Na sexta-feira, o Banco do Brasil da Afonso Pena com a 13 de Maio, no centro de Campo Grande, permanceu fechado para impedir que a direção fosse intimada por oficiais de Justiça para bloquear R$ 41,5 milhões em favor de Edyjaime Eduardo Furtado. No final da tarde, decisão do Tribunal de Justiça derrubou a ordem inicial e o banco livrou-se do risco de ser obrigado a repassar a quantia milionária ao "proprietário" da ação judicial.
Artimanhas para impedir que oficiais de Justiça consigam citar as partes envolvidas em processos são corriqueiras. Porém, a manobra utilizada pelo Banco do Brasil certamente é inusitada e, por conta do alcance e da repercussão que teve na vida de milhares de cidadãos, precisa ser explicada nos mínimos detalhes, pois é simplesmente inconcebível que um banco oficial afronte a Justiça de maneira tão acintosa. É provável que o argumento oficial, de que havia um problema técnico que impediu a abertura das portas, venha a ser reafirmado. Porém, representantes da própria instituição confirmaram, informalmente, a versão sobre a manobra.
Por outro lado, é difícil de acreditar que a instituição financeira chegue a este ponto somente para postergar um pagamento, que cedo ou tarde deverá ser feito. A não ser, é claro, que os administradores deste banco tivessem evidências de que algo errado ou muito questionável estava em jogo. Bloqueio de R$ 41,5 milhões em favor de alguém que "comprou uma ação" judicial (inicialmente ela foi interposta por Luis Carlos Giordani Costa, filho do ex-governador Harry Amorim Costa) certamente não é brincadeira. Trata-se de uma soma estratosférica. E o indício mais forte de que algo estranho estava acontecendo é o fato de a decisão que determinava o bloqueio ter sido derrubada ainda na sexta-feira. Ou seja, se havia tanta necessidade e pressa para bloquear esta dinheirama toda, é de difícil compreensão que outro magistrado julgue de maneira exatamente oposta.
O mistério e os questionamentos a respeito do caso são gigantescos e para evitar que elucubrações equivocadas sejam feitas a respeito de todas as partes envolvidas, é impreterível que banco, advogados das partes e o próprio Judiciário façam os esclarecimentos necessários, pois se aconteceu alguma mutreta para tentar bloquear esta fortuna, os responsáveis precisam ser apontados, pois algo parecido pode acontecer no futuro e ninguém sabe quem poderá ser a próxima vítima. A soma é vultosa demais para que o caso fique encoberto por um possível corporativismo. O Conselho Nacional de Justiça está aí para analisar o caso. Isto, é claro, se houver algum indício de ilegalidade ou imoralidade. Por outro lado, se a direção do banco simplesmente recusou-se a cumprir uma ordem judicial líquida e certa, ela precisa ser punida e afastada, pois é inaceitável que milhares e milhares de correntistas e todo o dinheiro da administração estadual permaneça numa instituição que age desta forma. Quanto maior o silêncio, maiores serão as desconfianças. Por enquanto, absolutamente todos são alvo de suspeita e quanto maior o silêncio, mais nebulosa a situação fica.