A vida de Marcos Roberto Teixeira durou apenas seis anos, porém, o curto espaço de tempo foi cercado de fatos considerados surpreendentes aos olhos da mãe, a dona de casa, Kelly Daine Teixeira, 25 anos.
O filho foi atropelado, na avenida Guaicurus, no Jardim Iatamaracá, em Campo Grande, enquanto a mãe participava do culto em uma igreja em frente ao local do acidente. Por volta das 20 horas do dia 22 de fevereiro, Marcos, seguindo o irmão durante uma brincadeira, tentou cruzar a via, quando um carro o atingiu. Ali morreu o garotinho.
O motorista fugiu sem prestar socorro. O condutor ainda não foi identificado pela polícia. Eis o depoimento de Kelly:
A irmã de 9 meses é a cara dele. Ela tinha 30 dias quando o acidente aconteceu. Levei ela no culto naquele dia para apresentar ao pastor e a Deus. Agora fazem sete meses que um miserável tirou o Marquinhos de mim.
Na hora do acidente, até entendi o lado dele em fugir. Porque aglomerou muita gente, inclusive quem não era da igreja, e ele deve ter ficado com medo de um linchamento. Mas agora já se passaram sete meses e o remorso parece que ainda não bateu. Até hoje nada.
Dia 5 de julho ele faria sete anos. Sinto muita falta. Depois que vi o atestado de óbito, imaginei que se ele tivesse ficado aqui, estaria sofrendo. Os ferimentos foram muito violentos.
O motorista bateu nele e o jogou em cima de outro carro. Falaram que era um Gol preto. As câmeras de segurança dos estabelecimentos próximos até chegaram a pegar imagens de uma parte de onde ocorreu o acidente, mas como o motorista que atropelou deu ré depois de bater, não teve como identificar.
Até hoje, não sei como tive condições de avisar minha família. O meu filho mais velho, de 10 anos, se culpava. A dor que sinto, ninguém sabe!
Uma semana antes, tínhamos visto uma reportagem na televisão de uma criança de seis anos que havia sido atropelada. O Marquinhos perguntou para mim: E a mãe desse menino?
Depois que aconteceu comigo pensei: ela não teve chance de socorrer o filho, porque estava trabalhando. Eu tive a chance e, mesmo assim, não pude.
Eu perdi ele. Sei que a Justiça do homem é ruim. Então, também espero pela Justiça de Deus. Mas nada vai suprir a falta dele.Era minha companhia na parte da tarde, quando os outros iam para a escola. O pessoal nem gosta de me deixar sozinha, porque lembro dele. Às vezes, vejo o programa que ele gostava, o Chaves.
O momento que a gente brincava era antes de ir para a escola. Ele dormia sempre do meu lado, desde quando nasceu. Um dia voltou da escola e falou: “Mãe, tenho uma coisa para te contar. Eu aprendi a ler”. Aí, ele leu as palavras “vaca” e “leite”, meio gaguejando.
A escola em peso compareceu ao velório e fizeram até uma homenagem. A intenção era boa, mas foi difícil lembrar. A diretora falou que aquilo servia de exemplo, porque tem tantos pais que deixam os filhos lá e não querem nem saber. Quando o levava na escola só ia embora quando ele entrava na sala de aula.
Vou lutar por Justiça. Mas não tenho muito para onde correr. Dependo da atitude de quem fez isso de admitir que tirou a vida do meu filho. Se caso ele estivesse doente, eu aceitaria. Agora uma criança sadia e do nada não está mais aqui.
*A reportagem completa de Tainá Jara está na edição de hoje do Correio do Estado.