O STJ (Superior Tribunal de Justiça) decretou ontem à tarde a prisão preventiva do governador José Roberto Arruda (sem partido) por tentativa de suborno de testemunhas no inquérito da Operação Caixa de Pandora – em que é acusado de comandar “organização criminosa” – e de obstrução da Justiça. Logo que saiu a decisão do tribunal, o governador deixou a residência oficial de Águas Claras em comboio composto por seis carros para se entregar à polícia. Ele chegou à Superintendência da Polícia Federal por volta das 17h40min, onde às 19h30min cerca de 20 manifestantes gritavam: “Fica, Arruda, fica!” O governador deve passar a noite em uma sala de Estado Maior na superintendência, em Brasília. Além de decretar a prisão, doze dos 15 ministros da Corte Especial do STJ determinaram o afastamento de Arruda. O vice-governador Paulo Octávio (DEM) deve assumir o cargo. De acordo com um assessor da PF, Arruda “acatou a decisão com serenidade, e espera voltar no dia em que houver um habeas corpus”. A defesa do governador já entrou com o habeas corpus no STF (Supremo Tribunal Federal). O pedido será julgado pelo ministro Marco Aurélio de Mello. “Fomos surpreendidos”, afirmou um de seus defensores, José Eduardo Alckmin. “A Câmara Legislativa precisaria ser consultada antes mesmo do curso do inquérito. A decisão se deu sem que a defesa do governador examinasse tudo”, disse após deixar o prédio do STJ. O ministro Fernando Gonçalves, relator do inquérito da Operação Caixa de Pandora no STJ, acolheu o pedido feito pela subprocuradora-geral da República, Raquel Dodge, do Ministério Público Federal. Mas decidiu submeter sua decisão aos demais ministros, que tiveram que apresentar voto. A decisão foi tomada por maioria, vencido o ministro Nilson Naves. “Não vejo ne cessidade de se impor prisão a um governador. A regra é a liberdade, a exceção é a prisão”, afirmou. Outro ministro votou para decretar a prisão de envolvidos, mas não de Arruda. O presidente da corte não apresenta voto. “A presença do governador está ligada aos recentes eventos e tem gerado instabilidade na ordem pública”, escreveu Gonçalves no relatório em que cita formação de quadrilha, corrupção de testemunha e falsificação ideológica. Para o ministro, um grupo criminoso exerce o poder no governo do DF e, em razão do que classificou de “conduta audaciosa”, “não resta outra alternativa senão a prisão”. O pedido de prisão é relativo à tentativa de suborno do jornalista Edmilson Edson dos Santos, o Sombra, testemunha do escândalo do panetone, que teria sido para obstruir as investigações do esquema de arrecadação e pagamento de propina. O pedido foi feito em denúncia apresentada ontem contra Arruda e os outros cinco acusados por formação de quadrilha e corrupção de testemunha. A preventiva estende-se ao deputado Geraldo Naves (DEM), a Wellington Morais, ex-secretário de Comunicação do DF, Haroldo Brasil de Carvalho, ex-diretor da Companhia Energética de Brasília, e Rodrigo Arantes, sobrinho e secretário particular de Arruda. Na semana passada, o conselheiro do metrô, Antonio Bento da Silva, foi preso pela Polícia Federal ao entregar R$ 200 mil a Sombra. O jornalista afirmou que o dinheiro seria a primeira parcela do suborno de R$ 1 milhão em troca de um pacote de serviços, que incluía uma declaração afirmando que os vídeos que mostram políticos de Brasília recebendo dinheiro de suposta propina foram manipulados por Durval Barbosa, delator do esquema.