Polícia

VIOLÊNCIA BRUTAL NA CAPITAL

'Bonde do Terror': fluxo do Zé Pereira tem o seu desfecho trágico

Estoquista de 24 anos ousou reclamar do barulho. Acabou espancado a pauladas

RAFAEL RIBEIRO

05/10/2019 - 11h46
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Funk em alto volume, uso de drogas e relações sexuais na frente de crianças, em plena via pública. E uma vizinhança assustada.

Considerado até então um bairro periférico relativamente tranquilo de Campo Grande, o Jardim Zé Pereira, na região oeste, viveu na manhã deste sábado (5) o desfecho trágico de um enredo que há semanas moradores tentam se livrar: um estoquista de 24 anos foi violentamente espancado a pauladas por um grupo de até 15 adolescentes. A motivação: ousou reclamar do barulho feito pelo grupo nas ruas do bairro.

O caso aconteceu por volta das 6h. Segundo testemunhas relataram ao Correio do Estado, a vítima saiu de sua casa disposta a dialogar com o grupo que transformou as ruas da região em uma festa proibida sem limites. Sua mulher está grávida de 3 meses, o repouso é necssário, mas há pelo menos dois meses que a palavra simplesmente não existe no Zé Pereira nas noites de sexta-feira.

Formou-se o tal 'fluxo', como os fãs de funk chamam o encontro de adeptos do gênero musical em ambiente aberto para ouvirem suas melodias, quase sempre recheadas de apologia ao crime e ao uso de drogas. A timidez do início deu lugar a um ponto de encontro longe dos olhos das autoridades. E logo o Zé Pereira virou ponto de encontro oficial da modalidade de toda a Capital.

"A gente costuma dormir mal depois que esse grupo chegou, acho que são de fora, quem tem criança pequena sofre. Eles fazem o querem no meio da rua e atrapalha a vida de quem mora por aqui", disse um dos poucos moradores que toparam falar com jornalistas, com medo de represálias

Houveram protestos, claro. Mas todos foram reprendidos de forma violenta pelo grupo ali instaurado. A história quase sempre era a mesma, segundo os moradores, ameaças de morte sob a alcunha das facções criminosas que diziam ser integrantes. Criou-se até um apelido: 'o Bonde do Terror", que organizava os encontros e se vangloriavam da vida bandida que diziam ter. Até mesmo um pastor evangélico do local ja fora alvo de ameaças, conforme apurou a reportagem.

O título não veio à toa, como mostra o fato ocorrido nesta manhã. O pedaço de madeira usado para agredir o estoquista tinha um prego enferrujado pregado numa das pontas. No asfalto ficaram as marcas da brutalidade. 

Ainda durante a manhã, uma equipe da Força Tática da Polícia Militar aprendeu dois adolescentes identificados como um dos autores da violência bruta. Foram indiciados por tentativa de assasinato.

A expectativa para os moradores é que as coisas voltem aos eixos. E se recupere a paz de outros tempos, que atraiu o estoquista, há poucos meses morando no local. Os reflexos do fluxo do Bonde do Terror são visíveis até na própria cena do crime: em frente ao local onde a vítima foi socorrida por uma ambulância, dois imóveis com placa de aluga-se. Destino que devrá ser seguido pela família do agredido, que está internado em estado grave na Santa Casa.

*colaborou Alíria Aristides

CONFRONTO POLICIAL

Homem com 18 passagens pela polícia é o 73º morto pela PM em 2024

Criminoso tinha passagens por tentativa de homicídio, porte ilegal de arma de fogo, receptação, lesão corporal e várias por roubo

26/11/2024 09h15

Viaturas do BPMChoque no Jardim Novo Samambaia

Viaturas do BPMChoque no Jardim Novo Samambaia DIVULGAÇÃO/BPMChoque

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Homem, de 34 anos, que não teve a identidade divulgada, morreu em confronto com policiais militares do Batalhão de Choque (BPMChoque), na manhã desta segunda-feira (25), no Jardim Novo Samambaia, em Campo Grande.

Esta é a 73º pessoa morta em confronto com a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul em 2024. Veja o gráfico no fim da reportagem.

Conforme apurado pela reportagem, a equipe policial recebeu uma denúncia de possível disparo de arma de fogo em via pública.

Em posse da placa e modelo do carro utilizado pelo indivíduo armado, viaturas se deslocaram até o endereço indicado para localizar o autor e o veículo.

De acordo com o BPMChoque, a proprietária do veículo, que é amante do autor, afirmou que ambos tiveram desentendimentos na noite anterior e que ele fugiu com o carro dela.

No domingo (24), estava exaltado e fez disparos com sua pistola 9 mm da marca Canik. Na segunda-feira (25), quando os policiais chegaram no endereço, viram um indivíduo, com as características citadas pela mulher, na frente de sua residência.

Ao ver os policiais, entrou em casa e baixou rapidamente o portão de elevação. Os policiais, na calçada, deram voz de abordagem e solicitaram que ele saísse.

Mas o homem desobedeceu e disse “Não entra não, se não vai levar!”, “Eu vou furar vocês na bala!”.

A equipe rompeu o portão e ouviu disparos em sua direção. Para se defender, os militares revidaram, balearam e desarmaram o criminoso.

Ele foi encaminhado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Universitário, mas, não resistiu aos ferimentos e faleceu.

Foram apreendidos na casa do bandido uma pistola 9mm da marca Canik e 16 munições.

Ele tem 18 passagens pela polícia por tentativa de homicídio, porte ilegal de arma de fogo, receptação, lesão corporal e várias por roubo, uma inclusive com restrição da liberdade da vítima.

Ele começou a delinquir em 2007, quando ainda era adolescente. Estava preso, mas foi solto em 28 de junho deste ano.

O caso foi registrado como “Homicídio, se Praticado Contra Autoridade Policial na Forma Tentada”, “Disparo de Arma de Fogo”, “Desobediência” e “Homicídio Decorrente de Oposição a Intervenção Policial”.

NÚMEROS

Dados divulgados pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) apontam que 73 pessoas morreram em confronto com agentes de Estado, de 1º de janeiro a 11 de novembro de 2024, em Mato Grosso do Sul.

Das 73 mortes,

  • 36 ocorreram em Campo Grande
  • 34 ocorreram no interior do Estado
  • 9 ocorreram em janeiro
  • 6 ocorreram em fevereiro
  • 13 ocorreram em março
  • 4 ocorreram em abril
  • 5 ocorreram em maio
  • 8 em junho
  • 2 em julho
  • 5 em agosto
  • 7 em setembro
  • 6 em outubro
  • 8 em novembro
Viaturas do BPMChoque no Jardim Novo SamambaiaFonte: Sejusp-MS

Mortes registradas em confronto policial são classificadas como homicídio decorrente de oposição à intervenção policial.

O confronto entre forças de segurança governamentais e grupos armados ocorrem em situações de abordagem policial, roubos, flagrantes de tráfico de drogas, policiamento ostensivo em bairros, entre outras ocorrências.

Polícia

Com o hino de Elza Soares contra a violência doméstica, mulher tem pena reduzida em MS

A manobra da defesa usou a música Maria da Vila Matilde, que expõe a situação de uma mulher vítima de violência doméstica, para justificar que a ré agiu em legítima defesa

25/11/2024 18h44

Crédito: Paulo H. Carvalho / EBC

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Durante o julgamento de uma mulher que sofria violência doméstica e reagiu atentando contra a vida do companheiro, a estratégia da defesa utilizou a música Maria da Vila Matilde, de Elza Soares, como argumento para a justificar que a ré agiu em legitima defesa.

O defensor público substituto Diogo Alexandre de Freitas, que atuou na defesa da mulher, iniciou seu trabalho declamando a música.

Desde o início, a tese girou em torno de que a mulher era vítima de violência doméstica.

A acusada respondia por tentativa de homicídio no município de Bonito.

O defensor ressaltou que ela vivenciava um relacionamento conturbado.

Assim, a tentativa de homicídio, conforme a tese da defesa, ocorreu em legítima defesa, em uma situação de ameaça constante por parte do companheiro da ré.

Com isso, a Defensoria conseguiu eliminar os agravantes que poderiam resultar em uma pena maior.

A pena foi de dois anos em regime aberto, e o juiz reconheceu a condição de vulnerabilidade a que a mulher estava submetida.

“O trabalho da Defensoria garantiu o afastamento das qualificadoras e o reconhecimento de uma causa de privilégio, o que resultou na redução significativa da pena”, pontuou o defensor substituto.

A Defensoria também conseguiu a suspensão das taxas processuais, cumprindo com o compromisso de que a falta de dinheiro não pode impedir o acesso à Justiça.

“Foi um caso desafiador, mas conseguimos demonstrar o contexto social que permeava os fatos e garantir uma decisão que respeitasse a dignidade humana e os princípios constitucionais”, destacou o defensor público.

Maria da Vila Matilde

A canção, lançada no álbum A Mulher do Fim do Mundo, tornou-se um manifesto contra a violência doméstica e o abuso sofrido pelas mulheres em seus relacionamentos.

Na letra, Maria liga para o 180, um serviço de suporte para mulheres em situação de violência. Na voz de Elza Soares, a música virou um hino de coragem e resistência.

“A escolha impactante estabeleceu o tom da defesa, que conectou a realidade da acusada à luta de tantas outras mulheres por dignidade e justiça”, revelou o defensor.

O que é Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180?

O Ligue 180 é um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à violência contra a mulher. Além de receber denúncias de violações contra as mulheres, a central encaminha o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos.

O serviço também tem a atribuição de orientar mulheres em situação de violência, direcionando-as para os serviços especializados da rede de atendimento. No Ligue 180, ainda é possível se informar sobre os direitos da mulher, a legislação vigente sobre o tema e a rede de atendimento e acolhimento de mulheres em situação de vulnerabilidade. Para mais informações basta clicar aqui. 

Além do telefone, em quais canais é possível realizar denúncias?

Além do número de telefone 180, é possível realizar denúncias de violência contra a mulher pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil e na página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), responsável pelo serviço. No site está disponível o atendimento por chat e com acessibilidade para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Também é possível receber atendimento pelo Telegram. Basta acessar o aplicativo, digitar na busca “DireitosHumanosBrasil” e mandar mensagem para a equipe da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180.

** Com informações do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania

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