Mato Grosso do Sul chegou a 3 mil casos confirmados do novo coronavírus nesta sexta-feira (12), de acordo com dados do boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES). Entretanto, esse número pode ser ainda maior, já que 2,5 mil exames ainda não tiveram resolução no banco de dados da pasta. As secretarias municipais são responsáveis por cadastrar a positividade ou não dos pacientes no e-SUS Vigilância Epidemiológica (e-SUS VE), sistema do Ministério da Saúde, mesmo que os exames sejam feitos pelo Laboratório Central de Mato Grosso do Sul (Lacen-MS), que é ligado ao Governo do Estado.
De acordo com o diretor-geral do Lacen, farmacêutico-bioquímico Luiz Henrique Ferraz Demarchi, quando as amostras chegam no local, elas passam por vários processos antes de serem testadas para a doença, como a checagem de informações repassadas pelas secretarias para que não haja incongruências nos dados.
“Fazemos a triagem dos dados e depois a análise da amostra e o resultado é inserido no sistema GAL (Gerenciador de Ambiente Laboratorial), que é online, então a Vigilância Sanitária do Estado comunica a municipal sobre esses dados”, explicou. Dos 2,5 mil exames ainda sem finalização, apenas
Entretanto, esse resultado só entra no sistema usado para informar o caso quando os municípios cadastram as informações desses exames em outra plataforma, que é a e-SUS VE, que faz parte dos protocolos do Ministério da Saúde para a notificação dos casos leves de síndrome gripal e de registro de casos suspeitos e confirmados do novo coronavírus.
É justamente entre o resultado do exame para o cadastro neste sistema que há uma demora, segundo o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende. “Estamos vendo uma infinidade de casos em abertos, muitos em Dourados e estamos cobrando dos municípios que encerrem eles. Para isso, colocamos funcionários o Corpo de Bombeiros para ajudar a encerrar os casos para que traga os dados mais próximos do dia”.
No último boletim da SES, dos 2,5 mil casos em aberto, 1,2 mil eram de Dourados, cidade que tem o maior número de confirmações pela doença em Mato Grosso do Sul, 899 até ontem, dia que registrou mais 50 positivos do novo coronavírus. Em Campo Grande, que tem 608 confirmados da Covid-19, há 462 casos no sistema ainda esperando confirmação. Para o secretário municipal de Saúde, José Mauro de Castro Filho, esse número é natural, já que a cidade faz, em média, 300 testes por dia da doença.
“Nós aumentamos os locais de testes, temos o Polo do Ayrton Senna, as barreiras sanitárias, além do drive thru, então é há uma logística natural. E também, nos últimos dias, houve uma demora um pouco maior nas confirmações de Lacen-MS, até por conta do aumento na demanda”, afirma Castro.
Dos 2,5 mil exames ainda sem finalização no sistema, apenas 639 estavam com o Lacen-MS para uma resposta. A maior parte, 1.861 estavam com os municípios aguardando cadastro no sistema do Ministério da Saúde. Porém, o diretor-geral do Laboratório confirmou que com a carga maior de amostras, o processamento está com um tempo maior de espera. “A gente estava trabalhando com 48 horas (para entregar o resultado) a partir do momento que entra a amostra, mas como demanda aumentou muito, estamos demorando 72 horas, podendo ser que leve até mais tempo. Houve casos de amostras atrasadas porque estamos priorizando amostras de óbito, internados, casos graves”, explicou Demarchi.
O Laboratório trabalha com um terço dos funcionários processando informações apenas de casos de Covid-19. Segundo o diretor-geral, são cerca de 30 pessoas trabalhando em escala de plantão, diariamente, para analisar aproximadamente 500 exames. O Lacen-MS funciona 24 horas.
Para o infectologista Rivaldo Venâncio, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), essa demora na apresentação dos dados diários pode prejudicar também os infectados.
“Se você não tem uma informação atualizada e quase em tempo real é ruim porque corre o risco de a pessoa que adoeceu demorar para receber esse resultado também. Pode ser que seja uma cadeia de demora, não seja somente relacionada com os meios de divulgação, pode estar atingindo todos, desde o doente, aos profissionais de saúde, até a família que poderia tomar medidas de isolamento, ou suspendes caso dê negativo”, avalia.
O pesquisador também lembra que esses dados são usados para tomar as medidas preventivas por parte das administrações. “São usados para saber se tenho que priorizar ação de reforço de profissional de saúde. Como que vou definir para que localidade mandar se não sei onde está precisando?”, questionou.