Cidades

TURN OFF

Estado renova contrato milionário com pivô de escândalo de corrupção

Empresa Isomed, cujos proprietários chegaram a ser detidos em novembro de 2023, prestará serviço de diagnósticos médicos por mais um ano

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Quase 15 meses depois da operação Turn Off, que revelou um suposto esquema de corrupção em órgãos públicos estaduais e até na Apae, o Governo do Estado renovou e reajustou um contrato de prestação de serviços com a empresa Isomed Diagnósticos, que com isso vai receber R$ 11,7 milhões por ano. 

Conforme publicação do diário oficial desta segunda-feira (17), o contrato com a Isomed recebeu um aditivo, o terceiro, de R$ 620.679,34 e terá validade até 11 de fevereiro de 2026. A publicação traz o nome de Adriana Ferreira Domingos como representante da empresa para assinatura do contrato. 

Porém, conforme apontou a investigação revelada em 29 de novembro de 2023, os reais proprietários são os irmãos Lucas de Andrade Coutinho e Sérgio Duarte Coutinho Júnior, que chegaram a ser presos naquele dia. Ainda de acordo com a investigação, oficialmente a empresa estava no nome da esposa de Sérgio, Thaline Hernandez das Neves Coutinho. 

Inicialmente, o contrato médico-hospitalar foi assinado em 2022, na gestão do governador Reinaldo Azambuja, pelo então secretário de Saúde, Flávio da Costa Britto Neto, que passou a ser secretário-adjunto da Casa Civil na gestão de Eduardo Riedel no ano seguinte. Flávio Brito foi alvo de busca e apreensão na operação do MPE e acabou demitido pelo governador Eduardo Riedel.

No total, 35 mandados de busca de apreensão foram cumpridos, além de oito mandados de prisão por conta da investigação que apontou suspeitas de fraude em contratos de R$ 68 milhões dos empresários com as secretarias de Saúde e Educação. Além da Isomed, outras duas empresas, Isototal e Maiorca, também foram investigadas na Turn Off. 

E, além do secretário-adjunto da Casa Civil, a operação do Gaeco também mirou no adjunto da Educação, Edio Antonio Resende de Castro Bloch, um antigo assessor do ex-governador Reinaldo Azambuja. Este chegou a ser preso e também foi demitido. 

Até ser preso, ele era responsável por toda a parte financeira da secretaria de Educação, a maior do Governo do Estado, com orçamento total de R$ 2,7 bilhões em 2023. 

O esquema, conforme divulgou à época o Ministério Público, estava baseado em uma espécie de jogo de cartas marcadas entre os irmãos e a servidora Simone de Oliveira Ramires Castro, pregoeira-chefe da Secretaria de Estado de Administração (SAD), que supostamente recebia propina para garantir a vitória dos irmãos em licitações.

A investigação flagrou coincidências entre os dias em que os servidores cobravam a propina dos irmãos Coutinho e os pagamentos eram feitos.

“Seguinte, cara, Simone tá me enchendo o saco. Encontrei ontem ela na secretaria, e hoje ela tá me mandando mensagem [perguntando] se tem alguma coisinha pra ela lá do negócio da empresa lá. [...] Ela é carniça, além de eu ter dado aquele dia aquele valor que te falei, ela tá pedindo mais um. Vê se tem alguma coisinha pra ajudar ela lá”, disse Lucas ao irmão Sérgio, em 18 de outubro do ano passado. 

A conversa dos irmãos foi pela manhã, e no mesmo dia Simone convocou, por sua própria orientação, uma empresa – a Health Brasil Inteligência em Saúde Ltda. – para a prova em conceito (passo final para a assinatura do contrato com a administração). A Health Brasil, por sua vez, subcontratava a empresa Isomed Diagnósticos, da esposa de Sérgio Coutinho
 

APAE

O suposto esquema de corrupção operado pelos irmãos Coutinho envolvia até mesmo a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Paulo Muleta Andrade, coordenador técnico do Centro Especializado em Reabilitação da Apae, foi detido por conta dos indícios de que recebia  4% de propina das vendas que os Coutinho faziam à entidade, bancadas por um convênio também realizado por intermédio da Secretaria de Estado de Saúde (SES).

EDUCAÇÃO

No caso da Secretaria de Educação, as suspeitas foram sobre suposta fraude na aquisição de aparelhos de ar-condicionado com sobrepreço. A aquisição dos aparelhos, conforme os investigadores, foi toda fraudada. 
A Comercial Isototal, de Lucas Coutinho, concorreu no pregão com a Comercial T&C Ltda., pertencente a seu tio. Para reforçar o indício da “carta marcada”, a empresa do tio dele ofereceu preço bem acima do concorrente.

Turn Off, termo que deu nome à operação de novembro de 2023, traduz-se da língua inglesa como 'desligar'. O termo foi usado após a primeira descoberta desta investigação, que teria sido a corrupção na aquisição de aparelhos de ar-condicionado. 

Então, sem tese, o objetivo da operação era 'desligar' (fazer cessar) as supostas atividades ilícitas da organização criminosa que estava sob investigação.

DENUNCIADOS

Após a conclusão das investigações, em junho do ano passado o Ministério Público Estadual apresentou três ações criminais por corrupção, organização criminosa e peculato contra os investigados na Turn Off.

A conclusão é de que foram desviados R$ 48,3 milhões das secretarias estaduais de Educação e de Saúde.

Conforme o MPE, houve denúncia por organização criminosa, corrupção ativa e desvio de dinheiro público na compra de aparelhos de ar-condicionado pela Secretaria de Educação, no valor de R$ 13.000.548,00.

A segunda denúncia foi pelo desvio de R$ 22.996.305,73 em procedimentos de compra de materiais distribuídos pela APAE a pessoas ostomizadas, em convênio firmado com a Secretaria de Estado de Saúde.

Por conta da investigação, a distribuição de bolsas de colostomia chegou a ser suspensa.

A última denúncia apontou o desvio de R$ 12.330.625,08 na contratação de empresa pela Secretaria Estadual de Saúde para emissão de laudos médicos. E é com esta empresa que a administração estadual renovou nesta segunda-feira.

Em nota, o Governo do Estado informou que o contrato foi renovado pois os exames são essenciais e a suspensão poderia causar danos à saúde da população. Confira a nota na íntegra:

A SES (Secretaria de Estado de Saúde) informa que o contrato com a empresa Isomed foi renovado, pois os resultados de exames de Radiografia, Tomografia Computadorizada, Ressonância Magnética, Mamografia e Ultrassonografia são essenciais para o diagnóstico de inúmeras patologias, e que a suspensão ou interrupção deste serviço na Rede de Urgência e Emergência do Estado poderia
causar graves danos à saúde da população sul-mato-grossense, inclusive à vida.

A renovação ocorreu conforme previsto em legislação e contrato vigentes, uma vez que cumpridos todos os requisitos legais necessários. Não consta nesta Secretaria qualquer ordem judicial que impeça ou que declare a inabilidade da empresa em contratar com o Poder Público.

* Matéria editada às 16h para acréscimo de informações

INVESTIGAÇÃO

Ação do MPE tenta impedir nova mortandade de bovinos em fazenda de MS

Fiscalização da Polícia Militar Ambiental (PMA) observou várias carcaças de bovinos no local e outros sem forças para levantar devido a avançada condição de magreza e desnutrição

15/03/2025 09h45

Bovinos maltratados achados pela PMA durante apuração no local

Bovinos maltratados achados pela PMA durante apuração no local Fotos: Divulgação/MPMS

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A Fazenda Rubi e Safira, localizada em Rio Negro, município a 153 quilômetros de Campo Grande, está sendo investigada pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) após a Polícia Militar Ambiental (PMA) observar gados sob condições de maus-tratos e abandono.

Segundo consta nos documentos do inquérito civil, a propriedade rural tem cerca de 3,4 mil hectares, cujo dono é Quan Tsu Duh. 

Em outubro, na primeira fiscalização da PMA, os agentes ambientais encontraram 24 bezerros guachos sendo alimentos pela filha e esposa do capataz, que disseram que estavam fazendo isso pelas mães destes bezerros terem morrido de desnutrição ou elas não terem condição de amamentar os filhotes por não produzirem leite suficiente.

O capataz, identificado como Senhor Ivanildo, afirmou estar alimentando os animais da fazenda com feno, mas que ainda não havia recebido uma nova remessa e estava sem ter o que oferecer para eles. 

Ainda nesta primeira vistoria, uma das duas mangas não tinha água e estava com o bebedouro danificado, além de não haver alimento nas vasilhas. Na outra manga, tinha água e sal boiadeiro, mas também sem alimento nos cochos.

No inquérito, os agentes descreveram uma cena “curiosa” e triste. Ao chegarem perto da manga, os gados foram até eles na esperança que tivessem algum tipo de alimento, comportamento anormal da raça nelore, que geralmente se afasta ou corre quando pessoas ou veículos se aproximam.

No segundo dia de fiscalização, os agentes foram recebidos pelo filho do proprietário, do qual se identificou como Fernando. Ele contou aos policiais as dificuldades em comprar feno para alimentar os animais devido à alta demanda nos fornecedores.

Ao percorrer a fazenda, foram encontradas várias carcaças de bovinos no local e outros sem forças para levantar devido a avançada condição de magreza e desnutrição. Além disso, áreas onde deveriam ter grama e pasto para servir de alimentos aos gados estavam apenas com terra.

Diante dos fatos observados, a PMA aplicou um Auto de Infração Ambiental no valor de R$ 1.013.500,00, além de determinar a apreensão dos 2.027 gados presentes na fazenda. Também foi notificado solicitando a contratação de um veterinário para cuidar dos animais.

Após essas primeiras visitas, os agentes da Agência Estadual de Vigilância Sanitária (Iagro) constataram que a Fazenda já está passando por algumas mudanças positivas, impulsionadas pela volta da chuva, o que fez a pastagem voltar ao “normal”. 

Ainda, o proprietário se comprometeu a reduzir a quantidade de cabeças de gado em sua propriedade. Em novembro, foram observados 156 bovinos já embarcando rumo a outro lugar.

Mesmo com algumas melhorias nos últimos meses, o MPMS retifica a necessidade de mudança de postura do proprietário quanto ao seu imóvel de maneira urgente, cujo, caso contrário, será punido.

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Mato Grosso do Sul

Contrato da Lotesul pode durar até 35 anos; licitação é mantida pelo governo

Após pedidos de impugnação, a Secretaria de Estado de Fazenda refutou cancelar o certame, o mantendo para o dia 17

15/03/2025 08h00

Sefaz negou impugnação do edital de licitação para escolha de gestora da nova loteria estadual

Sefaz negou impugnação do edital de licitação para escolha de gestora da nova loteria estadual Gerson Oliveira / Correio do Estado

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A vencedora da licitação para gerir a Loteria Estadual de Mato Grosso do Sul (Lotesul) pode ficar à frente do negócio milionário por até 35 anos, caso o contrato seja prorrogado. 

O certame que escolherá a empresa que cuidará da loteria em MS ocorre nesta segunda-feira, após o governo do Estado decidir manter a concorrência, mesmo com dois pedidos de impugnação.

O contrato com a vencedora terá inicialmente o prazo de 10 anos, porém, se todos os aditivos legais de tempo forem aplicados, a empresa poderá chegar a 35 anos no comando da Lotesul, que tem a estimativa de gerar uma receita média anual de R$ 51,4 milhões, segundo o edital de licitação.

O prazo dilatado seria, para o governo do Estado, uma forma de aumentar “o potencial de as empresas oferecerem propostas mais vantajosas, com o oferecimento de maior retorno ao Estado pela obtenção do contrato”.

“O prazo de vigência se justifica pelo fato de demandar grandes investimentos e atualizações constantes, cuja amortização demanda tempo, especialmente diante da preferência de o Estado de se manter detentor dos códigos-fonte da plataforma ao término do contrato”, justifica.

A licitação busca uma empresa para gerir a loteria estadual, que pode retornar à ativa após quase 20 anos de sua extinção. O vencedor do certame deverá repassar, pelo menos, 16,17% da receita bruta para o governo de Mato Grosso do Sul.

Esse porcentual, no entanto, pode ser maior, uma vez que as propostas serão justamente em cima do repasse ao governo, ou seja, vence a licitação quem propuser o maior repasse à administração estadual.

IMPUGNAÇÃO

Nesta semana, duas empresas ingressaram com um pedido de impugnação contra o edital de licitação para a Lotesul. Porém, aos 45 do segundo tempo, a Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz), responsável pelo certame, refutou a ideia de adiar ou cancelar a concorrência.

Um dos impugnantes, conforme antecipou o Correio do Estado, era Jamil Name Filho, o Jamilzinho, que atualmente está preso na Penitenciária Federal de Mossoró (RN).

Na resposta da Pasta ao pedido do ex-bicheiro, entre as justificativas para negar o pedido, a Sefaz afirma que ele não seria parte afetada do certame porque, segundo ela, Jamilzinho não teria vínculo com a licitação.

“No presente caso, o impugnante não demonstrou vínculo com a licitação em questão, seja como participante direto, seja como parte afetada, não sendo proprietário, representante legal nem empregado de empresa que potencialmente participaria do certame, o que configura ausência de legitimidade para apresentar a impugnação. O impugnante não demonstra como o edital ou o como o processo licitatório causariam prejuízo direto a seus direitos ou interesses, mas sim interferir no processo licitatório sem justificativa, prejudicando o andamento do certame”, diz a Sefaz.

À reportagem, o advogado de Jamilzinho, André Borges, afirmou que a decisão “não examinou a impugnação à luz das previsões legais”. “A licitação tem um claro direcionamento, restringindo gravemente o universo de participantes. 

Logo teremos a decisão do TCE-MS [Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul]. Se necessário, levaremos o assunto ao Judiciário, que saberá corrigir o que está errado”, declarou.

No caso do segundo pedido de impugnação, feito pela empresa Criativa Technology, que afirmou que o edital estaria favorecendo apenas uma empresa, a Sefaz negou e informou que o documento “está alinhado às diretrizes normativas federais”.

“A alegação de que essa exigência limitaria a concorrência a empresas que já operam nos estados do Rio de Janeiro e do Paraná também não se sustenta, pois a União já autorizou a operação de 79 empresas, as quais estão aptas a atuar no mercado de apostas. O número de empresas autorizadas ainda pode crescer, demonstrando que a exigência de homologação no Bacen [Banco Central do Brasil] não restringe a concorrência, mas sim estabelece um critério essencial para a segurança do setor”, alega o Estado.

“O edital adota práticas comuns do mercado e está alinhado às diretrizes normativas federais. Além disso, os argumentos apresentados na impugnação refletem uma interpretação equivocada sobre as exigências de interoperabilidade dos sistemas, compliance financeiro e regras de jogo responsável”, segue em outro trecho.

“FAVORITA”

Reportagem publicada nesta sexta-feira pelo Correio do Estado mostrou que, segundo fontes da reportagem, a empresa que hoje estaria contada entre as “favoritas” a vencer a licitação da loteria esportiva seria a PayBrokers, sediada no Paraná e que já é responsável pela loteria daquele estado.

A empresa, no entanto, é investigada pela Polícia Civil de Pernambuco em esquema de casas de apostas ilegais. Conforme a investigação, empresas habilitadas estariam lavando dinheiro para jogos de azar para bets não regularizadas.

No caso da PayBrokers, entre 2022 e 2023, ela teria recebido quase R$ 10 milhões da Sports Entretenimento e Promoção de Eventos Esportivos Ltda. Além disso, teria feito pagamentos à influenciadora digital e advogada Deolane Bezerra, que foi presa na operação deflagrada no ano passado.

Por causa desses indícios, o dono da PayBrokers, Edson Antônio Lenzi Filho, e Thiago Heitor Presser, ex-sócio da empresa, tiveram mandados de prisão emitidos contra eles. Presser foi preso em Cascavel (PR), e com ele foram apreendidos R$ 70 mil em diferentes moedas. Já Lenzi Filho não foi encontrado na época.

Saiba

A licitação para a escolha de empresa que vai gerir a Loteria Estadual de Mato Grosso do Sul (Lotesul) pelos próximos 35 anos será realizada a partir das 8h30min desta segunda-feira, virtualmente, por meio do site compras.ms.gov.br.

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