Mato Grosso do Sul iniciou na quinta-feira (2) a nova Caravana da Saúde, que agora tem duas vertentes: o Opera MS e Examina MS.
O objetivo é reduzir a demanda por consultas e exames, situação que ficou ainda pior durante a pandemia da Covid-19, já que os procedimentos eletivos ficaram suspensos.
A demora reflete diretamente na saúde dos pacientes, como o caso do aposentado Osmundo Cardoso, 82 anos, que após três anos precisando de uma cirurgia oftalmológica perdeu a visão do olho direito.
“Eu estou esperando a três anos para fazer duas cirurgias, uma de vista e uma da hernia. Eu já estava correndo atrás dessas cirurgias antes mesmo da pandemia, de repente chegou a Covid e o que eu achei que seria resolvido ficou paralisado."
"Eu não enxergo mais de um olho e minha hérnia dói. Quero resolver isso”, contou o idoso, que mora em Campo Grande.
Para tentar acelerar o processo, Cardoso conta que chegou a pensar em se mudar de Mato Grosso do Sul.
Em frente ao Centro de Especialidades Médicas (CEM), o aposentado tenta, mais uma vez, marcar os procedimentos.
“É muito ruim e desgastante ficar nessa agonia. Sempre venho aqui perguntar quando poderei ser operado. Minha esperança agora é conseguir essas cirurgias na Caravana.
Muita gente está esperando por isso, muita gente está esperando exames e cirurgias, assim como eu. Só quero ter o atendimento que eu necessito e não quero mais, nem menos”, declara, lembrando que, para tentar agilizar o andamento, fez um dos exames necessários no Paraná.
“Eu ia embora para fazer as cirurgias no Paraná, porque lá eu consegui fazer os exames dos meus problemas, o que não consegui fazer aqui”.
Ontem o idoso foi ao CEM fazer uma cirurgia rápida na orelha, mas não sebe quando vai fazer as outras.
“Eu tenho 82 anos e espero a três por cirurgias que, na minha opinião, não são tão difíceis assim. É ruim conviver com algo que você sabe que pode ser resolvido”.
A história do aposentado não é diferente da de muitas outras pessoas que tem que aguardar por anos à espera de uma consulta, exame ou mesmo cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo o titular da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), José Mauro Filho, a Pasta imagina que, somando as cirurgias e os exames, sejam necessários cerca de 40 mil procedimentos na Capital. Entretanto, ele pontua que o número pode ser menor devido a demora na assistência a essas pessoas.
“Há muitas indicações de que pode ser diferente [o número de procedimento], então começa com a avaliação dos pacientes, tem que ser feito um grande ambulatório pré-operatório para se avaliar exatamente qual é aquele caso, muitos pacientes já operaram por meios próprios, outros pacientes já foram a óbito."
"Há uma necessidade de reavaliar essa fila, pois 70% dos procedimentos do ano passado ficaram retiros e consequentemente será um número muito diferente do que a gente tem em mente."
"Eu acredito que seja um número menor do que a gente tem hoje na fila oficial”, declarou o secretário, durante evento do governo para anunciar o início da Caravana.
PROGRAMAS
De acordo com o governador do Estado, Reinaldo Azambuja, além das 70 mil cirurgias eletivas e 59 mil exames, há possibilidade de que esse número seja ampliado para que a fila de cirurgias e exames chegue próximo a ser zerada em Mato Grosso do Sul.
“É muito difícil falar em zerar a fila porque a fila é crescente, você atende 70 mil e mais gente entra na fila. Mas o importante é que nós vamos destravar isso que está muito parado.
Os hospitais não conseguem fazer essas cirurgias eletivas hoje na velocidade que gostaríamos e por isso idealizamos a Caravana de cirurgias e de exames.
Eu acredito que nós vamos diminuir muito essa fila e, se possível, como o Estado tem condição de aportar mais recursos, eu não tenho dúvida de que a gente vai chegar muito próximo de zerar as filas.
Atualmente o investimento para realizar o programa é de R$ 120 milhões, valor repassado pelo Estado para os hospitais e clínicas contratadas.
Até agora já são 39 lugares cadastrados em todo o Estado - número referente apenas aos centros médicos do SUS ou conveniados.
Contudo, ontem foi aberto o cadastro para que entidades privadas também participem da Caravana e ajudar a dar celeridade ao processo.
Essa velocidade de atendimento é a esperança de Railda Sousa, 48 anos, moradora de uma fazenda em Coxim.
Necessitando de uma tomografia no peito, ela diz que perdeu a chance de realizar o procedimento na cidade e agora veio a Campo Grande para tentar marcar o exame.
“Eu preciso fazer uma tomografia no peito. Uma carreta passou lá na cidade fazendo exames e quando anunciaram no rádio eu me organizei para ir à cidade, mas aí eles já tinham ido embora. Agora estou tentando agendar aqui.
A última tomografia que eu fiz foi em 2018 e se Deus quiser logo farei uma nova para resolver os meus problemas”.
Já o caso de Marcelo de Carvalho, 35 anos, morador de Bela Vista, é de cirurgia. Ele contou que após um acidente, fraturou o ombro e ficou sabendo ontem que necessitaria de intervenção médica.
“Eu sofri um acidente de moto, fraturei meu ombro e me disseram que eu não precisaria fazer cirurgia, mas agora voltei aqui ao CEM e me disseram que vou precisar de cirurgia. Agora tenho que esperar me chamarem”.
CAMPO GRANDE
Na Capital, de acordo com o secretário municipal, há algumas pendências a serem aparadas para saber realmente qual passivo de procedimentos será contemplado com a Caravana.
Segundo ele, em relação aos exames, muitas clínicas se interessaram, porém, nem todos os hospitais se dispuseram a realizar as cirurgias por causa do valor a ser pago pelos procedimentos.
“Eu acredito que em relação aos exames, o oferecido é atrativo para as clínicas, portanto, foi o segmento que mais teve adesão."
"Isso eu acredito que não será o problema. Na parte cirúrgica, há ainda necessidade de uma avaliação em relação a composição do pacote cirúrgico, ele tem que ser avaliado dentro de uma realidade de custo que o hospital tenha interesse em realizar”, declarou, lembrando que o número de procedimentos dependerá da quantidade de entidades interessadas em participar da ação.
Durante o programa estão previstas a realização de 94 tipos de procedimentos cirúrgicos e 66 tipos de exames de média e alta complexidade.
O secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, afirmou que espera que esse volume seja finalizado até outubro de 2022.
“Muito dessas cirurgias estão judicializadas, a gente quer primeiramente vencer todas essas, depois aquelas que já estão na regulação, e paulatinamente a gente também poderá recepcionar novas demandas”.
A cerimônia de lançamento da nova etapa da Caravana da Saúde foi realizada na sede da Associação dos Municípios de Mato Grosso do Sul (Assomasul) e contou com a participação de autoridades em saúde e parlamentares do Estado.