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Depois de ficar três anos trancada em casa no bairro Nova Lima, em Campo Grande, onde a mãe a mantinha, uma menina de cinco anos foi resgatada anteontem pelo Conselho Tutelar. Segundo apurou a polícia, a mãe da menina, identificada apenas como Elizabeth, de aproximadamente 40 anos, sofria de esquizofrenia e, constantemente, tinha surtos psicóticos. Ela acreditava que pessoas a perseguissem e poderiam matá-la e, por isso, ficava presa com a menina dentro de casa.
A casa era pequena e estava sem energia elétrica, pois a mulher havia mandado cortar o fornecimento. Ela também lacrou as portas e janelas e não permitia que a menina fosse à escola. No terreno em torno da casa, o mato tomava conta do local. "Era como se fosse para proteger ou esconder a casa", conta Regina Márcia Rodrigues Brito Mota, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca). Ela esteve no local junto com peritos que avaliaram a situação da residência. "A casa estava fechada, mas era um local limpo. A mãe cuidava da criança e mantinha as condições de higiene. Tinha até brinquedos para a menina, mas ela só podia ficar dentro de casa", conta a delegada.
Segundo relato de vizinhos, a mulher vive há pelo menos 28 anos no bairro. A partir do fim de um segundo relacionamento, com o pai da menina, foi que a mãe começou a apresentar distúrbios de comportamento. Segundo os moradores, há cerca de três anos ela começou a xingar e agredir com pedras qualquer pessoa que passasse perto da casa onde morava. A mãe da menina já chegou a jogar uma bacia cheia de urina em um vizinho. "A gente não podia olhar pra ela, que ela já xingava e ficava gritando", contou a dona de casa Marlene Pereira de Souza, de 58 anos, que há 28 é vizinha de Elizabeth. Segundo Marlene, parentes já chegaram a procurar a mulher, que também os expulsou do local. Ela, que mora bem em frente à residência de Elizabeth, conta que há tempos não vê parentes procurá-la. Até o pai da criança já foi expulso pela mulher.
De acordo com a vizinha, vez ou outra a mulher saía rapidamente em companhia da filha. Mas, normalmente, Elizabeth costumava sair sozinha e deixar a criança trancada. A menina, mesmo com pouca idade, segundo informou Marlene, já havia começado a repetir o comportamento da mãe. "Ela também falava palavrões e gritava muito", conta.
Resgate
Quinta-feira (8), o Conselho Tutelar foi acionado para averiguar a situação da menina. A denúncia foi feita por um frei, que faz trabalhos junto aos agentes de saúde da região. A menina foi retirada da casa junto com a mãe e as duas foram encaminhadas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para tratamento psiquiátrico. A delegada não informou em qual unidade de saúde as duas estão internadas, apenas confirmou que elas iniciaram o tratamento.
Elizabeth não será responsabilizada criminalmente por manter a menina enclausurada, por conta de sua condição mental. A delegada informou que a investigação vai apontar se houve negligência dos parentes da mulher com relação aos problemas.