Goiânia
O pedreiro Adimar Jesus da Silva, de 40 anos, foi encontrado morto ontem numa cela da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc) em Goiânia. Ele é réu confesso do assassinato de seis jovens em Luziânia em janeiro deste ano. Segundo informações da delegacia, Adimar foi achado às 13h com um lençol amarrado ao pescoço, o que indicaria suicídio.
Segundo Norton Luiz Ferreira, delegado chefe de comunicação da Polícia Civil de Goiás, Adimar foi encontrado enforcado com uma tira do forro do colchão da cela.
Na manhã deste domingo, ele teria conversado normalmente com os onze presos da cela ao lado, segundo a polícia. “Durante a conversa ele repetiu o depoimento que deu aos delegados e contou como matou os meninos”, disse Ferreira. Segundo a polícia, os vizinhos de cela teriam ouvido um barulho de rasgo de tecidos na tarde de sábado.
Adimar foi condenado em 2005 a 10 anos de prisão por atentado violento ao pudor, mas recebeu, em dezembro, o benefício da prisão domiciliar, após cumprir dois sextos da pena. O alvará contrariou parecer de três psicólogas que o consideravam “psicopata perigoso” com “sinais de sadismo” e de “perversão sexual” e o tornavam inapto ao convívio social.
Solto, ele matou a pauladas e golpes de enxadão e martelo seis jovens com idades de 13 a 19 anos, desaparecidos na cidade goiana entre 30 de dezembro e 23 de janeiro.
Libertação
Responsável pela soltura de Adimar, o juiz Luís Carlos de Miranda, da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, rebateu as críticas de autoridades à sua decisão de libertá-lo. Entre os críticos do magistrado estão o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, e senadores da CPI da Pedofilia.
A resposta do juiz foi dada em entrevista coletiva na última semana convocada por ele para explicar sua atuação no caso. “Qualquer senador, qualquer ministro vir a público falar o que não conhece, o que não sabe, para simplesmente falar que houve um erro, criticar sem conhecer a realidade do que está acontecendo, isso não é aceitável. O Judiciário não pode ficar sendo alvo desse tipo de atuação injusta, impensada.”
Segundo o juiz, não havia nenhum laudo psicológico que impedisse a Justiça de conceder o benefício. O alerta do Ministério Público para mantê-lo preso foi dado, alegou o juiz, apenas em janeiro, após a soltura do pedreiro. “Todo juiz, ao soltar, tem risco de o apenado cometer um crime na frente”, afirmou Luís Carlos de Miranda. “O juiz não pode, por sua cabeça, dizer que alguém pode reincidir”, ressaltou.
Documentação
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de Goiás, o acusado tinha três documentos de identidade, com mudanças de grafia. Com isso, um outro mandado de prisão expedido na Bahia contra ele acabou sendo ignorado. Os RGs mostravam os nomez Adimar, Ademar e Admar. No Estado do Nordeste, Adimar era acusado de tentativa de homicídio.
Fragilidade
A morte do pedreiro reacende a discussão sobre a fragilidade do sistema carcerário brasileiro, na opinião do presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Ophir Cavalcante, “seja por suicídio, seja por homicídio”.
Em nota divulgada ontem à tarde, ele afirmou que o sistema é “falho e desumano”, o que “acaba estimulando o crime ao invés de proporcionar a recuperação do apenado”.
De acordo com a polícia, ele se enforcou em uma cela individual da Denarc (Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos). “Agora não mais teremos uma só investigação sobre as circunstâncias que levaram um juiz a liberar um psicopata, mas outra para saber como esse psicopata, depois de assassinar seis garotos, morreu sob a vigilância do Estado”, ressaltou o presidente da OAB na nota.
Para ele, são “duas falhas do Estado, que mais o aproximam da lei da selva do que da lei dos homens”. Cavalcante disse ainda que “é hora de corrigir rumos sob pena de continuarmos a assistir esse festival de omissão e de atentado contra a cidadania”.