A permanência ou não do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, no cargo é especulada dia e noite, ao passo que a pandemia do novo coronavírus avança no Brasil. Até o fechamento desta edição, ele permanecia à frente da pasta, com apoio dos dois principais técnicos do ministério, João Gabbardo dos Reis (secretário-executivo) e Wanderson Kleber de Oliveira (secretário de Vigilância em Saúde). O clima de união ficou evidente e foi reafirmado ontem durante entrevista coletiva em Brasília (DF).
Mandetta confirmou suas posições em relação à cloroquina, declarou abertamente a crise com o presidente Jair Bolsonaro e até mesmo a especulação de que o cargo seria ocupado pelo deputado federal e ex-ministro da Cidadania, Osmar Terra.
Mas o ex-deputado federal de Mato Grosso do Sul – por dois mandatos – e ex-secretário municipal de Saúde de Campo Grande deixou claro que a estratégia montada pela equipe formada por especialistas, com base em dados e informações confiáveis, será seguida até o último dia em que estará à frente do Ministério da Saúde.
Entre as principais ações desenvolvidas até agora estão a ampliação de leitos, aquisição de equipamentos e insumos, como EPIs, e também orientações básicas – frisadas pelos três algumas vezes em meio a respostas de questionamentos políticos feitos na coletiva – como lavar as mãos, manter a higiene e o distanciamento social.
A saída de Mandetta do cargo ficou mais clara e evidente, e a frase dita por ele dias atrás ganhou ainda mais força agora: “Não é se vou sair, é quando vou sair”. “O dia que ele [Mandetta] sair eu saio junto”, disse Wanderson de Oliveira, quando questionado sobre o motivo de ter pedido demissão ontem. O caso ganhou tom de piada, mas também de resistência do trio. Na coletiva, Mandetta brincou dizendo que mandou de volta a carta de demissão enviada por Oliveira.
Certo é que a estratégia minuciosa de combate à pandemia montada pelo ministro e sua equipe tem mais apoio do que críticas. Em Mato Grosso do Sul, a possível saída de Mandetta do cargo provoca reações contrárias há semanas.
O titular da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Geraldo Resende – deputado federal licenciado e colega de Mandetta –, é um dos principais defensores das ações do ministro. “Primeiro vou aguardar. Espero que não se consuma, não aconteça a saída, pois pode trazer prejuízos enormes ao País. Seria uma tragédia”.
Resende disse ainda que o time conduzido pelo ministro está enfrentando bem a pandemia. “É momento de aguardar. Espero que não haja saída do time dele. São profissionais competentes, respeitados nacional e internacionalmente”.
Já o secretário municipal de Saúde (Sesau), José Mauro de Castro Filho, também é enfático ao afirmar que Campo Grande segue todas as orientações do Ministério da Saúde. “Desta forma, tais medidas, como a recomendação do distanciamento social e a higienização, continuarão sendo adotadas até que haja qualquer alteração”, disse, ao ser questionado sobre uma possível saída de Mandetta e mudanças nas ações desenvolvidas até agora.
A Capital ampliou a capacidade de internação de pacientes da Covid-19, com contratualização de 300 leitos em hospitais públicos e filantrópicos, além da rede particular. “Temos buscado inúmeras alternativas para suprir a falta de EPIs, através de compras emergenciais e programadas, e estamos engajados na aquisição de novos equipamentos, como respiradores, por exemplo. Há expectativa de compra de 150 aparelhos que serão essenciais para a ampliação de leitos de UTI [Unidade de Terapia Intensiva]”, disse Castro Filho.
Mandetta falou abertamente de sua saída do Ministério, algo que já tinha cogitado anteriormente e que pode ocorrer se for demitido por Bolsonaro, ficar doente ou se ele mesmo decidir. “Quanto eu sentir que o trabalho feito não é mais necessário de ser continuado porque, de alguma maneira, passamos por este estresse. Todas as alternativas continuam e são válidas. Há um descompasso entre o Ministério da Saúde [e o presidente] muito claro. É uma coisa pública, que acontece; não é o presidente, existem outras pessoas”, confirmou.