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SAÚDE

Especialistas discutem desafios para vencer fake news sobre vacinação

Ataque à credibilidade da imunização fornecida pelo serviço público preocupa especialistas

AGÊNCIA BRASIL

01/09/2019 - 20h00
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Nas mais de 100 notícias falsas desmentidas pelo Ministério da Saúde em um ano de combate a fake news e boatos que circulam na internet, as vacinas se destacam como um dos principais assuntos. O ataque à credibilidade da imunização fornecida pelo serviço público preocupa especialistas e será o principal tema discutido na Jornada Nacional de Imunização, entre os dias 4 e 7 de setembro, em Fortaleza, no Ceará. 

Em um balanço divulgado no último dia 27, o Ministério da Saúde revelou que respondeu 11,5 mil dúvidas recebidas no Whatsapp (61) 99289-4640, número criado exclusivamente para verificar se informações que circulam nas redes sociais são verdadeiras. Entre vídeos, textos e imagens, os conteúdos incluem relatos sem provas, pesquisas científicas derrubadas há décadas e argumentos sem fundamentação sobre falsos efeitos colaterais das vacinas. Uma das mensagens que viralizou no Whatsapp chega a afirmar que a vacina para gripe causa "buraco no braço" e outra retoma a já amplamente desmentida relação entre vacinas e autismo.

A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabela Balalai, conta que a jornada receberá especialistas brasileiros, representantes de outros países e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). A médica aponta a facilidade de disseminação de informações e a descrença da população nas instituições como o cenário que estimula o agravamento do problema.

"É preciso que a gente esteja atento. A gente precisa entender que o trote virou uma coisa fácil. Antigamente, você pegava o telefone, fazia uma brincadeira, dava um trote na pessoa que estava atendendo, e isso acabava ali. Agora, isso se espalha com uma facilidade enorme", diz a médica. "O problema hoje não é o antivacinismo. O antivacinismo é muito pequeno ainda na América Latina e no Brasil. A gente tem, sim, boatos e fake news, mas isso é em todas as áreas".

Epidemiologista da Fundação Getúlio Vargas, Claudio Struchiner acredita que a volta da incidência de doenças como o sarampo pode estar relacionada ao impacto de informações falsas que circulam nas redes sociais sobre vacinas.

"Quando se pergunta porque essas coberturas vacinais não conseguem atingir os níveis que eram atingidos no passado, começam a surgir uma série de hipóteses, e, entre elas, a difusão de notícias falsas de várias naturezas", diz ele, que lembra que o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a ser, no passado, um dos que disseminou informações desmentidas de que múltiplas aplicações de vacinas poderiam estar relacionadas a casos de autismo. Depois de eleito, Trump não voltou a fazer essas afirmações, mas a informação continua a se espalhar e foi uma das que o Ministério da Saúde desmentiu ao longo do último ano.

Boato ou Fake News?

As mensagens com informações falsas sobre vacinas que circulam nas redes sociais têm vários formatos. Professor e pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz), Igor Sacramento explica que é importante separar os boatos das fake news propriamente ditas, que são textos que simulam as técnicas jornalísticas para apresentar informações falsas com aparência de credibilidade e enganar os leitores. Já os boatos costumam ser relatos anônimos, que circulam sem assinatura e contam supostas experiências pessoais de formas enviesadas, levantando suspeitas e conclusões sem fundamento. 

Quando as pessoas recebem essas mensagens enviadas por amigos, familiares ou outros conhecidos próximos, elas ganham mais credibilidade. "Tem uma questão que é da intimidade. A confiança no contexto contemporâneo tem muito a ver com intimidade. Se eu recebo uma informação de Whatsapp de um amigo, de um parente, isso tem um valor maior do que a informação científica, do que o site do Ministério da Saúde ou da Fiocruz", diz o pesquisador. Ele aponta que uma estratégia eficaz para dar credibilidade à imunização já utilizada no Brasil foi mostrar autoridades se vacinando, como foi feito no contexto de combate aos boatos contra a vacina de gripe. "Depois disso, a gente percebeu um aumento muito grande nas taxas de vacinação. É a questão da experiência. Não adianta o ministro falar sobre vacina. Teve que ir lá, pegar o braço dele, e ele se vacinar em rede nacional".  

Notícias velhas como as relacionadas à pesquisa de 1998, que ligava vacinas ao autismo, são outra forma de induzir a enganos, já que quem as lê desconhece que a pesquisa escrita sobre o tema foi contestada, derrubada e removida da revista científica que as publicou.

"Em alguns casos, a notícia não é totalmente fake, mas tem problemas de apuração e em como a matéria foi feita", diz o pesquisador. Ele diz que concorda que há uma crise de credibilidade de instituições como o Estado, a ciência e o jornalismo, que cria o cenário ideal para a difusão desses conteúdos falsos.

Além da falta de informação e da desconfiança, Igor Sacramento afirma que há um movimento organizado antivacinas, que no Brasil assume características próprias. Enquanto em países europeus militantes antivacinas estão mais munidos de críticas à indústria farmacêutica e à mercantilização da saúde, descreve ele, no Brasil há um entrelaçamento dessas ideias com uma revolta contra o Estado e a corrupção, além de elementos religiosos.

"Na minha pesquisa, em centros de saúde no Rio de Janeiro, era muito comum pessoas me dizerem que pastores diziam para não se vacinar, para acreditar em Deus e orar. Isso me preocupou muito", conta Igor, que defende que é preciso ouvir esses relatos sem preconceito, inclusive para encontrar formas de realizar campanhas de vacinação com líderes evangélicos. "Esses pastores precisam se tornar líderes de opinião para o SUS, e não contra o SUS. Líderes carismáticos conseguem mobilizar massas. É preciso criar estratégias de comunicação articuladas com esses locais também, e não dizer que eles são ignorantes. Esse é o maior erro". 

Como os locais de circulação das notícias falsas são principalmente as redes sociais, o pesquisador defende que esses espaços sejam ocupados por informações qualificadas e corretas, produzidas de forma que possam viralizar como as fake news. "É fundamental ter armas pra isso, ter investimento em pessoal e tecnologia para poder criar conteúdo. É fundamental que a gente aprenda a fazer algo viralizar", alerta ele. 

O pesquisador pondera que é preciso considerar que apesar do acesso ao Whatsapp, muitos brasileiros ainda estão limitados por pacotes de internet e celulares com configurações restritas. "É muito comum que as pessoas compartilhem conteúdo sem poder abrir, porque não têm crédito suficiente".

OITO DE JANEIRO

Moraes vota para condenar mulher que pichou "Perdeu, mané" no STF

Decisão estabelece pena de 14 anos de prisão em regime fechado

21/03/2025 20h00

Pichação feita na estátua da Justiça, localizada na frente do STF

Pichação feita na estátua da Justiça, localizada na frente do STF Foto: Joedson Alves/Agência Brasil

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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou nesta sexta-feira (21) para condenar Débora Rodrigues dos Santos a 14 anos de prisão em regime fechado. Débora está presa pela acusação de participação nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

Ela também foi acusada de pichar a frase "Perdeu, mané" na estátua da Justiça, localizada em frente ao STF, durante os atos.

A frase foi dita pelo presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, em novembro de 2022, após ser importunado por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro durante um evento em Nova York, nos Estados Unidos.

O voto de Moraes, que é relator do caso, foi proferido no julgamento virtual no qual a Primeira Turma da Corte julga a ação penal contra a acusada, que responde pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa armada.

"A ré Debora Rodrigues dos Santos confessadamente adentrou à Praça dos Três Poderes e vandalizou a escultura “A Justiça”, de Alfredo Ceschiatti, mesmo com todo cenário de depredação que se encontrava o espaço público", escreveu o ministro.

O julgamento virtual vai até sexta-feira (28). Faltam os votos dos ministros Cristiano Zanin, Flávio Dino, Luiz Fux e Cármen Lúcia.

Defesa

Em nota enviada à Agência Brasil, os advogados Hélio Júnior e Tanieli Telles afirmaram que receberam o voto de Alexandre de Moraes com "profunda consternação". Segundo a defesa, o voto pela condenação a 14 anos de prisão é um "marco vergonhoso na história do Judiciário brasileiro".

Os advogados também afirmaram que Débora nunca teve envolvimento com crimes e classificaram o julgamento como "político". 

"Condenar Débora Rodrigues por associação armada apenas por ter passado batom em uma estátua não é apenas um erro jurídico – é pura perversidade. Em nenhum momento ficou demonstrado que Débora tenha praticado atos violentos, participado de uma organização criminosa ou cometido qualquer conduta que pudesse justificar uma pena tão severa", diz a defesa.

*Com informações da Agência Brasil

Liberdade religiosa

Justiça autoriza evento evangélico, cancelado pelo prefeito "Mais louco do Brasil"

O "Desperta Ivinhema para Cristo", que teve a licença suspensa pela prefeitura do município, conseguiu uma liminar que viabilizou o encontro religioso

21/03/2025 18h15

Divulgação Freepik

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Um evento religioso, devidamente alinhado para ocorrer entre os dias 28 de fevereiro e 4 de março, terminou sendo cancelado pela prefeitura de Ivinhema sob a justificativa de “conveniência e interesse público”.

O evento “Desperta Ivinhema para Cristo”, da Igreja Assembleia de Deus, cumpriu todos os requisitos requeridos e conseguiu, no dia 25 de fevereiro, a autorização do Setor de Tributação do município.

No entanto, conforme o defensor público Seme Mattar Neto, titular da 1ª DPE de Ivinhema, três dias depois, em 28 de fevereiro, a autorização foi suspensa pelo Executivo Municipal.

“A autorização foi revogada por determinação do prefeito, sob a justificativa genérica de ‘conveniência e interesse público’”, explicou o defensor.

Com o cancelamento por parte do município, o organizador procurou a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, que entrou com uma ação apontando que a negativa ia contra direitos fundamentais, como a liberdade religiosa e o direito de reunião, ambos assegurados pela Constituição Federal.

Diante dos fatos, o Judiciário entendeu que o ato de revogar a licença era ilegal e concedeu uma liminar autorizando a realização do “Desperta Ivinhema para Cristo”.

O defensor ainda explicou que a revogação de um ato administrativo já concedido deve estar amparada em justificativas concretas e fundamentadas.

“A anulação de uma autorização não pode se basear em expressões vagas ou subjetivas, sem a devida exposição clara e objetiva das razões que demonstrem um interesse público real na anulação do ato. O princípio da motivação impõe que toda decisão administrativa seja transparente e coerente, prevenindo arbitrariedades e garantindo a segurança jurídica dos cidadãos", afirmou o defensor e completou:

"Além disso, a revogação tardia da autorização, feita no mesmo dia em que o evento teria início, configura uma afronta direta aos princípios da segurança jurídica e da boa-fé administrativa. Isso porque o organizador, confiando na autorização concedida pelo próprio município, já havia investido recursos, firmado contratos para a prestação de serviços e iniciado a montagem da infraestrutura necessária para a realização da programação religiosa”.

O que diz a comunidade

A reportagem entrou em contato com o pastor Roberto da Silva, presidente da igreja Assembleia de Deus em Ivinhema, que explicou que, apesar de o evento não ser oficial da igreja, mas sim de um membro, a prefeitura não pode cancelá-lo sem uma justificativa embasada.

“Não temos nada contra a realização do evento, pois entendemos que é uma iniciativa boa. Entendemos ainda que todo evento realizado para a sociedade deve atender a todos os requisitos de segurança, tanto de estrutura quanto de organização. Ainda que seja um evento de cunho religioso, não podemos deixar de observar itens de segurança, que são de extrema necessidade”, disse o pastor, e completou:

“Quanto à Defensoria conceder a liminar para que o evento acontecesse, acredito que os itens de segurança foram observados. É claro que a Prefeitura Municipal de Ivinhema não pode, de ofício, impedir um evento de cunho religioso simplesmente por impedir; deve, claramente, expor justificativas técnicas que fundamentem a decisão. Nesse aspecto, a Defensoria acertou em sua decisão.”

O pastor ainda reforçou que o Executivo da cidade sempre apoiou eventos; no entanto, acredita que poderia olhar com mais atenção para o segmento religioso, que, em suas palavras, “sempre é dosado” em comparação com outros de interesse popular.

“Poderia haver mais equilíbrio. A propósito, esse olhar para eventos religiosos não ocorre apenas aqui, mas também em outros municípios. Vale lembrar que, em média, de 35% a 40% da população de cada município é composta por evangélicos, e isso, às vezes, não recebe a devida consideração”, pontuou o pastor.

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