A longa espera por consultas de médicos especialistas da rede pública de saúde ficou ainda maior com a paralisação dos atendimentos durante a pandemia de Covid-19. De acordo com a Prefeitura Municipal de Campo Grande, a fila de espera ultrapassa 12 mil pessoas que aguardam por consultas, exames e cirurgias eletivas, com problemas que podem agravar devido à espera. A situação é semelhante a superlotação que atingiu os três hospitais de Campo Grande, que tem atualmente uma fila com 175 pacientes em unidades de saúde à espera de transferência para um leito hospitalar.
Nilza de Jesus, 76 anos, é uma das pacientes que aguarda o atendimento especializado na rede pública. Com a visão do olho esquerdo prejudicada, ela teve o problema de saúde agravado com a espera de mais de um ano para ser atendida no Centro de Especialidades Médicas (CEM), mesmo sendo uma questão urgente. O marido de Nilza, Joaquim Rufino, explica que da última vez que agendou, a consulta foi cancelada três dias antes por causa da pandemia. “Ela não está enxergando nada de um lado. No postinho de saúde que vai para acompanhar, ela passa pelo médico e sai sem nem saber o que é e o que está fazendo ficar cada vez pior”, detalha Rufino.
Rufino relata que a esposa tem outras consultas e cirurgias que devem ser agendadas, mas estão sem respostas há mais de seis meses. “Agora está tudo parado e quando chamar, ela vai ter que fazer todos os exames de novo, vai demorar mais ainda”.
Situação semelhante é de Rosa Maria, de 58 anos, que sofre de dores intensas causadas pela artrose no corpo e que, com a demora de quase dois anos para atendimento, está perdendo o movimento das mãos, pernas e pés. “Já tem 20 anos que eu trato. Aqui para esperar consulta é muito demorado, já tem mais de ano. Eu sinto muita dor na mão no braço, no pé, já está tudo inchado”, explica.
Na consulta o médico especializado pediu exames de raio-x, que também serão feitos no CEM e Maria terá que esperar novamente para ser chama para agendamento. “Tenho que aguardar para marcar os exames e depois que pegar tem que esperar para marcar outra consulta. Agora mesmo marcou para chamar para agendar, agora vai saber quando vão chamar”.
De acordo com Maria, com a pandemia a demora para agendamento aumentou ainda mais e que com isso as dores no corpo são agravadas. “Piora né, porque dói, eu não consigo nem fazer as coisas da minha casa, dói muito e está tudo inchado”.
Sueli Marques, de 50 anos, está na fila há dois anos, para ser atendida por um neurocirurgião. Para resolver os problemas com epilepsia, ela pegava receitas médicas no posto de saúde enquanto não era chamada.
Em fevereiro, Sueli conseguiu agendar, mas com a paralisação na pandemia teve que esperar mais seis meses para ser chamada novamente. Ela explica que o neto tem bronquite asmática e também estava na fila de espera para ser atendido por um pneumologista. “Cheguei cedo aqui, eu vim trazer ele no pneumologista e tive que esperar, porque não adianta ir em casa e voltar de novo. Minha consulta é 15h40 com neurologista e tem que ficar esperando”.
Suspensão
Em março deste ano todos os exames e consultas foram adiados devido ao decreto que suspendeu os atendimentos eletivos na Rede Municipal de Saúde devido a pandemia. Antes da paralisação cerca de 12 mil pessoas estavam na fila de espera para consultas, exames e cirurgias eletivas em diversas especialidades. Após três meses sem funcionar, em julho, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) retomou o agendamento das consultas especializadas em Campo Grande. No entanto, pacientes do interior ainda não estão sendo atendidas. A Sesau ainda não refez o levantamento da espera atual, no entanto, a tendência é que o número de pessoas em espera tenha aumentado.
Os pacientes na fila são informados por telefone sobre a data e horário da consulta. Os atendimentos ocorrem durante manhã, tarde e noite de segunda a sexta-feira, no CEM.