Pré-candidata do PV à Presidência da República, a senadora Marina Silva (AC) comparou-se ontem ao líder negro sul-africano Nelson Mandela, atribuiu os avanços ambientais do governo federal à sua gestão como ministra do Meio Ambiente e considerou que os eleitores já começam a sinalizar que não aceitarão em 2010 uma eleição plebiscitária. Em sua participação no Fórum Social Mundial Grande Porto Alegre, depois de palestras do empresário brasileiro Oded Grajew e do sociólogo português Boaventura de Souza Santos, afirmou que o mundo vive uma crise social e ambiental e disse que, atualmente, não há fuga possível se não for resolvido o problema climático. Marina, muito aplaudida, repudiou os críticos que, em geral, estigmatizam os ambientalistas como sonhadores e utópicos. “Não sou desse tipo que se intimida facilmente”, declarou, no painel “Novos parâmetros para o desenvolvimento”, promovido pela Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis. “Imaginem se chegassem para o Mandela e dissessem: - `Pare com isso. Você é um sonhador. Que história é essa de querer acabar com o apartheid? ’ – e ele desistisse? ” Líder do Congresso Nacional Africano, Mandela passou três décadas preso, por defender o fim do regime que separava a elite branca da massa de negros pobres que formavam a maioria da população da África do Sul. Libertado, foi eleito presidente do país, acabando com o regime segregacionista racista nos anos 90 do século passado. Em entrevista, Marina criticou a “falta de visão do governo (do presidente Lula) em relação à importância da questão ambiental nas políticas de desenvolvimento do país”. Para ela, o atual governo (embora não apenas ele) não foi capaz de “integrar os critérios de sustentabilidade em todos os setores do governo”. Com a ressalva do que considerou “avanços em vários aspectos”, na questão do desmatamento e na criação de um plano de recursos hídricos. “Claro que falar assim parece que estou legislando em causa própria, porque isso foi feito durante a minha gestão. Mas a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, ressaltou, irônica. A senadora afirmou que, apesar de não haver aliança formal do PV com o PSOL, não tem dúvidas de que os dois partidos encontrarão formas de estar juntos – ela citou que apoiará, com boa parte dos verdes, a tentativa da presidente nacional do PSOL, vereadora Heloisa Helena (AL), de voltar ao Senado. “O importante é que possamos estar alinhados no princípio de que o Brasil não tem como continuar esse debate entre os dois passados”, afirmou. “Ainda que os passados sejam relevantes e importantes, naquilo que acumularam de bom e naquilo que ainda precisam ser aperfeiçoados. Mas utilizar a democracia, um país que tem a potencialidade que tem o Brasil, para fazer um plebiscito, isso não é justo e não dignifica o histórico, a trajetória e a biografia das pessoas que passaram recentemente por este País, com contribuições obviamente relevantes, como é o caso do presidente Lula.” Para ela, a sociedade brasileira sinaliza que não há “exclusividade ou terceirização do seu voto”. “Acho que o eleitor que está enfastiado da política também deve estar intoxicado de muito dinheiro, de muita matemática e pouco programa para a disputa do poder”, disse. “Então, acho que isso vai fazer a minha diferença”, acrescentou.