DANIELLA ARRUDA
Operação Jaguar, deflagrada pela Polícia Federal, anteontem, em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraná, desmantelou quadrilha especializada no abate clandestino de onças no Pantanal e em outras regiões do País. Dez pessoas foram presas por envolvimento no esquema criminoso, que consistia na organização de safáris para caçadores estrangeiros e brasileiros em fazendas particulares dos três Estados e comercialização das peles dos animais abatidos, que inclusive estariam sendo levadas para outros países. Até mesmo onças monitoradas pelo programa Pró-Carnívoros do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) e um exemplar de onça negra, considerado raríssimo na natureza, teriam sido abatidas por meio da atuação da quadrilha.
Dos sete mandados de prisão temporária expedidos pela Justiça, atendendo a representação da Polícia Federal, quatro foram cumpridos, sendo dois em Sinop (MT) e os demais em Miranda (MS). Todos os detidos deverão ser transferidos para Corumbá, onde tramita o inquérito da PF. A operação denomina-se jaguar por ser este um dos nomes pelos quais é conhecida a onça, maior felino das américas.
Durante o cumprimento de outros 14 mandados de busca e apreensão, os policiais encontraram arsenal de armas e munição utilizados nas caçadas, além de grande quantidade de couros, cabeças empalhadas e outras partes dos animais abatidos. O total de armamento e de produtos de caça ainda não foi contabilizado.
O armamento foi localizado em Cascavel (PR), na residência do dentista Eliseu Augusto Sicoli, apontado como o líder da quadrilha. Sicoli, que foi preso anteontem em Sinop (MT), onde estaria coordenando mais um safári, seria o responsável pelo agenciamento e recepção dos “turistas”, contratando pessoas dos Estados onde aconteceriam as caçadas para servir de guias. Somente no ano passado, 28 exemplares de onça pintada teriam sido abatidos, segundo informou à PF o acusado.
As investigações começaram há nove meses, depois que o Ibama informou à Polícia Federal ter havido o desaparecimento de duas onças “encoleiradas” (monitoradas) por meio do programa Pró-Carnívoros na região de Corumbá. Posteriormente, segundo informações do superintendente regional do Ibama em Mato Grosso do Sul, Davi Lourenço, foram encontradas carcaças de onça na mesma região. “A Embrapa (Pantanal) constatou que não era morte por causa natural. Havia marcas de objeto pontiagudo, portanto estava ocorrendo abate de animais”, disse.
Fazendas do Pantanal sul-mato-grossense passaram a ser alvo das investigações, porém a Polícia Federal descobriu que o esquema de abate clandestino também era praticado em áreas próximas ao Parque Nacional do Iguaçu, entre Cascavel e Foz do Iguaçu, e Sinop (MT). Ao todo, a Operação Jaguar envolveu um efetivo de 70 pessoas, entre policiais federais e civis e agentes do Ibama dos três Estados.
Esquema
Segundo o delegado responsável pela Operação Jaguar, Mário Nomoto, eram duas as modalidades de abate clandestino agenciadas pela quadrilha – a primeira é a caça esportiva, por hobby, e a segunda é aquela contratada por fazendeiros para eliminar animais que estavam dizimando o rebanho. “Eram cobrados US$ 1,5 mil (o equivalente a R$ 2,6 mil) por ‘safári’, fora o transporte e hospedagem’”, informou.
De acordo com as investigações, os caçadores chegavam ao Pantanal por meio de aviões particulares e caminhonetes traçadas, acampando em fazendas da região, equipados com modernas armas de caça. Nas propriedades, utilizavam-se do serviço de guias especializados em caça de onças e cães farejadores, que acuavam os animais para tocas ou para o topo de árvores. “O tiro fatal era dado com armamento calibre 22, na parte inferior do animal, para não prejudicar o couro”, explicou o delegado.
Após os registros fotográficos dos abates, as carcaças eram destruídas, porém há evidências de que alguns “troféus” eram levados até para o exterior. Para isso, os animais abatidos eram taxidermizados (empalhados) por um profissional em Curitiba (PR).
As investigações não se encerram com a Operação Jaguar. Segundo o delegado Mário Nomoto, a PF trabalha agora para identificar os fazendeiros e propriedades que participavam do esquema. Outro ponto a ser investigado será a logística utilizada pela quadrilha para enviar para fora do país os produtos da caça clandestina.