Indígenas que mudaram sua versão sobre a morte do cacique Marcos Veron em troca de vantagens oferecidas por proprietários rurais agora responderão por falso testemunho em ação penal. A denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF) em Mato Grosso do Sul contra um fazendeiro, dois índios e um funcionário rural foi aceita pela Justiça Federal de Dourados.
O crime aconteceu em março de 2005, quando um proprietário rural procurou testemunhas do ataque à comunidade indígena Takuara para que, em troca de moto, caminhonete, dinheiro, casa e até mesmo cestas básicas, assinassem documentos que alteravam as declarações feitas à Policia Federal. O fazendeiro e um funcionário “compraram” os novos depoimentos de três indígenas, sendo um adolescente.
Após ser procurado três vezes pelo fazendeiro, uma das vítimas do ataque denunciou a negociação ao MPF. Ao entrar em contato com a vítima, o proprietário rural disse que sabia das dificuldades enfrentadas por ela e se ofereceu para ajudá-la. Ele também ofereceu um “retorno” para que a vítima ajudasse a tirar os “três coitados”, que estavam presos. Os “coitados” a quem o fazendeiro se referia eram Jorge Insabralde, Estevão Romero e Carlos Roberto dos Santos, condenados pela participação na morte do cacique.
Dos quatro índios que receberam a proposta, três aceitaram os favores. As novas declarações assinadas pelos índios em quase tudo diferem dos termos prestados no dia seguinte ao ataque. O proprietário rural e seu funcionário responderão por quatro tentativas de oferecer vantagem a testemunha para fazer afirmação falsa em depoimento policial, cuja pena varia de 3 a 21 anos de prisão e multa. Já os índios responderão por fazer afirmação falsa em inquérito judicial, que prevê prisão de 1 a 4 anos e multa.
Ataque
Acampados na Fazenda Brasília do Sul, em Juti, região sul do Estado, na área reivindicada por eles como Tekohá Takuara, os kaiowá sofreram ataques nos dias 12 e 13 de janeiro de 2003 por um grupo de 30 a 40 homens armados, que foram contratados para agredi-los e expulsá-los das terras.
No dia 12, um veículo dos indígenas com 2 mulheres, um rapaz de 14 anos e 3 crianças de 6, 7 e 11 anos foi perseguido por 8 km, sob tiros.
Na madrugada do dia 13, os agressores atacaram o acampamento a bala. Sete índios foram sequestrados, amarrados na carroceria de uma camionete e levados para local distante da fazenda, onde passaram por sessão de tortura. Um dos filhos de Veron, Ládio, quase foi queimado vivo. A filha dele, Geisabel, grávida de sete meses, foi arrastada pelos cabelos e espancada. Marcos Veron, à época com 73 anos, foi agredido com socos, pontapés e coronhadas de espingarda na cabeça. Ele morreu por traumatismo craniano.