo – não faltaram camisas da seleção brasileira, nas cores amarela, azul, verde e até preta no sentido de protestar contra o resultado das eleições.
Por todos os lados havia bandeiras do Brasil de papel colado a papelão na cor preta com a frase “Brazil was stolen”, que, em inglês, significa “o Brasil foi roubado”, em uma alusão direta à derrota de Jair Bolsonaro, que obteve 49,1% dos votos válidos, contra 50,9% de Lula.
Uma parte dos veículos, principalmente os mais próximos do CMO, estava sem placas. A trilha sonora dos manifestantes era composta pelos hinos do Brasil, da Bandeira, da Independência, hinos cristãos cantasdos em igrejas evangélicas e músicas alusivas ao Exército Brasileiro.
No trio elétrico, o que predominou foram os discursos afirmando que o resultado das eleições foi ilegítimo, além de acusações à imprensa. Líderes do movimento afirmaram – em alto e bom som – que a imprensa chama os militares brasileiros de fascistas e nazistas.
Manifestantes disseram, ainda, que os militares do Brasil foram à Segunda Guerra Mundial combater a tirania na Itália e Alemanha. Só não mencionaram que, na época, o Brasil vivia uma ditadura de extrema direita liderada por Getúlio Vargas e intitulada de “Estado Novo”, sem participação dos poderes legislativo nas esferas municipal, estadual e federal, ou seja, sem senadores, deputados federais, deputados estaduais e vereadores.
Um grupo de mulheres se organizou na avenida Afonso Pena, nas proximidades da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, para iniciar uma marcha até a avenida Duque de Caxias, finalizando em frente ao CMO.
O desfile ainda não havia começado quando a equipe de reportagem do Correio do Estado esteve no local, mas um grande número delas já estava se organizando no local. Algumas mulheres carregavam a foto – em formato de cartaz – do almirante Almir Garnier Santos, comandante da Marinha do Brasil, com a seguinte frase: “Nós, o povo, confiamos nas forças armadas”.