AGÊNCIA ESTADO, SÃO PAULO
As reservas de minério de ferro de Mirassol D´Oeste, com 11,5 bilhões de toneladas de minério de ferro e 450 milhões de toneladas de fosfato, divulgadas pelo governo do Estado de Mato Grosso nesta semana, correspondem a mais de um terço do total de 30 bilhões de toneladas do País estimado pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) com base em estatísticas do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Com as novas reservas de ferro, o total projetado salta para 41,5 bilhões de toneladas.
A exploração dos depósitos foi requerida pela GME4, empresa que atua na prospecção e no desenvolvimento de depósitos minerais, para venda ou formação de joint ventures no mercado nacional e global. A GME4 tem como sócios Daniel Dantas, do Grupo Opportunity, e o geólogo João Carlos Cavalcanti. A assessoria de imprensa da GME4 disse que, por enquanto, a empresa não vai se pronunciar sobre as reservas descobertas.
Segundo fontes da Secretaria de Indústria, Comércio e Minas e Energia do Mato Grosso, a GME4 tem autorização para pesquisas numa área que totaliza um milhão de hectares no Estado. Há alguns anos, os diretores da empresa estiveram na secretaria e disseram que tinham a intenção de atrair investidores para explorar as jazidas que fossem encontradas.
“A perspectiva de tempo médio entre a descoberta de uma reserva e o início das operações é de cinco a sete anos”, disse o presidente do Ibram, Paulo Camillo Penna. Justamente por essa defasagem entre a identificação dos depósitos e a mineração efetiva é que o mercado não espera que a descoberta afete os negócios da Vale no curto prazo, nem a relação apertada entre oferta e demanda da commodity prevista para os próximos três anos.
A China é o maior produtor mundial de minério, mas suas reservas têm baixo teor de ferro contido, o que desperta o interesse dos chineses por mineradoras em todo o mundo e por ativos da matéria-prima.
Teor de minério
A qualidade das reservas de minério de Mirassol D´Oeste, com teor de ferro contido de 41%, é bastante inferior às da Vale, cujo grau médio é de 56,5%. Considerando apenas o Sistema Norte da Vale, onde está Carajás, o teor de minério sobe para 66,7%.
“A qualidade do minério das reservas descobertas em Mato Grosso são razoáveis, mas demandam beneficiamento, pois o teor mínimo para comercialização é de 58%. A Vale se incomodaria só se uma nova Carajás tivesse sido encontrada”, disse o analista da Geração Futuro Rafael Weber. Segundo ele, é preciso saber se o teor das reservas é homogêneo.
Na avaliação de um analista que pediu para que seu nome não fosse divulgado, o teor de 41% já é economicamente viável. Já o analista da Coinvalores Marco Saravalle diz que a viabilidade da exploração das novas reservas vai depender da tendência dos preços do minério no longo prazo.
A questão logística será outro fator determinante para a definição da viabilidade do projeto de Mirassol D´Oeste, na opinião de analistas. “As reservas estão mais distantes dos portos do que as demais. A produção do Pará tem infraestrutura pronta de escoamento no Maranhão e de Minas, no Espírito Santo e no Rio de Janeiro”, compara Weber, da Geração Futuro. “Hoje há dificuldade para escoamento do minério de Mirassol D´Oeste. Não existe infraestrutura para isso”, acrescenta o presidente do Ibram.