Espécime pintada responsável pela morte de Jorge Avalo foi transferida para instituto paulista que mantém outras oito onças
Após as práticas de cevas que associaram a presença humana à comida, resultando na morte do caseiro de 62 anos, a onça-pintada que matou Jorge Avalo no Pantanal ganhou transferência nesta quinta-feira (15), levada do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) para um instituto paulista mantenedor de fauna silvestre.
Longe cerca de 1,2 mil de onde o ataque aconteceu, o instituto Ampara Animal fica localizado no município paulista de Amparo, com os cuidados de pouco mais de 20 dias em Mato Grosso do Sul resultando em um ganho de peso de cerca de 13 quilos no intervalo de três semanas.
Essa espécie trata-se de um macho de onça-pintada, encontrado pesando 94kg e deixando o Centro de Reabilitação em Campo Grande com 107 kg após exames, suporte nutricional e hidratação, como explica a veterinária gestora do Hospital Veterinário Ayty e coordenadora do CRAS, Aline Duarte.
"Porque chegou desidratado, com baixo peso. Os primeiros exames deram algumas alterações que eram agudas, mas que ao longo do período foi se tornando estável. O animal ganhou bastante peso, de forma geral evoluiu bem, chegou aqui com 94 quilos e está saindo com 107, devido a uma rotina de alimentação", diz.
Felino carnívoro de grande porte, essa onça-pintada precisou de suplementações de tratamento, com um medicamento hepatoprotetor, por causa do fígado, como bem esclarece a veterinária.
Transferência após morte no Pantanal
O Governo do Estado confirmou em nota que, além de outros animais silvestres no espaço, o instituto paulista abriga outras oito onças (sendo três pardas e cinco pintadas), abrigando principalmente animais que não podem mais serem soltos na natureza por interferência humana.
Vale lembrar que, em entrevista coletiva realizada no dia 23, o secretário adjunto da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Educação (Semadesc), Arthur Falcette confirmou que o caseiro Jorge Ávalo, o Jorginho, de 60 anos, alimentava a onça pintada que o matou em Aquidauana.
Justamente por isso, o responsável técnico da Ampara Silvestre, o veterinário Jorge Salomão, fez questão de ressaltar que o espaço que o animal será levado não permite qualquer tipo de visitação. As descrições do local apontam para recintos entre dois e seis mil metros quadrados, com "grotões" (cavados em solo) de mata nativa que são cercados.
"São o mais próximo possível do que o animal iria encontrar em vida livre. Recebemos animais que não podem voltar para a vida livre, por diversos motivos, cada um com o seu motivo específico", cita.
A veterinária coordenadora do Cras complementa dizendo a alegria profissional em poder tratar um símbolo de Mato Grosso do Sul, que ela classifica como "rainha do Pantanal".
"Então é uma honra a gente poder receber um animal desse e conseguir dar uma destinação correta para ele, assim como outros que já estiveram por aqui. Foi mais uma boa experiência que o CRAS teve, de poder atender adequadamente o animal", encerra Aline.
Relembre
Longe cerca de 300 quilômetros de Campo Grande, caso da morte de Jorge começou no desaparecimento do caseiro, posteriormente investigado agora como ataque fatal de animal silvestre, já que partes do corpo de "Seu Jorge" foram encontradas na manhã de 22 de abril.
Esse ataque teria acontecido por volta de 5h da segunda-feira (21), feriado de Tiradentes, sendo que uma foto de circuito interno divulgada indica que por volta de 06h52, no ponto do bote, só restavam marcas de sangue e os animais carniceiros no local.
Familiarizados com a região, os locais identificaram o "modus operandi" do ataque da onça foi desvendado, com o animal se escondendo às margens do rio antes de partir em arrancada.
Região conhecida por ser destino de turistas e pescadores, esse ponto do Rio Miranda costuma atrair animais para próximos das regiões mais habitadas em épocas de cheia, o que favorece o encontro de seres humanos com a fauna local.
A prática da ceva de animais é uma técnica utilizada principalmente por pesquisadores e fotógrafos da vida selvagem com o objetivo de atrair animais para observação, monitoramento, registro ou estudo científico. A palavra 'ceva' vem do meio rural e significa basicamente 'isca' ou 'alimentação oferecida' com a intenção de atrair determinados bichos a um local específico.
No caso das onças-pintadas, a ceva geralmente é feita com pedaços de carne ou carcaças de animais mortos (como bois, porcos ou outros animais de médio porte). A prática é utilizada especialmente em projetos de pesquisa e documentação fotográfica.
Nos últimos anos, alguns pesqueiros no Pantanal de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul passaram a fazer uso da ceva para atrair turistas. A prática da ceva é condenada por ambientalistas.
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