Cidades

Investigação

Esposa de ex-vereador teve corpo queimado e pode ter sido estuprada

Cristóvão Silveira, 65 anos, teve o rosto desfigurado por golpes de facão

VÂNYA SANTOS

19/07/2017 - 10h11
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Investigadores apuram se Fátima de Jesus Diniz Silveira, 56 anos, esposa do ex-vereador Cristóvão Silveira, de 65 anos, foi estuprada antes ou depois de ser morta. Ela teve o corpo queimado e foi encontrada seminua.Caseiro e filhos são apontados como autores da ação criminosa, que resultou na morte do casal.

Duplo assassinato aconteceu no Sítio Bem Te Vi, de propriedade das vítimas, localizado no km 24 da MS-080, na região do Distrito de Aguão, em Campo Grande.

Ação dos criminosos teve início por volta das 16h de ontem e terminou às 18h. Polícia descobriu cerca de duas horas depois.

No sítio existem quatro imóveis, sendo um ocupado pelas vítimas, um onde mora o caseiro com a esposa cadeirante a filha de 13 anos, um onde são armazenados ferramentas e sacos de ração e, por fim, outro desocupada. Crime aconteceu no imóvel utilizado como depósito.

Fátima estava com a calça abaixada na altura dos pés, vestia apenas calcinha e uma blusa. Ela teve o corpo queimado, em seu pescoço havia um corte profundo e a suspeita é de que tenha sido estuprada pelos marginais.

No cômodo ao lado, foi encontrado o corpo do ex-vereador. Ele estava com vários cortes provocados por facão e teve o rosto desfigurado. Silveira foi escalpelado – teve o couro cabeludo arrancado- e os dedos da mão decepados, provavelmente, ao tentar se defender dos golpes.

Depois de praticar o crime, caseiro e filhos entraram na residência do casal e, em seguida, subtraíram caminhonete Mitsubishi L200 das vítimas, televisor, duas armas de fogo, sendo uma arma longa e um revólver.

Foram encontradas manchas de sangue em todos os imóveis do sítio, no quintal entre as casas e na cerca de alambrado, próximo a um riacho.

No local foram coletadas amostras de sangue e apreendida uma botina com corte e ensanguentada, que pode ter sido utilizada pelo caseiro durante os assassinatos.

Ação dos bandidos está sendo investigada como roubo se da violência resulta morte, associação criminosa e estupro.

CASO VANESSA RICARTE

Riedel discute medidas mais eficazes no combate à violência contra mulher

Reunião ocorre após o feminicídio da jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, assassinada a facadas pelo noivo

17/02/2025 08h55

Reunião reuniu Riedel e diversas autoridades do primeiro escalão na noite de domingo (16)

Reunião reuniu Riedel e diversas autoridades do primeiro escalão na noite de domingo (16) Foto: Bruno Rezende

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Governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), se reuniu com o alto escalão de sua gestão para discutir medidas mais eficazes no combate à violência contra mulher, na noite deste domingo (16), na sede da Governadoria, localizada no Parque dos Poderes, em Campo Grande.

A reunião ocorre após o feminicídio da jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, assassinada a facadas pelo noivo, na tarde desta quarta-feira (12), no bairro São Francisco, em Campo Grande.

Reunião reuniu Riedel e diversas autoridades do primeiro escalão na noite de domingo (16)Jornalista Vanessa Ricarte, de 42 Anos, assassinada pelo noivo. Foto: Instagram

Horas antes de morrer, Vanessa solicitou medida protetiva contra o autor na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM). Em seguida, voltou para casa e foi morta com golpes de faca.

De acordo com o Ministério das Mulheres, o percurso de Vanessa até sua casa não poderia ter ocorrido sem a escolta da Patrulha Maria da Penha, segundo o protocolo de avaliação de risco para mulheres em situação de violência e que orienta o atendimento na Casa da Mulher Brasileira.

O feminicídio escancara uma série de falhas do poder público de Mato Grosso do Sul no enfrentamento da violência contra mulher, mostrando que medidas precisam ser tomadas e o modelo de atendimento à mulher vítima de violência precisa ser reformulado.

Na reunião, foram discutidos como será o trabalho integrado para fortalecer a rede de proteção à mulher vítima de violência e mudar a estrutura do modelo atual. Po enquanto, soluções ainda não foram apresentadas, mas serão divulgadas nos próximos dias.

O objetivo da reunião é apresentar soluções mais eficazes no combate à violência, fortalecer a rede de proteção e apoio à mulher e reestruturar o atual modelo que presta atendimento às mulheres.

Participaram da reunião

  • Secretário de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira
  • Secretária de Assistência Social e Direitos Humanos, Patrícia Cozzolino
  • Secretária de Cidadania, Viviane Luiza
  • Secretário de Governo e Gestão Estratégica, Rodrigo Perez
  • Subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres, Manuela Bailosa
  • Delegado-geral a Polícia Civil, Lupérsio Degerone
  • Presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, desembargador Dorival Renato Pavan
  • Líder da campanha #TodasPorElas, desembargadora Jaceguara Dantas Da Silva
  • Procurador-geral de Justiça, Romão Avilla Milhan Junior

De acordo com o governador, o atual modelo que tem se mostrado falho, pois, feminicídios e tentativas de feminicídio continuam ocorrendo.

‘Se o modelo posto não tem gerado o resultado esperado, a gente tem que mudar o modelo. A gente não tem tido o êxito necessário, pois os casos [de feminicídio e tentativa de feminicídio] continuam acontecendo. Essa é minha angustia e demanda para que todos se mobilizem em torno de ações concretas, que gerem resultado e barre esse tipo de ação com a frequência que tem tido dentro de Mato Grosso do Sul. Importante registrar que as instituições estão mobilizadas, e esse é o primeiro passo, todos convergentes em uma mesma ação para que consigamos em um curto prazo fazer diferente”, ressaltou o governador.

O ASSASSINATO

Jornalista, Vanessa Ricarte, de 42 anos morreu esfaqueada pelo noivo, Caio Nascimento, de 47 anos, em 12 de fevereiro de 2025, no Jardim São Bento, em Campo Grande.

Ela foi socorrida e encaminhada ao Hospital Santa Casa, passou por cirurgia, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu. A morte foi confirmada por amigos em um grupo de jornalistas do WhatsApp às 23h55min de quarta-feira (12).

Caio está preso na DEAM.

Eles namoravam há 4 meses e moravam juntos. Ele tem passagens pela polícia por roubo, tentativa de suicídio, ameaça e violência doméstica contra a mãe, irmã e outras namoradas.

A jornalista morreu quatro dias antes de seu aniversário. Ela era assessora de imprensa do Ministério Público do Trabalho (MPT) e se formou em jornalismo pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Mato Grosso do Sul

Mau atendimento da Delegacia da Mulher foi informado à Sejusp há quase 2 anos

Ofício com revelações similares às feitas pela jornalista Vanessa Ricarte horas antes de ela morrer assassinada foi enviado à secretaria em 2023

17/02/2025 05h55

Delegacia da Mulher de Campo Grande, em parede com o distintivo da Polícia Civil, cujo lema é

Delegacia da Mulher de Campo Grande, em parede com o distintivo da Polícia Civil, cujo lema é "servir e proteger", atos que estão sendo questionados pelas vítimas de violência doméstica Gerson Oliveira

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Parte das negligências no atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica que vieram a público após a divulgação de um áudio da jornalista Vanessa Ricarte – enviado a uma amiga horas antes de ela ser morta pelo noivo, Caio Nascimento, 35 anos – foi informada há quase dois anos por um grupo composto por mulheres que já precisaram da proteção garantida pela Lei Maria da Penha e agora ajudam as vítimas de agressões.

Um documento endereçado ao titular da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Antônio Carlos Videira, em 23 de março de 2023 e redigido pelo Fórum Permanente pela Vida de Mulheres e Crianças de MS (MCria) – e que o Correio do Estado teve acesso – afirmava que, já naquela época, as mulheres agredidas por seus companheiros também eram vítimas de maus-tratos na delegacia, uma vez que eram submetidas por questionamentos excessivos por parte dos agentes da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam).

“Na Casa da Mulher Brasileira, sediada em Campo Grande, está havendo a revitimização das mulheres que procuram o serviço da Deam”, diz o texto.

O mesmo ofício endereçado a Videira denunciava que, na época, os servidores da Polícia Civil – cujo lema  do distintivo é “servir e proteger” – e outros atendentes da Casa da Mulher Brasileira tentavam fazer com que as vítimas desistissem de registrar  a ocorrência.

“As mulheres, antes de registrarem o boletim de ocorrência [B.O.], são alertadas: ‘[Façam isso] se querem mesmo destruir a vida do ofensor e acabar com a sua família’”, cita o MCria.

Outra frase proferida pelos servidores da Deam e descrita no ofício enviado ao secretário era “se ele [agressor] for preso, quem vai pagar a pensão alimentícia para o seu filho?”.

“Muitas [mulheres] desistem nesse momento de registrar a ocorrência, diante da insistência em dissuadi-las. Para as que persistem, o registro do B.O. demora, em média, sete horas”, acrescenta o documento.

Delegacia da Mulher de Campo Grande, em parede com o distintivo da Polícia Civil, cujo lema é "servir e proteger", atos que estão sendo questionados pelas vítimas de violência domésticaTrecho do ofício do MCria endereçado à Sejusp

O material ainda informa ao titular da Sejusp que o Instituto de Medicina e Odontologia Legal (Imol) ficava a mais de 10 km da Casa da Mulher Brasileira – o que prejudicava na época o atendimento às vítimas – e ainda denuncia que algumas das delegadas em serviço, além de não atenderem as vítimas, nem sequer atendiam seus advogados.

Esse mesmo documento também relata vários problemas relacionados ao atendimento das crianças vítimas de violência doméstica. Na época, ainda havia a comoção popular pelo assassinato da pequena Sophia de Jesus O’Campo, de 2 anos, morta pelo próprio padastro, Christian Campoçano Leitheim, com a cumplicidade da mãe, Stephanie de Jesus Silva.

O casal foi condenado no ano passado pelo Poder Judiciário, mas o governo do Estado não deu publicidade ao resultado dos procedimentos internos que apuraram a negligência no atendimento ao pai de Sophia, o qual por várias vezes denunciou os maus-tratos e não foi bem acolhido na delegacia.

NEGLIGÊNCIA

Em entrevista ao Correio do Estado, a coordenadora do MCria, Ceureci Fátima Santiago Ramos, afirmou que os problemas denunciados há quase dois anos na Casa da Mulher Brasileira permanecem.

“Eles continuam duvidando da vítima. Eu passei por tudo isso que elas passam. E eu sei disso porque hoje, no MCria, acompanho diariamente as vítimas que nos procuram”, frisou Ceureci, coautora do documento de 2023.

“Em muitos casos, eu faço as vítimas de violência doméstica voltarem à delegacia, porque o que é informado no B.O. está errado. Elas [vítimas] relatam uma coisa e o escrivão, às vezes, relata o que bem entende”, contou.

A ativista ainda acrescentou:

“Certa ocasião, recebi aqui uma mulher com a língua cortada, quase decepada, e no boletim de ocorrência estava escrito vias de fato. Eu voltei com a vítima e conseguimos alterar o boletim para lesão corporal grave e dolosa”, relatou.

Sobre o caso de Vanessa, em que não houve oferta do serviço de escolta ou de retirada de pertences, Ceureci pontuou que isso é mais um dos defeitos no protocolo de proteção à mulher vítima de violência doméstica.

GUARDA MUNICIPAL

Quem faz a retirada dos pertences é a Guarda Civil Metropolitana de Campo Grande (GCM), porém, na maioria dos casos, depois que o pedido é realizado, a escolta para que a mulher volte ao lar onde o agressor está leva no mínimo cinco dias.

“Às vezes, a gente mesmo, no MCria, solicita à GCM a retirada dos pertences. E é um problema, porque a resposta que recebemos  é de que a instituição não tem muitas viaturas e que o agendamento é sempre para uma data distante do dia do registro do B.O.”, explicou Ceureci.

“O que posso dizer é que demora. Quando é um caso de pedido de retirada de pertences, em que se tem urgência, a espera é de 5 a 10 dias. Quando não há urgência, leva de 30 a 40 dias”, acrescentou a coordenadora do MCria.

No ano passado, a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), comemorou a chegada de uma verba federal de aproximadamente R$ 800 mil para a compra de viaturas para a Patrulha da Maria da Penha, responsável pela escolta das vítimas. O sistema falhou no caso de Vanessa, que foi assassinada em sua casa pelo noivo justamente horas depois de deixar a Casa da Mulher Brasileira com uma medida protetiva em mãos.

“Estou indo com o [cita o nome de um amigo cuja identidade será preservada] na delegacia. Vou chegar com a polícia para tirar ele [Caio Nascimento, seu noivo] de dentro de casa”, disse Vanessa em um áudio enviado a uma amiga e que foi tornado público na sexta-feira.

Em um outro áudio, em tom de desabafo, a vítima se queixou que a delegada da Deam não quis lhe informar nada do histórico de Caio, que tinha até então 13 passagens por agressão – de ex-mulheres até a própria mãe e irmã.

“Está explicado porque não aconteceu nada com o Caio”, falou Vanessa horas antes de ter sido esfaqueada pelo noivo. 

Ela também reclamou do atendimento que teve na repartição pública que deveria ter acionado o protocolo para protegê-la.

“Eu estou bem impactada com o atendimento da Casa da Mulher Brasileira. Assim, sabe? [Se] eu, que tenho toda a instrução, a escolaridade, fui tratada dessa maneira, imagina uma mulher mais vulnerável, pobrezinha, chegar lá toda vulnerável, sem ter uma rede apoio nenhuma? Essas que são mortas, né? Essas que vão para a estatística de feminicídio?”, indagou à amiga. Horas mais tarde, Vanessa foi esfaqueada.

MINISTRA, PREFEITA E GOVERNADOR

Se a Casa da Mulher Brasileira é tripartite, com atribuições da União, do Estado e do município, representantes desses três entes federativos vão se reunir nesta semana, na Capital, para tratar dessas falhas de proteção às vítimas – avisadas há dois anos pelo MCria e que ficaram expostas com o assassinato de Vanessa.

Nesta terça-feira (18), a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, participará de reuniões sobre o atendimento a vítimas de violência doméstica e terá reuniões com o governador Eduardo Riedel (PSDB), com a prefeita Adriane Lopes e com dois representantes do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) – desembargadores Dorival Renato Pavan e Ruy Celso Barbosa Florence, no caso.

No fim de semana, uma equipe do Ministério das Mulheres desembarcou em Campo Grande para se reunir com o colegiado gestor da Casa da Mulher Brasileira. Fazem parte desse grupo ministerial a diretora de Proteção de Direitos, Pagu Rodrigues, a chefe de gabinete da ministra, Katia Guimarães, e Graziele Carra Dias, representando a Ouvidoria da Pasta.

O principal motivo da vinda dessa comitiva para a Capital é dialogar com representantes da rede de atendimento de Campo Grande sobre os serviços prestados no atendimento a mulheres vítimas de violência que buscam ajuda e apoio na Casa da Mulher Brasileira.

DELEGADOS REAGEM

A Associação dos Delegados de Polícia Civil de Mato Grosso do Sul (Adepol-MS) continua insistindo na versão de que os agentes fizeram a sua parte ao oferecer abrigo a Vanessa na Casa da Mulher Brasileira – o que, segundo os oficiais, teria sido recusado por ela.

Nenhum documento nem gravação comprovando a recusa da vítima do serviço oferecido foi apresentado até o momento. O que existe são áudios em que ela narra a expectativa de uma escolta policial.

“A Polícia Civil, por intermédio da Deam, ofereceu todas as orientações e todas as medidas existentes para a tutela da segurança e da vida da vítima”, afirmou a Adepol-MS, por meio de nota.

“[Foi] seguido todo o protocolo operacional existente até então, inclusive com a orientação de a vítima não voltar para a sua residência e permanecer no alojamento da Casa da Mulher Brasileira, sugestão que não foi aceita pela vítima”, complementou a associação.

As alegações presentes na nota da Adepol-MS serão apuradas em um processo administrativo disciplinar da corporação policial. Não há informações se esse processo será escrutinado por outro órgão governamental e se o resultado da investigação, ao fim dela, será tornado público.

A equipe de reportagem do Correio do Estado procurou o titular da Sejusp para um pronunciamento da Pasta. Até o fechamento desta edição, porém, não houve nenhum retorno.

Delegacia da Mulher de Campo Grande, em parede com o distintivo da Polícia Civil, cujo lema é "servir e proteger", atos que estão sendo questionados pelas vítimas de violência domésticaVanessa Ricarte, jornalista assassinada pelo noivo na semana passada

 

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