Militares brasileiros que trabalhavam na missão de paz no Haiti há mais de seis meses, incluindo 27 de Mato Grosso do Sul, desembarcaram em Campo Grande na madrugada de ontem, o que trouxe alívio aos familiares. Apesar da recomendação de que os militares deveriam ficar isolados até sexta-feira (29), alguns parentes esperavam ansiosos por eles na Base Aérea de Campo Grande. A aeronave KC-137 partiu de Porto Príncipe direto para Campo Grande e, após viajarem por cerca de sete horas, os 130 homens do 11º contingente brasileiro a trabalhar na missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti chegaram a Campo Grande, pouco antes de 1 hora da manhã de ontem. Eles estavam naquele País desde julho de 2009 e, após o terremoto que arrasou o Haiti (7 graus na escala Richter, no início da noite de terça-feira, 12/1), tiveram o retorno atrasado para auxiliar no socorro às vítimas e realizar ações emergenciais. A volta deles foi garantida com a chegada a Porto Príncipe do 12º contingente, formado por militares do Comando Militar do Sul. Sentimento O capitão Fábio Grisólia de Ávila relatou, logo após o desembarque, o que sentia ao pisar novamente em solo brasileiro. “É uma mistura de alegria, por estar de volta, e de pesar pelos companheiros”, disse o capitão, emocionado. Ontem, quando chegou, Ávila disse que foi difícil conter a emoção. Mas no Haiti, durante os trabalhos, a emoção teve de ser deixada de lado para dar lugar à força. “Conseguimos uma boa maneira de deixar o sentimento de pânico de lado para ajudar”, salientou, ao lembrar do dia em que aconteceu o terremoto. Família O atraso na chegada também aumentou a aflição das famílias, que esperavam ansiosas pela chegada dos “boinas azuis” de Mato Grosso do Sul – oito são de Aquidauana, 15 de Jardim, três de Campo Grande. Francisca Janes, de 34 anos, é esposa do sargento Raimundo Duarte, e, mesmo com a informação de que não poderia ter contato com o marido no desembarque dele, ela resolveu ir até a Base Aérea e levar o filho Lukas Adriano, que acabara de completar dois anos, para rever o pai. Como parte do procedimento padrão, quando chegam de missões internacionais, os militares brasileiros têm de passar por avaliações psicológicas e exames de saúde. Para isso, ficam em um período de “quarentena”, sem contato com a família. Apreensivo, enqua nto aguardava a chegada do avião em que estava o pai dele, Lukas não desgrudou da mãe um minuto sequer. “É muita ansiedade. Disseram que não era para vir, mas eu vim mesmo assim”, disse Francisca. Assim que o avião tocou o solo, mãe e filho já aguardavam à beira da pista. Naquele momento, Lukas deixou de abraçar a mãe, para acenar em direção ao avião à procura do pai. Eles assistiram à chegada da tropa e, no rosto de Francisca, estava o sentimento de alívio ao ver o marido em meio aos outros militares. Lukas só se conteve quando o pai chegou ao lado dele. Para a alegria da família, o protocolo foi quebrado, porém, o encontro resumiu-se a poucos minutos e um abraço. Agora, o sargento Duarte deve aguardar até sexta-feira para voltar a ver o filho e a esposa, quando for liberado da “quarentena”.