Dois anos após a Santa Casa anunciar o “fechamento” do Pronto Atendimento Médico (PAM) da unidade, pacientes ainda sofrem com a superlotação da área vermelha do hospital. Nesta terça-feira, quatro pacientes estavam respirando por meio de aparelhos manuais. A situação foi ainda mais crítica no fim de semana, quando os enfermeiros precisaram fazer uma escala de revezamento para garantir a respiração de até oito pacientes.
Sem vagas em unidades de terapia intensiva (UTIs), doentes agonizam em leitos improvisados. O hospital alega que a superlotação tem sido comum diante do número de pacientes “vaga zero” encaminhados à unidade.
O “fechamento” do PAM da Santa Casa foi anunciado em agosto de 2017, como medida para desafogar a área vermelha do hospital. Na época, a unidade chegou a ter 67 pacientes no Pronto Atendimento. Mais que o dobro da capacidade. Doentes tiveram de ser distribuídos em macas pelos corredores, enquanto outros foram internados em cadeiras.
Desde então, o hospital recebe apenas pacientes regulados pela prefeitura, e não pelo portão de entrada, como ocorria antes. “Hoje, pela manhã, havia quatro pacientes com ventilação manual. Mas tem sido constante a superlotação de pacientes na área vermelha por conta do grande número de envio por vaga zero pela regulação”, informou assessoria de imprensa da unidade.
ATRASO DE REPASSES
Na quinta-feira (4), uma reunião de emergência no Ministério Público Estadual tratou dos problemas da saúde de Campo Grande, incluindo os do hospital. O encontro teve a presença do presidente do hospital, Esacheu Nascimento, e do secretário municipal de Finanças e Planejamento, Pedro Pedrossian Neto.
A prefeitura alega que o problema da saúde está no atraso no repasse de R$ 11 milhões para o custeio das unidades de pronto atendimento e Centros Regionais de Saúde.
O governo, por sua vez, afirma que, de janeiro a junho de 2019, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) pagou mais de R$ 51 milhões à prefeitura da Capital referentes a diversos pagamentos, incluindo alguns repasses que estavam em atraso. A SES informou ainda que paga mensalmente ao município de Campo Grande, aproximadamente, R$ 7 milhões para custeio da saúde e quase R$ 6 milhões são destinados somente para os hospitais.
A Secretaria de Estado de Saúde ressalta que os pagamentos a hospitais estão em dia. “Portanto, não há atraso no repasse dessas unidades hospitalares e já está programado o pagamento do mês de junho, que é sempre feito em julho. O cronograma está dentro do prazo”, diz nota.
ALTERNATIVA
Com os frequentes problemas na Santa Casa, o governo do Estado e a prefeitura planejam medidas emergenciais, além da construção de um hospital municipal em Campo Grande. Proposta semelhante já havia sido ventilada em 2013, pelo então prefeito Alcides Bernal (PP), mas o projeto nunca saiu do papel.
Conforme o secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, tanto o governo estadual quanto o municipal estão descontentes com o serviço oferecido pelo hospital e a ausência de diálogo com a atual gestão. “Ficamos incomodados, porque é todo dia notícia de paralisação do serviço na Santa Casa e por falta de pagamento. Mas a Santa Casa tem recursos que ela recebe com regularidade e tem outras fontes de recursos. Então, ela tem condições de honrar esse compromisso com o corpo médico. Logicamente que o repasse do Estado pode ter um atraso pontual, mas ela não pode jogar a responsabilidade de problemas na gestão do hospital em cima do Estado e do município. Estamos fazendo o repasse com muito mais regularidade do que no passado”, disse.
Desde o início dos anos 2000, a Santa Casa enfrenta dificuldades. Em 2005, com aval do Ministério da Saúde, o prefeito Nelson Trad Filho (PMDB) decretou intervenção no hospital e assumiu o controle da instituição, que tinha uma dívida de R$ 37 milhões com bancos, fornecedores e concessionárias de telefone, energia e água. A situação foi controlada, até que o hospital voltou para as mãos da Associação Beneficente de Campo Grande, retomando a crise.