Uma semana após a inesperada decisão do governo chinês de desvalorizar sua moeda, o yuan, o pânico inicial dos mercados financeiros deu lugar à cautela. Permanece, porém, a preocupação de que a desaceleração da segunda economia do mundo é mais aguda do que se pensava.
Analistas voltaram a se perguntar se é hora de reduzir as projeções de crescimento global para este ano por conta de um enfraquecimento chinês mais acentuado. Apenas na última semana, a Bolsa de Xangai acumulou perdas de 11,5%.
Em relatório divulgado na terça (18), a agência de rating Moody's previu que o PIB mundial deve ficar estagnado neste ano, principalmente em consequência do esfriamento da economia chinesa.
A costumeira falta de transparência das autoridades chinesas deu margem a uma série de especulações sobre os motivos reais da mudança na política cambial de Pequim. Uma das mais frequentes foi de que seria uma forma de estimular o setor de exportações, um dos principais motores de seu crescimento econômico nas últimas décadas.
A opacidade também gerou rumores de que novas desvalorizações estariam a caminho, o que por enquanto não se concretizou.
"Não espero novas desvalorizações drásticas", disse à reportagem o economista Damien Ma, pesquisador do Instituto Paulson, em Washington. "O banco central [chinês] deixou claro que quer uma moeda estável e que a ação foi isolada. Toda essa narrativa de guerra cambial é um exagero".
Para ele, a mudança da política cambial para um regime mais flexível e sujeito às taxas do mercado, faz parte do desejo do governo chinês de ver o yuan integrado à cesta dos Direitos Especiais de Saque (SDR, na sigla em inglês), a "moeda" internacional do FMI, composta atualmente do dólar americano, do euro, da libra esterlina e do iene. O FMI decidirá sobre a inclusão do yuan à cesta em novembro.
David Dollar, ex-emissário do Tesouro americano para a China, acredita que há pessimismo excessivo em relação à economia chinesa e que não há motivos para duvidar que a meta de crescimento do PIB estabelecida por Pequim para este ano, em torno de 7%, será atingida.