Toda quarta-feira, a partir das 6 horas da manhã, cerca de 50 pequenos produtores rurais montam suas barracas na Feira de Orgânicos de Campo Grande – na Praça do Rádio Clube, região central da cidade. Não demora muito e as vendas logo começam. Os clientes estão atrás de toda sorte de produtos agroecológicos; produzidos sem a utilização de defensivos agrícolas. O movimento continua até as 11h, e só para porque a essa hora, toda a produção foi comercializada.
A representante dos feirantes, Rosa Maria da Silva, conta que no início ficou surpresa com a grande procura pelos alimentos livres de agrotóxicos. Segundo ela, só na sua barraca passam mais de 300 pessoas por dia. Para ela, trabalhar com orgânicos trouxe muitos benefícios para o pequeno produtor. “Quando a gente trabalhava com agricultura convencional tinha muito problema em encontrar saída para a produção”, relembra Rosa. “Hoje, a gente pode produzir com tranquilidade, porque sabe que vai vender”.
A consultora do Sebrae/MS, Cláudia Mattos, que acompanha o grupo, diz que se antes era um desafio para a produção familiar atingir os mercados, já dominados pela agricultura patronal – principalmente pela dificuldade em fornecer regularmente – hoje aqueles que se dedicam aos alimentos orgânicos têm toda sua colheita absorvida pela população da Capital.
“É diferente, porque a classe consumidora dos orgânicos é outra”, expõe Cláudia. “É um grupo de pessoas que se interessa com a procedência do alimento e com a sua própria qualidade de vida”. Ainda, segundo ela, a comercialização direta com o produtor também favorece o consumo desse tipo de alimento, devido ao acesso a preços bem mais baixos que no mercado tradicional.
Rosa e o grupo de produtores que representa começaram a trabalhar com o orgânico por meio do projeto de Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais), que utiliza a tecnologia social para ensinar e estimular o cultivo livre de agrotóxicos por agricultores familiares, assentados de projetos de reforma agrária e produtores em áreas quilombolas.
Em Mato Grosso do Sul esta forma de trabalho tem ganhado força, já são mais de 340 famílias envolvidas, pois permite a moradores da zona rural o acesso à alimentação saudável e ainda a comercialização do excedente, com ganhos, segundo dados do projeto, variando entre 500 e mil reais ao mês.
“O Pais é uma alternativa barata para trazer soluções e facilidades a quem a utiliza”, avalia a técnica do Sebrae, Roberta Marca. Ela afirma que a vantagem está na autossustentabilidade deste tipo de produção, cujas hortas são dispostas em formato de anel ao redor de um galinheiro. São as galinhas que vão produzir o esterco que, através de um processo de compostagem com outros resíduos naturais, vai se tornar o adubo da própria produção.
Além de Campo Grande, o projeto já está nas cidades de Jaraguari, Miranda, Nioaque, Terenos e Sidrolândia.
Alzira dos Santos Dias conta que junto do marido utiliza a tecnologia Pais em uma propriedade de meio hectare nas terras da antiga fazenda Eldorado – hoje chamada de Assentamento Eldorado, que abriga mais de 2,2 mil famílias. O local fica a 27 quilômetros do centro de Sidrolândia.
“Eu tenho seis filhos que foram pra cidade ganhar a vida. Agora, estão voltando pro campo porque perceberam que a situação aqui melhorou”, relata Alzira. Assentada há cinco anos no local, ela começou a trabalhar em 2009 com a metodologia e passou a vender sua produção na feira da cidade todas as terças e sextas-feiras. “Trabalhando só eu e meu marido, conseguimos tirar por dia 150 reais. Não sobra nada do que levamos pra lá!”, comemora.