No que depender da mãe da modelo Eliza Samudio, Sônia de Fátima Moura, de 53 anos, o goleiro Bruno vai ficar longe do filho de 9 anos e, por consequên cia, de Campo Grande. Ela decide nesta quarta-feira (24) com seus advogados se entrará na Justiça com pedido de medida cautelar para o condenado por homicídio mantenha distância da criança.
A medida, para Sônia, se torna necessária após Bruno conseguir o direito à progressão ao regime semiaberto, em benefício concedido em decisão publicada na quinta-feira (18) pela 1ª Vara Criminal e de Execuções Penais da Comarca de Varginha (MG), onde ele cumpre pena. Desde o dia 19 ele está em liberdade.
O goleiro foi condenado a 20 anos e nove meses de prisão pelo homicídio triplamente qualificado de Eliza Samúdio e pelo sequestro e cárcere privado do filho Bruninho. Eliza desapareceu em 2010 e seu corpo nunca foi achado. Ela tinha 25 anos e era mãe do filho recém-nascido de Bruno, de quem foi amante. Natural de Campo Grande, sua família mora atualmente no distrito de Anhanduí.
"Ainda não sei se vou tomar essa medida (medida cautelar), vou conversar com minha advogada para decidir o que é melhor, quais os caminhos que iremos tomar daqui para a frente pensando na segurança do meu neto", disse Sônia.
No que depender da boa vontade de Bruno, contudo, a decisão pode soar exagero, visto que o goleiro só buscou contato com o herdeiro nos primeiros dias após o sumiço da mãe. Desde então, sequer telefonou. Mas deu declarações à imprensa mineira que tentaria alguma forma de se reaproximar da criança. Seus advogados chegaram a alegar que poderiam conseguir autorização judicial para ele vir a Mato Grosso do Sul
Melhor assim, define Sônia. Bruninho sabe de toda a brutal história envolvendo Eliza e na última semana, ao descobrir a soltura do pai que não reconhece, demonstrou medo. "Ele tentou se esconder, fazia força para não chorar", contou a avó.

O CASO
Para entender por que o benefício foi adquirido agora talvez seja necessário relembrar todo o caso envolvendo o caso de Bruno.
O goleiro, que na época dos crimes atuava pelo Flamengo, foi detido em julho de 2010 e levado para a Penitenciária Nelson Hungria. Pouco depois, o clube anunciou a demissão do jogador, que seguiu preso e foi condenado em primeira instância em março de 2013.
"Sabia e imaginava", disse Bruno durante a audiência que terminou em sua condenação.
Ele também havia sido condenado por ocultação de cadáver, mas esta pena foi extinta, porque a Justiça entendeu que o crime prescreveu. As penas somadas, que eram de 22 anos e 3 meses, caíram, então, para 20 anos e 9 meses de prisão.
Saída temporária da prisão
O caso, no entanto, ficou parado na Justiça, sem ser julgado no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Com isso, os advogados de Bruno entraram com um pedido de habeas corpus, que foi deferido em uma liminar expedida pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), em 24 de fevereiro de 2017.
À época, Mello entendeu que os recursos apresentados pela defesa deveriam ser julgados para determinar se o réu continuaria preso ou não. Bruno deixou a prisão no mesmo dia.
A partir daí, começaram as especulações sobre qual seria o destino de Bruno, que ainda tinha um contrato com assinado com o Montes Claros FC, mas procurava um time para retomar sua carreira. O suspense começou a ser encerrado quando o goleiro foi visto almoçando com a diretoria do Boa Esporte em 10 de março e e disse: "Não vim à toa".
Goleiro Bruno em atuação pelo Boa Esporte, na rápida passagem pelo clube após a condenação (Divulgação)
Passagem pelo Boa Esporte
O que começou como especulação - e até com o clube negando interesse - foi concretizado poucas horas depois. No mesmo dia, o Boa Esporte confirmou a contratação do goleiro para a disputa do Módulo 2 (na prática, a segunda divisão) do Campeonato Mineiro de 2017.
O plano de retomada da carreira seguia a todo vapor, mas junto com a contratação veio uma sequência de polêmicas.
Veja 10 fatos que marcaram o período:
- em 11 de março, dia seguinte à assinatura do contrato, uma empresa de nutrição rompeu a parceria com o Boa Esporte;
- o anúncio foi o estopim para que outras empresas fizessem o mesmo, e o clube perdeu até o patrocinador master e a fornecedora de material esportivo;
- o site oficial do clube foi hackeado;
- uma petição online contra o acerto foi criada;
- com Bruno no estádio, mulheres protestaram em jogo do Boa Esporte;
- mesmo assim, o goleiro encontrou apoio de parte da torcida e, aos poucos, o clube foi fechando com novos parceiros;
- a estreia de Bruno pelo Boa Esporte foi em um empate marcado por um pênalti cometido por ele mesmo;
- apesar disso, o goleiro foi ovacionado no Estádio Municipal de Varginha;
- se dentro de casa, a recepção da torcida foi boa, fora de casa, Bruno passou a ser provocado;
- a passagem acabou quando a Primeira Turma do STF decidiu mandar Bruno de volta à prisão; o goleiro atuou em cinco partidas e sofreu quatro gols.
Prisão em Varginha
Em 27 de abril de 2017, Bruno se apresentou à delegacia da Polícia Civil em Varginha e foi novamente conduzido à prisão. Por 3 votos a 1, os ministros decidiram derrubar a liminar e negaram o pedido de habeas corpus.
A defesa do goleiro pediu, então, para que ele continuasse na cidade, já que poderia trabalhar e dormir em casa caso conseguisse a progressão para o regime semiaberto.
Em 2 de agosto, Bruno obteve permissão para exercer trabalho externo, dando aulas no Núcleo de Capacitação para a Paz (Nucap), em Varginha.
Já na primeira metade de abril de 2018, o goleiro foi remanejado para o Corpo de Bombeiros da cidade, onde passou a trabalhar na capina e limpeza dos ambientes da unidade. No entanto, poucos dias depois, ele foi dispensado do serviço. O pelotão disse não precisar mais de tantos detentos trabalhando no local.
Bruno completou um ano preso na cidade, com a defesa programando sua saída e projetando uma nova retomada da carreira. Mas um benefício obtido em 20 de junho de 2018 viria a se tornar o ponto chave que dificultaria esse processo.
Punição e reversão
No meio do ano, Bruno passou a trabalhar nas obras da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac). Foi quando exercia esse trabalho que o goleiro foi flagrado em um encontro marcado por celular com duas mulheres, no dia 18 de outubro. O local tinha ainda latas de cervejas e outras bebidas.
Apesar da Apac ter negado que o local fosse um bar e ter absolvido o interno em um Processo Administrativo Disciplinar (PAD), a Justiça de Varginha entendeu que ele havia cometido um excesso e aplicou uma falta grave, atrasando o direito à progressão de regime para 2023.
A decisão foi publicada no dia 11 de fevereiro de 2019 e, desde então, Bruno mudou a equipe de advogados e a estratégia de defesa, para uma postura mais discreta, buscando reverter a punição, o que aconteceu no acórdão do TJMG assinado pelos desembargadores Doorgal Borges de Andrada, Corrêa Camargo e Eduardo Brum e analisado pelo juiz Tarciso Moreira de Souza, nesta quinta-feira, 18 de julho.
Com a falta sendo anulada e Bruno tendo cumprido cerca de 8 anos e 10 meses de pena em regime fechado, sem contar os dias de remissão atualizados, ele tem o tempo mínimo necessário para a progressão de regime, o que foi observado na decisão.
Agora Bruno deve passar por exame de corpo de delito e audiência de instrução para, por fim, ter cumprido o alvará de soltura, o que deve acontecer durante a tarde desta sexta-feira. Assim, ele deve ser conduzido para o endereço informado à Justiça, onde vai cumprir o regime semiaberto.