OSCAR ROCHA
A cena é comum para muitos: há algo para ser feito, digamos, um relatório de trabalho. Aquele que será cobrado depois de um mês pelo chefe. Prazo definido, o empregado começa a adiar o início do trabalho. O tempo começa a ficar mais escasso, mas ele não começa a tarefa. Ao mesmo tempo, inicia um processo de autocobrança. Aparece a angústia. Em momento de lazer, não está totalmente entregue aos prazeres do instante, pois o tal relatório o assombra feito um fantasma. Somente estourando o prazo, às vezes, com uma advertância do chefe, entrega o que lhe foi pedido com antecedência. O caso descrito mostra muito bem o perfil do procrastinador. O que é isso? Simples: a pessoa que deixa para depois aquilo que pode fazer antes.
Longe de ser apenas um preguiçoso, o procrastinador é alguém que precisa de ajuda e necessita passar por acompanhamento especializado. “É uma alteração psicológica que pode ser consequência de algumas dificuldades: baixa estima, perfeccionismo, medo de errar, depressão, entre outros”, explica a psicóloga e pscodramatista Silvia Lopes Otácio.
Uma das consequênicas daqueles que passam pelo problema é o sentimento de culpa de não cumprir o objetivo. Muitas vezes, o quadro se instala ainda na fase de formação e adolescência, quando as exigências passam a ser constantes. Ao mesmo tempo, os pais precisam ficar atentos ao compartamento dos filhos. Falta de pontualidade e a não realização de tarefas, se não forem solucionadas podem trazer consequências. “Os pais precisam conversar com os filhos e buscar estabelecer metas. Assim, podem criar maneiras de eles terem parâmetros”.
Mas é na fase adulta que o problema pode ser detectado com mais precisão. Em muitos casos, os perfecionistas são aqueles que se encaixam no perfil do adepto da procrastinação. O medo de errar termina por conduzir ao adiamento da realização da tarefa.
Segundo pesquisa divulgada recentemente por especialista americano, o distúrbio pode ser classificado em tipos básicos: a criação do problema, comportamental e retardatório. A primeira surge quando alguém acha que poderá resolver o problema mais tarde, quando terá mais tempo. “Não consigo fazer nada antes de o prazo estourar, deixo tudo para a última hora. Já tive vários problemas por causa disso. O chato é ter que explicar ou pedir mais tempo para entregrar algum material”, explica um profissional da área da educação.
Ele reconhece que pode ter o problema, mas não procurou qualquer ajuda. “Muitas coisas que tenho que fazer são simples e não tenho dificuldade em realizar, mas, por causa dos atrasos, saem sem qualidade”, avalia. Ele se enquadra no perfil apresentado na pesquisa.
A procrastinação comportamental, o segundo tipo, é aquela que ocorre quando a pessoa faz listas, planos e planilhas e, mesmo assim, não segue nada do que planejou. O medo é uma das principais explicações para esse tipo de ato. São indivíduos que gostam mais de planejar do que de fazer. Os procrastinadores deste tipo são pessoas que não sabem quais são as suas prioridades e, dessa forma, adiam para não ter que lidar com o problema.
Por fim, aparece o retardatório, quando a pessoa começa a fazer várias coisas antes de cumprir um compromisso que tinha combinado anteriormente. Essas pessoas podem ter também tendências compulsivas – precisam se colocar sob pressão para conseguirem ser pontuais ou terminarem as ações que iniciaram.
Para a psicóloga Silvia Otácio, atualmente as empresas buscam profissionais proativos, que geralmente fazem algo na atualidade, buscando resultados imediatos e para outros períodos. “Os procrastinadores não se enquadram nesse perfil. No passado, até era possível disfarçar, mas hoje isso não acontece mais, a exigência do mercado é diferente”, aponta.