Uma lancha naufragou na região metropolitana de Salvador na manhã desta quinta-feira (24) na baía de Todos-os-Santos, matando ao menos 18 pessoas.
Segundo a Astramab (Associação de Transportadores Marítimos da Bahia), entidade que reúne donos de embarcações, a lancha Cavalo Marinho 1 tinha capacidade pra 162 pessoas -133 pessoas estavam a bordo, sendo quatro delas tripulantes, de acordo com a Marinha.
Inicialmente, as autoridades chegaram a confirmar 22 mortos, mas o número foi recalculado para 18, por volta das 16h30 (de Brasília). Já a Secretaria de Saúde do Estado, contabilizava, no horário, 89 pessoas encaminhadas para diversas unidades de saúde e hospitais.
Um dos sobreviventes do naufrágio relatou ter sido encoberto pela embarcação durante o acidente, que ocorreu sob chuva forte. Matheus Ramos, 23, conta que estava sentado mais próximo ao mar e que a lancha virou por cima dele. "Fui atingido no ombro esquerdo. Quando emergi, dei de cara com uma lona e tive que rasgá-la para poder respirar."
O pai do rapaz, o teólogo Marival Ramos, 51, havia pego uma lancha diferente, apenas meia hora antes do filho. Ao saber do acidente, correu para o terminal marítimo. "É um alívio muito grande vê-lo bem."
Felipe Marques da Silva, 22, estudante de engenharia da computação em uma faculdade privada em Salvador, foi outro que se salvou. Ele estava dormindo na parte interna da lancha quando sentiu ela virar. "Entrou muita água de vez, a parte interna encheu quase toda. Tive sorte que estava perto de uma janela e consegui sair", disse o estudante.
Ele conta que conseguiu vestir um colete salva-vidas e permaneceu junto a outros sobreviventes. Eles foram arrastados pela maré e ficaram à deriva. Foram salvos por um barco de pescadores depois de ficarem cerca de uma hora na água.
Após ser resgatado sem ferimentos, foi direto para casa. Os pais, que tinham viajado a uma cidade próxima, retornaram ao saber do acidente. "Quando cheguei em casa ele estava lá, sozinho, chorando muito. Para nós foi um alívio", diz a mãe de Felipe, a comerciante Ana Dantas, 37.
Apreensiva, ela conta que o filho vai deixar a faculdade em Salvador -Luis faz o trajeto entre Vera Cruz e a capital de lancha todos os dias para assistir às aulas. "Não vamos deixar ele continuar, é um medo que vai ficar."
ACIDENTE
O naufrágio ocorreu por volta das 6h30 (de Brasília), no momento em que a lancha deixava Mar Grande, no município de Vera Cruz, na região metropolitana de Salvador.
No horário, o público mais comum na travessia é de trabalhadores e de estudantes que passam o dia na capital baiana.
A lancha é uma concessão da Agerba, agência reguladora do Estado, que diz que a embarcação estava com vistoria e documentação em dia. Segundo ela, havia botes e coletes salva-vidas no barco.
Eduardo Aguadê, 65, é um dos sobreviventes. Ele conta que a chuva e os fortes ventos fizeram entrar água na embarcação. A lancha virou e eles caíram na água. A maioria conseguiu subir em botes que também caíram na água. Ele ajudou um idoso que estava segurando-se numa mochila e diz que o resgate demorou -os dois ficaram cerca de duas horas à deriva.
O mau tempo na região tem deixado o mar agitado durante toda a semana. Na quarta-feira (23), as travessias no local onde houve o acidente chegaram a ser interrompidas.
Familiares de sobreviventes e de desaparecidos foram para a frente a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Vera Cruz, na ilha de Itaparica. Um homem, abalado, aguardava informações sobre o filho que estava desaparecido. Parentes no local criticavam a falta de informações sobre as vítimas.
O naufrágio na Bahia ocorre quase dois dias após uma outra embarcação, desta vez, no Pará, afundar com dezenas de pessoas a bordo. Ao menos, 21 pessoas morreram.
CONDOLÊNCIAS
Em nota oficial, o presidente Michel Temer "lamentou profundamente as perdas trágicas", manifestou solidariedade às famílias das vítimas e colocou a estrutura do governo federal para ajudar na busca de sobreviventes.
"As providências para apurar as causas dos acidentes e punir os responsáveis estão sendo tomadas, em todas as três esferas de governo", disse.
O presidente também lamentou o naufrágio na terça-feira (22) no rio Xingu, no Pará. Segundo o Corpo de Bombeiros, houve 23 sobreviventes e 21 corpos foram resgatados.
O governador Rui Costa (PT) decretou três dias de luto oficial, contados a partir desta quinta, por conta da tragédia.
Rui lamentou o acidente e informou que todos os esforços estão sendo feitos para dar apoio aos atingidos pelo naufrágio. "Manifesto minha solidariedade aos familiares. Todas as forças do governo do Estado estão mobilizadas para dar assistência e prestar socorro às vítimas", afirmou.
O mesmo protocolo foi cumprido pelo prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM). "Neste momento de profunda dor, presto minha solidariedade às vítimas e seus familiares e, ao mesmo tempo, informo que todos os órgãos da prefeitura estão envolvidos para ajudar no atendimento social, psicológico e nos primeiros socorros às pessoas."