Com a proposta de um currículo flexível, que coloca em foco o interesse do aluno, o novo Ensino Médio já foi colocado em prática em 122 das 347 escolas da Rede Estadual de Ensino (REE) de Mato Grosso do Sul, cerca de 35%.
Na Escola Estadual Presidente Médici, em Naviraí, o novo currículo, atrelado ao ensino integral, resultou em uma taxa de aprovação de 98%. Além disso, os índices de evasão escolar foram zerados durante o ano letivo de 2021.
Aprovado ainda em 2017, o novo Ensino Médio deve ser implantado em todas as instituições de ensino públicas e particulares do Brasil no primeiro semestre letivo deste ano. Conforme a diretora da E. E. Presidente Médici, Sandra Passos, a instituição, que conta com 270 alunos, não enfrentou dificuldades para colocar em prática a nova grade curricular.
“Desde 2017 estamos em período integral. Iniciamos o novo currículo diferenciado sem um processo custoso de adaptação, pois os nossos alunos já participavam do projeto de vida, em que o autoconhecimento é abordado”, relatou.
De acordo com a Secretaria de Estado de Educação (SED), os dados de evasão escolar são bianuais. No último levantamento, de 2020, foi constatado que a REE registrou uma taxa de abandono inferior a 1%, menos de 2.100 alunos, considerando o total de 210 mil estudantes matriculados na época.
Em relação aos índices de aprovação, o Ensino Médio contou com 85,6% de aprovados no ano letivo de 2020. O Ensino Fundamental obteve 92,8% de aprovação no mesmo ano.
Segundo Sandra, após a implementação do ensino integral em conjunto com o novo Ensino Médio, a escola de Naviraí contou com 60% de aprovação dos estudantes em universidades públicas na avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Em relação ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), a Escola Estadual Presidente Médici obteve nota 4,9.
Entre as mudanças do novo Ensino Médio, os estudantes passam a ter a opção de se aprofundarem em cinco áreas de interesse ao longo dos três anos de ensino.
Conforme pesquisa realizada pela SED, pelo menos 34,7% dos 40 mil alunos que participaram do questionário escolheram como prioridade o Ensino Técnico.
Este é o caso da estudante Yasmin Ferreira da Silva, de 16 anos, que, ao ingressar no 1º ano do Ensino Médio neste ano, tem como objetivo a carreira militar. “Estou muito animada com a volta às aulas de forma presencial. Quero ser policial, e o novo currículo pode me ajudar”, disse.
De acordo com a diretora, o novo Ensino Médio deve mudar os rumos da educação no País.
“Acreditamos, sim, que este é o caminho a ser seguido, haja vista que agora os alunos possuem a base escolar assegurada e a possibilidade de aprofundamento na área de interesse. Só isso já faz com que eles queiram ficar na escola, para, por meio do projeto de vida, sonhar com a universidade e com o mercado de trabalho”, reiterou a diretora.
NOVO CURRÍCULO
Com o foco em um ensino menos engessado e com o aluno como protagonista de seu conhecimento, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) fará parte de 60% das matérias estudadas em sala de aula a partir deste ano.
Na prática, isso significa que o estudante terá flexibilidade para, ao longo dos três anos do Ensino Médio, fortalecer o seu projeto de vida por meio de cinco áreas de conhecimento, também chamadas de itinerários formativos: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas/Sociais e Formação Técnica/Profissional.
As disciplinas de Português e Matemática continuam obrigatórias para todos os estudantes, e, apesar de excluídas no texto original da medida provisória, as matérias de Educação Física, Artes, Filosofia e Sociologia vão permanecer na BNCC.
A base curricular nacional será formada pelos conteúdos das disciplinas tradicionais e obrigatórias do Ensino Médio, como História, Geografia, Biologia, Física, Química e Literatura.
O conteúdo foi aprovado no fim de 2018 pelo Conselho Nacional de Educação e, posteriormente, homologado pelo Ministério da Educação (MEC). Seu modelo é semelhante ao já praticado em países como Finlândia, Estados Unidos e Coreia do Sul.
Diferentemente de Mato Grosso do Sul, no País a implementação se dará em etapas. Neste ano, a mudança será somente nas turmas de 1º ano do Ensino Médio. Em 2023, serão contemplados os primeiros e os segundos anos e, em 2024, por fim, os terceiros anos também farão parte do novo formato.
CARGA HORÁRIA
A partir deste ano, as escolas públicas e particulares de todo o País terão de aumentar a carga horária do Ensino Médio de 800 horas para 1.000 horas anuais.
De maneira progressiva, a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) é de que, até 2024, 50% das escolas do Ensino Médio e 25% das instituições de Educação Básica sejam de tempo integral, com 1.400 horas, o equivalente a sete horas por dia dentro do ambiente escolar.
No entanto, conforme as diretrizes da BNCC, as instituições de Ensino Médio não poderão exceder 1.800 horas-aula por ano.
A partir dos resultados obtidos com a adaptação nas 122 escolas piloto em Mato Grosso do Sul, 100% da REE deve iniciar este ano letivo, no dia 3 de março, conforme o novo currículo definido pela BNCC.
“O interessante é que iniciamos o ano letivo de 2021 ainda no contexto não presencial, com as aulas remotas em razão da pandemia de Covid-19. A partir do próximo ano, todas as escolas estaduais que ofertam o Ensino Médio já vão trabalhar com o novo modelo de, no mínimo, 1.000 horas anuais de ensino por ano”, explicou o coordenador do Ensino Médio e Ensino Técnico da SED, Davi Oliveira dos Santos, ao Correio do Estado no dia 17 de dezembro.
Neste ano, 35 novas unidades devem implementar o programa Escola de Autoria, fazendo com que a maioria dos municípios de MS ofereçam aulas em tempo integral. De acordo com o governo do Estado, 54 dos 79 municípios contarão com a modalidade.
Serão oito novas cidades atendidas: Alcinópolis, Anaurilândia, Bonito, Dois Irmãos do Buriti, Iguatemi, Nioaque, Rio Brilhante e Douradina.
O salto será de 97 para 132 escolas em tempo integral, com 32 mil alunos atendidos no Ensino Fundamental e no Ensino Médio. De acordo com o calendário, as aulas na Rede Estadual de Ensino terão início em 3 de março, de forma presencial. Antes disso, em 17 de fevereiro, começa a jornada pedagógica com os profissionais da educação.
Base
As disciplinas de Português, Matemática, Artes, Filosofia e Sociologia continuam obrigatórias para todos os estudantes do novo Ensino Médio, conforme a Base Nacional Comum Curricular.