Na disputa pela sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a oposição prevê falta de espaço para fazer “invenções e experimentos” nas propostas ao eleitor. Segundo alguns de seus integrantes, a ideia é fazer o básico, mas mirando alvos onde o atual governo teria deixado a desejar. Esses focos serão infraestrutura, saúde, juventude e segurança, a partir de um projeto articulado de desenvolvimento. Outro ponto básico será o conceito da capacidade de gestão. Para a oposição, o PT aparelhou o Estado e descuidou- se de sua eficiência. “O PT inchou a máquina, mas ela não funciona. O problema central não é nem o número de funcionários públicos. O que não pode é haver cada vez mais gente e eles não serem eficientes”, diz o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). A primeira transformação imediata que os aliados ao governador e candidato tucano à Presidência, José Serra, se propõem a fazer é a “reforma de hábitos e costumes” na relação com o Legislativo e o Judiciário. “Nosso governo vai primeiro reformar os hábitos, a começar do tratamento que o Executivo dispensa ao Legislativo. A relação não é republicana e isso tem de acabar”, afirma o deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC), ao destacar que, para isso, não precisa de reforma política. “Precisa é de presidente”. O que a oposição não esperava é que a disputa dos dois lados se transformasse numa espécie de vale-tudo, depois que o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), criticou o atual governo em entrevista à revista “Veja”, afirmando que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não existe e tem cunho eleitoral. O próprio Lula ajudou a subir o tom da discussão, chamando Guerra de “babaca”, em reunião ministerial na quinta-feira. “O governo atual não é democrático, a relação entre os poderes está deteriorada e o Congresso extremamente diminuído. A ministra Dilma Rousseff não aponta para nada de construtivo no País”, reforça Guerra. “A mediocridade deste governo vai se fazendo com maus hábitos, a começar da corrupção, que não escandaliza mais ninguém”, emenda o senador Jarbas Vasconcelos (PMDBPE). Dissidente do PMDB governista, ele espera de Serra que “avance no que Lula não conseguiu fazer”, como a infraestrutura “imprescindível a qualquer programa de desenvolvimento”. Na avaliação do ex-prefeito do Rio César Maia (DEM), a discussão aberta de tucanos e governistas poderá ser uma das tônicas da campanha. “Acho que a eleição não tende a ser temática, tende a ser decidida num clássico segurança versus insegurança do eleitor em relação ao futuro”, diz César Maia. “Vale dizer que as candidaturas tentarão aportar essa dúvida ou insegurança no eleitor. Algo como: ‘é a chegada do chavismo no Brasil contra a volta do FHC’”. A lém de irritar os adversários, Guerra provocou alvoroço no tucanato com a entrevista em que pregou mudanças no câmbio, nos juros e nas metas de inflação. Mas no PSDB e no DEM n i nguém tem dúvida de que os pilares da economia – câmbio flutuante, sistema de metas de inflação e rigor fiscal – estão aí para ficar. A “calibragem” é que ficará por conta do presidente, independentemente de quem vencer as eleições. Para confrontar o PT de Dilma, que acusou o PSDB de planejar o fim do PAC, os tucanos dizem que farão um programa diferente: o de São Paulo. “Queremos o PAC eficiente do Serra, em que obra começa, termina no prazo e a população ganha. Ele cumpriu 100% do que se comprometeu”, argumenta o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA).