A Justiça Federal do Paraná determinou em caráter provisório de urgência a transferência de Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, o Cadu, do Presídio Federal de Segurança Máxima de Catanduvas (PR) para o Hospital Psiquiátrico Complexo Médico-Penal do Paraná, em Curitiba.
A decisão da Justiça paranaense se baseia no resultado do laudo psiquiátrico, revelado pelo G1 em 3 de dezembro, que diz que Cadu é inimputável e não pode responder por seus atos. Ou seja, o estudante é considerado incapaz de entender a gravidade do que fez porque sofre de esquizofrenia. A expectativa da defesa do acusado é que a transferência ocorra até o fim deste ano.
Em depoimento à polícia, o estudante confessou ter matado a tiros o cartunista Glauco Vilas Boas e o filho dele, Raoni Ornelas, em 12 de março em Osasco, na Grande São Paulo.
Glauco era o líder espiritual da igreja Céu de Maria, adepta do Santo Daime, que Cadu frequentava. Cadu teria matado cartunista e o filho dele após ter tido um surto piscótico (leia mais abaixo).
Em sua sentença proferida na segunda-feira (13), o juiz federal Mateus de Freitas Cavalcanti Costa aceitou o resultado do exame psiquiátrico de Cadu que recomendou que ele seja tratado da doença num manicômio.
O estudante está preso preventivamente em Catanduvas (PR) ao ser detido em Foz do Iguaçu (PR), três dias após o assassinato do cartunista e do filho dele na Grande São Paulo. Cadu havia fugido de carro e baleado e ferido um policial rodoviário federal quando tentava atravessar a fronteira do Brasil em direção ao Paraguai.
O laudo foi feito a pedido do Ministério Público Estadual de Osasco, que acompanhava o caso dos homicídios de Glauco e Raoni. Mas como Cadu se envolveu em outro crime no Paraná ao tentar furar um bloqueio policial rodoviário a Justiça federal paranaense avocou o processo da Justiça paulista.
Alexandre Halfen é o procurador da república responsável pelo caso no Paraná. Ele e o juiz Cavalcanti Costa ficam em Foz do Iguaçu (PR). Os dois não foram localizados pela reportagem para comentar o assunto.
Tratamento
O advogado do acusado, Gustavo Badaró, sempre se manifestou a favor da transferência de seu cliente do presídio de Catanduvas para um hospital psiquiátrico. “Espero que o tratamento surta efeito e ele possa, com o bom andamento do tratamento, recuperar a condição mental. Essa decisão não estabelece prazo. A decisão foi em caráter provisório. O prazo mínimo é de um a três anos. Depois disso, ele é submetido a perícias periódicas para saber se tratamento surtiu efeito, e se ficar comprovado que ele pode voltar à vida normal, Cadu poderá ser colocado em liberdade novamente", afirmou nesta quinta-feira (16) o defensor do estudante.
Pela lei, como o laudo informa que Cadu não responde totalmente por seus atos, ele não irá para um presídio comum para cumprir pena restritiva de liberdade numa eventual condenação. Em termos técnicos, ele deve sofrer uma “absolvição imprópria” na Justiça porque tem problemas psiquiátricos. No hospital psiquiátrico ele dará cumprimento à medida de segurança e internação.
Por lei, o tempo máximo de permanência em um manicômio judiciário é de três anos, mas existe a possibilidade de prorrogação desse período. Se Cadu fosse condenado criminalmente, ele poderia pegar até 60 anos de prisão.
Cadu foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por duplo homicídio e pela Procuradoria paranaense por resistência à prisão e tentativa de homicídio.
O crime
Em depoimento à polícia, Cadu confessou o crime. Laudo toxicológico feito no acusado deu positivo para maconha. O pai de Cadu, Carlos Grecchi Nunes, afirmou que o filho havia desenvolvido esquizofrenia, que piorou após ele frequentar os cultos de Santo Daime, na chácara de Glauco em Osasco.
Para a Polícia Federal em Foz do Iguaçu, no Paraná, Cadu confessou os crimes. Ele contou que comprou a arma usada no crime e munição na periferia de São Paulo. O plano inicial era sequestrar o cartunista Glauco e levá-lo até a mãe do estudante.
Ainda de acordo com a PF, o acusado disse que, para ele, Glauco era um representante de São Pedro. O cartunista também deveria dizer para a mãe de Cadu que o outro filho dela, irmão do estudante, era a reencarnação de Jesus Cristo.
Quando falou com a Polícia Federal, Cadu também inocentou o amigo Felipe Iasi, de 23 anos, responsável por levá-lo até a chácara e acusado de ter auxiliado Cadu na fuga. Iasi chegou a dizer que foi obrigado a dirigir. Apesar disso, Iasi também responde por envolvimento no crime como co-partícipe.