Cidades

EDUCAÇÃO

A+ A-

Milton Ribeiro justifica atraso em apuração de fraude do Enade, mas acusa ex-presidente do Inep

O jornal Folha de S.Paulo revelou em maio que o ministro atuou nos bastidores a favor de um centro universitário denunciado

Continue lendo...

O ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, defendeu nesta quarta-feira (4) o fato de ter protelado o envio à PF (Polícia Federal) de uma denúncia de fraude no Enade 2019 envolvendo uma instituição privada de ensino superior. 

Ele reconheceu que partiu dele a decisão de adiar o envio do caso à esfera criminal.

Apesar disso, Ribeiro se contradisse e acusou o ex-presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) Alexandre Lopes de ter se omitido no caso.

Milton Ribeiro também tentou justificar a atenção especial que deu ao assunto. 

Segundo ele, isso teria ocorrido por causa da repercussão do caso, mas toda sua atuação foi anterior ao conhecimento público das denúncias.

O jornal Folha de S.Paulo revelou em maio que o ministro atuou nos bastidores a favor de um centro universitário denunciado e protelou o envio do caso à esfera criminal. A Unifil, de Londrina (PR), é presbiteriana, assim como o ministro, que é pastor.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Investigação do Inep concluiu haver fortes indícios, sobretudo estatísticos, de fraude no exame do ensino superior após a coordenadora da graduação do curso de biomedicina ter tido acesso à prova e às respostas com antecedência. 

O ministro teria ameaçado demitir quem no Inep mandasse o caso à PF.

Assim, um ofício só foi levado à PF em fevereiro deste ano, após o MEC ter encerrado a investigação de forma favorável à Unifil. 

As evidências estatísticas da fraude foram ignoradas nessa análise.

O caso foi levado ao Ministério Público Federal somente após a publicação da reportagem da Folha. 

Essa remessa, feita em maio, quatro meses após o fim do processo, era recomendada desde outubro do ano passado.

Ribeiro foi chamado à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara para prestar esclarecimentos nesta quarta sobre as revelações da reportagem. 

Questionado pelo deputado Leo de Brito (PT-AC), o ministro afirmou que as evidências estatísticas apuradas pelo Inep seriam insuficientes para que a polícia fosse avisada, mesmo contrariando recomendação dos órgãos técnicos.

"Estatística é estatística, ninguém é condenado por estatística. Pode ser um indício", disse.

"Achei que, se chegasse na Polícia Federal um indício de estatística, dizendo 'ó, todo mundo foi mal e só aqui foi bem', e não foi isso propriamente... Mas digamos, qual elemento fático que a PF teria para encaminhar o assunto? O que eu fiz, recolhi e mandei [uma comissão] in loco, constitui uma supervisão, para com os dados da supervisão aí sim encaminhar para a Polícia Federal. Achei que seria melhor até para a própria polícia."

O ministro mandou o próprio secretário de Regulação do Ensino Superior do MEC para participar dessa supervisão em Londrina, o que não é usual.

 O trabalho inocentou a Unifil. As evidências estatísticas não foram levadas em conta.

O ministro tratou do caso pessoalmente logo depois que assumiu o cargo: recebeu os controladores da instituição, viajou duas vezes a Londrina no meio do processo, determinou que seu próprio secretário acompanhasse uma visita de supervisão e protelou o envio do caso à PF.

Danilo Dupas Ribeiro respondia pela secretária de Regulação naquele momento. Ele próprio assumiu o Inep após a demissão de Alexandre Lopes.

"O fato de eu ter mandado o secretário pra ele acompanhar mostra o meu interesse, sim, de acompanhar mais de perto essa situação, que eu fiquei muito constrangido de ter sido acusado de tentar beneficiar uma instituição que eventualmente está ligada à minha denominação [religiosa]", disse o ministro.

No entanto, a determinação da visita ocorreu no ano passado, meses antes de o caso ser revelado pela Folha. O ministro ainda confirmou que fez um encontro fora da agenda, em novembro, para tratar especificamente do assunto porque seria um "assunto que estava na mídia". 

Mas, até aquele momento, não havia nenhuma repercussão sobre o caso.

A área técnica e a Procuradoria do Inep haviam concluído pela necessidade da investigação criminal desde meados de 2020. 

Uma minuta de ofício para encaminhar o caso à PF estava pronta desde a mesma época, mas nunca foi enviada –exatamente por pressão do ministro em favor da Unifil, como confirmado por quatro pessoas do alto escalão.

Questionado também pelo deputado Leo de Brito, Ribeiro disse que a demissão de Alexandre Lopes, em fevereiro, teve relação com o caso. Interlocutores do MEC indicam que ele foi ameaçado de desligamento pelo secretário executivo do ministério, Vitor Godoy, a mando do ministro, caso levasse o caso à esfera policial.

"Esse que recebeu a recomendação da Procuradoria do Inep e que não enviou, é o mesmo que eu exonerei. Se houve algum dolo ou falta de ação, foi dele. Esse também é um dos motivos que ele foi exonerado."

Alexandre Lopes foi procurado mas não respondeu aos questionamentos da Folha.

Ribeiro disse que esteve na Unifil durante o processo "pela amizade" que tem com os pastores que controlam a instituição. Ele ainda defendeu a instituição com relação às denúncias, como já havia feito em junho, quando também foi à Câmara tentar explicar o caso.

O MEC disse em nota pública que a apuração teria seguido todos os critérios técnicos.

A análise estatística do Inep, presente no parecer 133, indicou evidências de fraude em toda prova de Conhecimento Específico do Enade, a qual a coordenadora do curso da Unifil teve acesso privilegiado.

O curso teve nessa parte do exame 87,3% de acerto, enquanto, nas melhores graduações nessa carreira, a taxa foi 55,5%. Na outra parte da prova, de formação geral, a Unifil foi pior que os cursos de nota máxima.

Em algumas questões, todos os alunos da Unifil gabaritaram, enquanto o nível de acerto não atingiu 40% nos cursos com nota máxima no Enade.

O ministro ressaltou aos parlamentares, como já havia feito na outra visita, que a supervisão presencial na Unifil conversou com alunos, que negaram o esquema. 

A auditoria teria comprovado que os estudantes entregaram os Trabalhos de Conclusão de Curso. 

A denúncia afirmava que a instituição dispensara essa entrega como incentivo para obtenção de nota máxima no Enade.

Consta no processo que seis egressos falaram pessoalmente à comissão a convite da própria coordenadora investigada. Outros sete teriam conversado por telefone.

A reportagem fez contato com seis diplomados. Três concordaram em conceder entrevista, mas interromperam a conversa quando avisados sobre o tema.

Aos deputados, o ministro ainda defendeu a decisão de não ter prolongado as inscrições do Enem ou fornecido isenção aos faltosos na última edição. 

O exame deste ano teve 3,1 milhões de inscritos confirmados. Só em 2005, antes de o Enem se tornar vestibular, houve menos inscritos que este ano.

Assine o Correio do Estado

Pesquisa

Extrema pobreza cai a nível recorde; dúvida é se isso se sustenta

O país terminou o ano passado com 18,3 milhões de pessoas sobrevivendo com rendimentos médios mensais abaixo de R$ 300

19/04/2024 18h00

A PnadC de 2023 mostrou que os rendimentos dos brasileiros subiram 11,5% em relação a 2022. Foto: Favela em Campo Grande - Gerson Oliveira/Correio do Estado

Continue Lendo...

A expressiva alta da renda em 2023 reduziu a pobreza extrema no Brasil ao seu nível mais baixo da série histórica, a 8,3% da população. O país terminou o ano passado com 18,3 milhões de pessoas sobrevivendo com rendimentos médios mensais abaixo de R$ 300. Apesar da queda, isso ainda equivale a praticamente a população do Chile.

O cálculo é do economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PnadC), do IBGE.

Em relação a 2022, 2,5 milhões de indivíduos ultrapassaram a linha dos R$ 300, numa combinação de mais transferências pelo Bolsa Família, aumento da renda do trabalho e queda do desemprego. A grande dúvida é se o movimento —e mesmo o novo patamar— seja sustentável.

A PnadC de 2023 mostrou que os rendimentos dos brasileiros subiram 11,5% em relação a 2022. Todas as classes de renda (dos 10% mais pobres ao decil mais rico) tiveram expressivos ganhos; e o maior deles deu-se para os 5% mais pobres (38,5%), grandes beneficiados pelo forte aumento do Bolsa Família —que passou por forte expansão nos últimos anos.

Entre dezembro de 2019 (antes da pandemia) e dezembro de 2023, o total de famílias no programa saltou de 13,2 milhões para 21,1 milhões (+60%). Já o pagamento mensal subiu de R$ 2,1 bilhões para R$ 14,2 bilhões, respectivamente.

Daqui para frente, o desafio será ao menos manter os patamares de renda —e pobreza— atuais, já que a expansão foi anabolizada por expressivo aumento do gasto público a partir do segundo semestre de 2022.
Primeiro pela derrama de incentivos, benefícios e corte de impostos promovidos por Jair Bolsonaro (PL) na segunda metade de 2022 em sua tentativa de se reeleger. Depois, pela PEC da Transição, de R$ 145 bilhões, para que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pudesse gastar mais em 2023.

Como esta semana revelou quando governo abandonou, na segunda-feira (5), a meta de fazer superávit de 0,5% do PIB em suas contas em 2025, o espaço fiscal para mais gastos exauriu-se.

A melhora da situação da renda dependerá, daqui para frente, principalmente do mercado de trabalho e dos investimentos do setor privado. Com uma meta fiscal mais frouxa, os mercados reagiram mal: o dólar subiu, podendo trazer impactos sobre a inflação, assim como os juros futuros, que devem afetar planos de investimentos empresariais e, em última instância, o mercado de trabalho.

Apesar do bom resultado em 2023, algumas análises sugerem que o resultado não deve se repetir. Segundo projeções da consultoria Tendências, a classe A é a que terá o maior aumento da massa de renda real (acima da inflação) no período 2024-2028: 3,9% ao ano. Na outra ponta, a classe D/E evoluirá bem menos, 1,5%, em média.

Serão justamente os ganhos de capital dos mais ricos, empresários ou pessoas que têm dinheiro aplicado em juros altos, que farão a diferença. Como comparação, enquanto o Bolsa Família destinou R$ 170 bilhões a 21,1 milhões de domicílios em 2023, as despesas com juros da dívida pública pagos a uma minoria somaram R$ 718,3 bilhões.

A fotografia de 2023 é extremamente positiva para os mais pobres. Mas o filme adiante será ruim caso o governo não consiga equilibrar suas contas e abrir espaço para uma queda nos juros que permita ao setor privado ocupar o lugar de um gasto público se esgotou.

Voos em queda

Aeroportos de Mato Grosso do Sul enfrentam desafios enquanto Aena Brasil lidera crescimento nacional

No acumulado do ano de 2024, o volume de passageiros chegou a mais de 395 mil passageiros em Mato Grosso do Sul, com um aumento de 4,8% no número de operações realizadas nos três aeroportos do Estado

19/04/2024 17h41

Os três aeroportos de Mato Grosso do Sul mantiveram um desempenho estável no acumulado do ano, com um aumento significativo nas operações. Foto/Arquivo

Continue Lendo...

A Aena Brasil revelou hoje os números da movimentação nos aeroportos até março de 2024, destacando-se como a empresa com a menor redução de passageiros no país. No entanto, o aeroporto de Ponta Porã, sob sua administração, enfrentou uma redução significativa de 42,4% no fluxo de passageiros em março deste ano.

Esta tendência também foi observada na capital sul-mato-grossense, onde o volume de passageiros em Campo Grande caiu 5,5%, totalizando 118.529 passageiros, e no aeroporto de Corumbá, com uma redução de 14,3%.

Além disso, as operações aeroportuárias também estão em declínio, com quedas de 15,9% em Ponta Porã, 10,6% em Corumbá e 8,7% na capital, no volume de operações.

Apesar desses desafios, no acumulado do ano, a Aena Brasil aponta que o aeroporto internacional de Campo Grande registrou uma redução de 3,0% no fluxo de passageiros e de 3,5% no número de operações aeroportuárias.

Já o aeroporto de Ponta Porã apresentou uma queda de 27% no fluxo de passageiros, mas com um saldo positivo de 4% no número de operações. Além disso, o aeroporto de Corumbá, considerado a capital do Pantanal, registrou um aumento de 4,9% nas operações.

No total, a movimentação nos três aeroportos de Mato Grosso do Sul alcançou 395.388 passageiros e 5.043 operações realizadas.

Veja o ranking nacional:

Aena tem crescimento de 6,3% na movimentação em todo o Brasil

Enquanto isso, em nível nacional, a Aena Brasil experimentou um crescimento impressionante de 6,3% na movimentação. Os 17 aeroportos administrados pela empresa no Brasil registraram 10,4 milhões de passageiros no primeiro trimestre de 2024, representando um aumento de 6,3% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Em relação ao número de pousos e decolagens, nos três primeiros meses houve alta de 5,4%, com um total de 115,5 mil movimentos de aeronaves. Considerando somente o mês de março, o crescimento chega a 6,1% no total de passageiros (3,4 milhões), em relação ao mesmo mês de 2023, e a 1,7% no volume de pousos de decolagens (38,9 mil).

Assine o Correio do Estado.

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).