Custo para alguns eleitores do Pantanal deslocarem-se até Corumbá pode chegar a R$ 400, o que tem aumentado o índice de abstenção na cidade
O fechamento de pelo menos nove seções eleitorais em regiões de difícil acesso no Pantanal de Corumbá, nas últimas décadas, dificultou o comparecimento do eleitorado rural na cidade, para onde foram transferidos seus títulos, no dia de eleição.
A ausência desse eleitor tem contribuído para que o município registre uma abstenção superior à média nacional, alcançando 25,75%, em 2018, e 26,02% (recorde), em 2020.
Quem mora no Pantanal tem um custo de transporte elevado para deslocar-se à cidade – os colonos do Taquari pagam R$ 400,00 de ida e volta – e aqueles que tem a opção de transporte gratuito, oferecido pela Justiça Eleitoral, enfrentam viagens longas e cansativas e calor acima de 40 graus.
É o caso dos 25 eleitores do histórico Forte Coimbra, que vão percorrer 125 km em ônibus convencional até a seção 175 no distrito de Porto Esperança, neste domingo.
Coimbra, fortificação do Exército situada na fronteira tríplice com Paraguai e Bolívia e às margens do Rio Paraguai, ao Sul de Corumbá, é um dos locais onde funcionou uma seção eleitoral.
O domicílio eleitoral dos moradores foi transferido para Porto Esperança, também situado na beira do rio, para onde seguiam de barco em dia de eleição. Agora, segundo o cartório eleitoral de Corumbá, os eleitores optaram pela viagem por terra.
Prejuízo à cidadania
“Hoje, com Internet nas escolas rurais e energia solar instalada no Pantanal, nada impediria os resultados da votação serem transferidos das urnas eletrônicas direto para a apuração na cidade”, afirma o produtor pantaneiro Armando Arruda Lacerda.
“Foi cassada a cidadania pantaneira por interferência do profundo desconhecimento sobre as peculiaridades da região e o comodismo omisso da Justiça Eleitoral”, aponta.
Quando funcionavam as seções eleitorais pantaneiras, os próprios fazendeiros davam apoio no transporte das urnas e mesários, de avião ou barco.
“Dia de eleição no Pantanal era especial, de festa, as comunidades se reuniam e o pantaneiro se orgulhava do direito de votar”, lembra o pecuarista Manoel Martins de Almeida, que tem propriedade na sub-região do Paiaguás. “O fechamento das seções foi um prejuízo lastimável à cidadania”, observa.
Para a eleição deste domingo, o cartório eleitoral de Corumbá organizou o transporte gratuito dos eleitores rurais, com sete rotas, atendendo também a comunidade de Porto da Manga (60 km da cidade) e os assentamentos situados na fronteira com a Bolívia, onde funcionarão três seções.
Os eleitores de Porto Morrinho (ponte sobre o Rio Paraguai, na BR-262), embora distantes 14 km de Porto Esperança, vão votar em Corumbá, a 70 km.