A Covid-19 tem avançado mais rápido por Mato Grosso do Sul desde o mês de junho. A curva cresce de forma exponencial, e 10.253 pessoas foram infectadas até agora, com 125 mortes registradas até o momento, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES). Apesar do crescimento, a cultura da rodinha de tereré permanece viva entre os moradores.
Seja entre vizinhos, amigos, ou familiares, o não compartilhamento do tereré foi uma das primeiras recomendações feitas pelo Ministério da Saúde quando a doença chegou no Brasil, para que fosse evitada a transmissão do novo coronavírus.
Na época, o então ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) pediu que tanto a bebida local quanto o compartilhamento de chimarrão fossem evitados.
“No caso de estados como Mato Grosso do Sul, de onde venho, e Rio Grande do Sul, recomendamos que as pessoas evitem bebidas que são compartilhadas de boca em boca, como o tereré e o chimarrão”, disse o ex-ministro durante coletiva de imprensa em fevereiro, quando o primeiro caso da doença foi confirmado no Brasil.
AUMENTO
De lá para cá, a doença só avançou pelo País, que se tornou o segundo em número de casos e de mortes pela Covid-19, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. E mesmo com mais de 60 mil pessoas que perderam a vida em todo o território nacional, é fácil flagrar uma rodinha de tereré em Mato Grosso do Sul.
Para o secretário municipal de Saúde, José Mauro de Castro Filho, não é por falta de orientação.
“Muitas vezes as pessoas não acreditam na doença, acham que não vai chegar aqui, que não mata. As pessoas se encorajam a não acreditar, e não é pelo desconhecimento da transmissão”.
Castro lembrou que, no Estado, pelo menos uma das mortes foi causada pelo compartilhamento do tereré, em Dourados. “Foi orientado desde o início para usar o seu copo e a sua bomba. As pessoas usam máscara para não espargir gotículas, mas dividem tereré?”.
PREÇO DO COSTUME
A primeira cidade de Mato Grosso do Sul a decretar quarentena, o chamado lockdown, Guia Lopes da Laguna – a 233 quilômetros de Campo Grande – sofreu com a cultura. Segundo o prefeito Jair Scapini (PSDB), a bebida foi uma das responsáveis por espalhar o surto que se iniciou em um frigorífico no município pela cidade. “É o tereré que está trazendo essa pandemia”, reclamou o gestor em maio.
Conforme o médico infectologista Julio Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), além do compartilhamento da bebida, a “vida está normal em Mato Grosso do Sul”.
“O tereré é uma marca importante, é uma atividade cultural. Mas não tem distanciamento efetivo aqui no Estado. É uma atividade que deve ser evitada, assim como todas as que são feitas em conjunto”.
Para o pesquisador, que também é professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), evitar somente o compartilhamento do tereré, e não fazer um distanciamento social eficiente, não é o caminho. “É um conjunto de todas essas ações que vão fazer com que a curva reduza. Tanto o tereré quanto o afastamento social”.
ISOLAMENTO
A taxa de isolamento em Mato Grosso do Sul tem mantido a média de 39% durante a semana, mas, na sexta-feira, ocorreu a menor média no mês, 35,9%. Em Campo Grande, durante a semana a média foi de apenas 36% e no domingo chegou a 46,2%. A cidade com o maior isolamento na mesma data foi Japorã, com taxa de 63,6%. Sete Quedas registrou o menor índice e manteve apenas 29,2% das pessoas em casa.
Desde o dia 26 de junho, está em vigor em Rio Brilhante – a 160 quilômetros de Campo Grande – a quarentena, também chamada de lockdown.
Apenas o comércio essencial está em funcionamento. O decreto municipal prevê que o município ficará com as atividades comerciais fechadas por 14 dias. A mesma medida foi tomada na semana passada por Rochedo – a 82 quilômetros da Capital –, que restringiu a mobilidade de sua população por conta do avanço da doença no município. Ao todo, três municípios do Estado tomaram a decisão de restrição, mas apenas dois ainda mantêm todas as medidas até agora.