Quando do falecimento do líder francês, o presidente François Mitterand, a beira de seu túmulo alguém teria dito: “só se conhece o homem, após sua morte”. Para mim e para todos aqueles que tiveram o privilégio de conviver com José Manoel Fontanillas Fragelli aquela exortação não se insere na sua personalidade. Fragelli foi transparente em seus atos e pensamentos por toda a sua existência.
Folheio nas páginas do tempo para lembrar que conheci Fragelli no ano de 1947, ele candidato a deputado estadual, já vibrante e consagrado nas tribunas do júri popular e dos comícios públicos, nestes na divulgação dos ideais democráticos recentemente restaurados com a queda do Estado Novo, tudo mercê sua profunda cultura jurídica que se alicerçava em proficientes conhecimentos humanísticos; na época, eu, já seu admirador, era um estudante ginasiano com gosto pela política. D’aí para frente meu respeito e admiração pela sua figura política só cresceu, culminando por uma fraterna amizade que atravessara os umbrais da generosa saudades dos momentos.
Lá se vão, pois, muito mais do que meio século. Nesse longo tempo sua influência na política de nossos Mato Grosso e na Federação Brasileira foi marcada por passos de um autêntico líder. Fragelli, não se preocupava tão-somente com as magnas questões de interesse público, debatendo-as com um vigor quase carbonário, tanto para louvá-las, como para vibrar em combate-las, como dava minuciosa atenção aquelas do dia a dia que ora diziam à defesa de seus companheiros políticos, ora se referiam às questões da rotina administrativa, isto como secretário de estado, governador ou como presidente do Senado da República, onde o primado sempre foi absoluta exação no zelo do bem público – na defesa do qual jamais tergiversou.
Na longa caminhada ao seu lado, pude testemunhar eloquentes episódios de seu sentimento de solidariedade aos que o acompanhavam, às lideranças que lhe, como antecessoras, mostraram o bom caminho, tais como Vespasiano Martins, Fernando Corrêa da Costa e seu pai Nicolau Fragelli. Fragelli jamais arredou-se de sua trincheira democrática, intrépido, corajoso – até para o desforço físico, se necessário – sempre usou sua palavra flamante na defesa daqueles postulados que molduraram sua personalidade cidadã. Jamais tergiversou quando a luta era no combate à corrupção, ao compadrio e de todos os males crotálicos que, no passado, envenenavam os costumes políticos – hoje muito mais ainda. Recordo-me que numa das últimas visitas que fiz ao Fragelli (o visitava com certa frequência em sua residência em Aquidauana), já bem marcado pelos vincos da velhice, mas perfeitamente lúcido, foi candente quanto o que acontecia – e ainda hoje mais ocorre – no meio da política e lamentava a falta de lideranças com impeto cívico para combatê-las. Sentia eu que se o Fragelli pudesse reunir suas forças físicas, a sua inteligência aguda percuciente e ferina contra o que aí está, a sua presença seria na linha de frente.
Fragelli, sempre preocupado com os destinos do nosso Brasil e dos nossos Mato-Grossos irmãos, lega-nos um magnífico exemplo de honradez, dignidade, acentuado civismo e a princípios inarredáveis para com a família e com os valores maiores à cidadania. Fragelli é a estampa exata daquele expressão magistralmente ditada por Benjamin Disraeli, pensador e político britânico: “O verdadeiro homem público é aquele que pensa nas futuras gerações, não aquele que pensa nas próximas eleições”.
Os que lamentam a ausência do Fragelli em nosso convívio terreno sabem que ele foi muito, muito além nos seus méritos, os quais, saudoso, aqui registro. Seus exemplos desafiam o tempo.
Ruben Figueiró de Oliveira, suplente de senador