E Deus disse: “Comerás o pão com o suor do teu rosto” (Gen.3,19)) É um sonho de todo o ser humano poder chegar a ser autossuficiente, independente e plenamente realizado. Em muitos casos não se incomoda com as exigências e desafios que a vida lhe impõe. Luta com todas as energias pois sabe o preço desse “pão” do qual deseja se fartar.
A campanha da fraternidade desse ano diz que “o trabalho humano é elemento essencial de todo o desenvolvimento e assume uma importância decisiva nas questões sociais no sentido de tornar a vida mais humana” (Texto Base, 55). O trabalho não é privilégio apenas de alguns. É um direito de todos. Um direito adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade e segurança, sem quaisquer formas de discriminação, capaz de garantir uma vida digna a todas as pessoas que dele se ocupam.
Nossa sociedade está em dívida muito séria com a população, especialmente com a classe mais empobrecida. Está devendo emprego em qualidade, uma proteção social digna e acessível a todos, um respeito profundo aos princípios e direitos fundamentais de formar associações e comunidades em que todos se sintam solidários e livres em reivindicar seus direitos e gozar de convivência saudável.
Infelizmente constata-se uma chaga ainda sangrando nesta nossa sociedade. Ainda existe trabalho escravo, trabalho informal, trabalho inseguro e instável e não protegido pela lei. Proliferam o subemprego e o desemprego. Está pesando ainda o difícil acesso ao atendimento à saúde e do desemprego.
Um lamentável contraste acontece todos os dias e a toda a hora para quem circula pelas ruas e avenidas de nossas cidades. Ônibus superlotados de seres humanos misturando o cheiro do suor com os sentimentos de angústia, de sofrimento, de raiva, de medo e de revolta. Seres humanos tendo que aceitar os maiores vexames para garantir seu emprego e sua sobrevivência. E ao lado carros conduzindo apenas uma ou duas pessoas com ar-condicionado, boa música e espaço e conforto à vontade.
Trabalhadores que levantam de madrugada para não perder a hora e o emprego. Outros que também levantam cedo e passam o dia à procura de um emprego para poderem minimizar a dor e o sofrimento de suas famílias. Outros ainda precisam inventar alguma forma de sobrevivência para não sucumbirem na dor e no desespero. São verdadeiros artistas que tiram da mente e do coração segredos para garantir o pão abençoado de cada dia e prolongar um pouco mais sua vida.
E o mundo poderia ser melhor se o ser humano fosse mais compreensivo e mais solidário e mais desapegado de seus bens. E se dispusesse a acolher e observar a palavra de Deus trazida ao mundo por seu filho Jesus Cristo. É ele quem revela o desejo profundo do Pai em ver seus filhos e filhas vivendo um único amor, partilhando uma só e mesma verdade e usufruindo da mesma liberdade. Deus abençoe os trabalhadores e trabalhadoras de nosso Brasil.
Frei Venildo Trevizan