Os sintomas da Covid-19 não são novidade, mas só quem já abriu o exame e notou o resultado “positivo” pode contar com propriedade pelo que passam aqueles que foram infectados pelo novo coronavírus. São sinais que variam do nada a dores, febre, falta de ar.
A equipe de reportagem do Correio do Estado conversou com três pessoas que entraram para as estatísticas como casos sintomáticos da doença.
ME SALVA QUE VOU MORRER
Kabril Yousseff é o primeiro deles. O cônsul da Síria em Mato Grosso do Sul foi um dos primeiros e mais graves pacientes com Covid-10 no Estado.
“No começo, nem sabia que estava com o vírus. Passei dez dias com febre que não passava, mesmo tomando remédios. Então comecei a ter dificuldades para comer, perdi o apetite e 12 quilos. Não sentia nada no corpo”, relata.
Quando decidiu procurar ajuda médica, estava a um passo de ser tarde demais. “Comecei a perder a voz. Fui ao Proncor de Campo Grande. Assim que vi o médico disse: me salva que vou morrer. Naquele momento eu vi a morte na minha frente. Não vi mais nada, não me lembro de mais nada. Entrei em coma. Acordei 15 dias depois em São Paulo, no Hospital Sírio Libanês. Foi horrível, não sabia onde estava. Soube que minha filha contratou uma UTI aérea para fazer o transporte”.
Kabril ficou vários dias internados. O tratamento envolveu uma série de remédios, incluindo a combinação de hidroxicloroquina e azitromicina. Não há como saber se as substâncias foram fundamentais na recuperação, mas ele diz que exames mostraram que mais de 90% dos pulmões chegaram a ficar comprometidos.
“É a pior doença que já tive na vida”, completa o cônsul.
PESADELO
A enfermeira Keity Marielle foi a primeira profissional da área notificada para Covid-19, segundo o Conselho Regional de Enfermagem (Coren). Ela disse que o quadro começou com quatro dias seguidos de febre com picos que chegavam a 38,9°C.
“Sentia muitas dores de cabeça, de grande intensidade, que me fizeram ficar deitada em meu quarto em casa. Na sequência, ganhei de presente a tosse seca, muito seca, tive vez de tossir tanto que meu tórax levemente doía, fui hospitalizada quando começou um leve desconforto. Minha saturação caiu para 88%; 89%. Cheguei a ir para Dourados, fiquei na UTI apenas para monitoramento, não fui intubada”, conta a enfermeira.
Keity perdeu o apetite. “comia por obrigação. Mesmo assim, era uma sensação de repulsa. Eu fiz uso da hidrocloratiazida + azitromicina. Minha condição parece que ia melhorando. A pior parte, pra mim, era ouvir meu filho de 3 anos pedindo beijo, abraço e eu não poder ficar perto, não poder tocá-lo”, conta.
Agora recuperada, ela manda o recado. “Tudo isso é real. Não desejo para ninguém o que passei. Acredito sim que hoje, muitos já pegaram ou estão portando esse vírus mesmo que não apresentem sintomas”, completa a enfermeira.
REPENTINO
O guarda municipal Reinaldo Marques de Matos, 39 anos, não sentiu dores ou falta de ar. Teve apenas febre. A tia dele morreu com a doença. Ele começou a ter febre e só. Foi a uma consulta médica e começou a tomar hidroxicloroquina e azitromicina. Contudo, a temperatura não baixava. Foi ao hospital. O exame de Raios X revelou: seu pulmão estava comprometido.
“Minha tia faleceu em um domingo às 2h. A noite ligaram para nós confirmando que ela tinha testado positivo para Covid e eu já estava com febre havia três dias. No dia seguinte fui no drive-thru e fiz o exame. O resultado positivo saiu 48h depois. Na quinta fui ao hospital por recomendação médica. Não estava sentindo nada. Mesmo assim, pediram internação de três dias. Fiz a radiografia. O médico disse que estava com princípio de pneumonia. Fizeram uma gasometria e a oxigenação do meu sangue não estava normal, bem abaixo. Entendemos que a Covid estava tentando tomar conta do pulmão e fui para a UTI por cinco dias, sem intubação, mas com oxigênio”.
A indignação de Reinaldo é que se não fosse a indicação de um médico próximo da família, ele provavelmente teria seguido a recomendação de só procurar ajuda quando tivesse algo além da febre, como falta de ar. Nesse caso, já poderia ser tarde demais.
“Graças a Deus eu tive o que chamo de antecipação de todas as dores porque fui medicado antes e tive uma boa recuperação”, completa.