Jornalista morta pelo noivo procurou a polícia para denunciá-lo horas antes de ser morta
Equipe da Polícia Civil ofereceu abrigo na sede da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) à jornalista, Vanessa Ricarte, de 42 anos, duas horas antes de ser morta pelo noivo, mas, de acordo com a delegada titular da DEAM, Elaine Benicasa, ela recusou e retornou para casa.
Ela foi assassinada a facadas pelo companheiro, Caio Nascimento, na tarde desta quarta-feira (12), em uma casa localizada no bairro São Francisco, em Campo Grande.
Eles namoravam há 4 meses e moravam juntos. Ele tem passagens pela polícia por roubo, tentativa de suicídio, ameaça e violência doméstica contra a mãe, irmã e outras namoradas.
A jornalista iria completar mais um ano de vida no próximo domingo (16). Ela era assessora de imprensa do Ministério Público do Trabalho (MPT) e se formou em jornalismo pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
Conforme apurado pela reportagem, Vanessa foi até a delegacia denunciar Caio e solicitar medida protetiva contra ele na madrugada de quarta-feira (12).
À tarde, por volta das 15 horas, ela retornou ao local para buscar o papel que comprovava a medida protetiva. Neste momento, equipe da Polícia Civil ofereceu abrigo e pediu para que ela ficasse no alojamento da DEAM.
O alojamento da DEAM é um lugar onde mulheres vítimas de violência podem ficar abrigadas temporariamente, junto de seus filhos. No local são oferecidos cama, refeição, serviço de saúde, assistência médica e psicológica, além de proteção jurídica.
Mas, de acordo com a delegada titular da DEAM, Elaine Benicasa, ela recusou e foi para casa, às 17 horas, acompanhada de um amigo, que a auxiliava no processo.
“Ofertamos o abrigo aqui da Casa da Mulher Brasileira, com todos os procedimentos de praxe, ela se negou a ficar no abrigo”, disse a delegada.
No momento em que chegou em sua residência, deu de cara com o autor. Ela pediu que ele pegasse as coisas dele e fosse embora.
Neste momento, por um descuido, o amigo saiu de perto para fazer uma ligação e o autor pegou uma faca de cozinha e desferiu golpes contra Vanessa.
Dra Elaine Benicasa, em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (13)Ele esfaqueou seu pescoço, tórax e barriga. O amigo conseguiu contê-lo e o trancou em um quarto no andar de cima.
A polícia foi acionada por vizinhos e pelo amigo. Viaturas da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militares se deslocaram até o endereço e encontraram a vítima caída no chão ensaguentada e com perfurações pelo corpo.
Ela foi socorrida e encaminhada ao Hospital Santa Casa, passou por cirurgia, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu. A morte foi confirmada por amigos em um grupo de jornalistas do WhatsApp às 23h55min de quarta-feira (12).
O corpo foi encaminhado ao Instituto de Odontologia e Medicina Legal (IMOL) de Campo Grande. Informações sobre o velório serão divulgadas nas próximas horas.
Caio se entregou, foi preso, encaminhado à DEAM e deve passar por audiência de custódia ainda nesta quinta-feira (13). Ele responderá pelos crimes de feminicídio, violência doméstica, perseguição, stalking e um possível cárcere privado que ainda está sendo investigado.
Em interrogatório, ele afirmou às delegadas que “está muito mal pelo o que aconteceu”. Caio é usuário de drogas.
Caio é pianista e, nas redes sociais, canta e toca música evangélica. "O agir de Deus é lindo! Cantaremos a bondade de Deus, que Jesus nosso senhor e salvador nos abençoe hoje e sempre. Renova-me. Milagres e curas, glória a Deus!!!".
Nas redes sociais, o casal postava fotos, declarações de amor e poesias.


Legenda: "Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho, meu amor
E só se poder achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar"
A publicação é de 29 de novembro de 2024.
O governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), lamentou a morte da jornalista nas redes sociais e pediu por justiça.
"Isso não pode de maneira nenhuma passar com impunidade para ninguém envolvido nessa situação. Então, aqui lamento profundamente meu sentimento à família da Vanessa, aos colegas de trabalho, a todos os que estão próximos e a todas as famílias que viveram, vivem esse drama da perda por feminicídio de alguém próximo", disse o governador.
Em nota, o Ministério Público do Trabalho (MPT) lamentou e manifestou indignação pela morte de Vanessa, e a descreveu como "uma profissional dedicada e comprometida".
"É com profundo pesar e indignação que o Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul recebe a notícia do falecimento da servidora pública e jornalista Vanessa Ricarte, vítima de feminicídio em Campo Grande. Vanessa foi brutalmente assassinada pelo então companheiro, em um trágico episódio que evidencia a urgência de combater a violência doméstica e proteger as mulheres em situação de vulnerabilidade. Vanessa Ricarte era uma profissional dedicada e comprometida com a missão institucional do Ministério Público do Trabalho, contribuindo de forma significativa para a divulgação e conscientização sobre os direitos trabalhistas e a Justiça social. Sua perda é um golpe não apenas para a instituição, mas para toda a sociedade, que vê mais uma vida ceifada pela violência de gênero", diz o texto.