O setor produtivo prevê aumento de até 65% na produção de cana em Mato Grosso do Sul na safra que está começando agora, embora a área plantada tenha aumentado em apenas 2%, atingido 423 mil hectares. A expectativa é de que a produtividade, fortemente prejudicada pelo excesso de chuva no ano passado, volte ao patamar tradicional, e o Estado deverá chegar a 38 milhões de toneladas de cana. Ainda de acordo com a previsão, serão produzidos 1,9 bilhão de litros de etanol, 52% a mais que no último período.
Por outro lado, a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) prevê queda drástica nas exportações de etanol, que tendem a ficar no menor patamar dos últimos sete anos, em torno de 1,8 bilhão de litros, o que representará queda da ordem de 33% com relação às vendas externas do último ano. Trata-se de um verdadeiro fracasso para um país que pretendia abastecer o mundo com combustível renovável. Os usineiros atribuem a constante retração ao câmbio, que estaria dificultando os negócios. Quer dizer, o álcool brasileiro está muito caro.
Embora esta queda seja má notícia para a economia brasileira, ela não é de todo ruim para proprietários de carros flex. Junto com a informação de provável aumento na produtividade, os dados são praticamente uma garantia de que o preço nas bombas finalmente recuará, pois há oito meses não está compensando abastecer com álcool na quase totalidade dos postos de Campo Grande. Em alguns, porém, tanto faz encher o tanque com um ou com o outro combustível, pois o setor fixa os preços para impedir que o álcool seja muito vantajoso.
Agora, com provável aumento na produção e queda nas exportações, o valor nas bombas somente não cairá se algum poderoso cartel entrar em operação. Além disso, existe a previsão de que a produção de cana na Índia também se recupere neste ano, fazendo com que os usineiros de lá retomem parte do mercado de açúcar que havia sobrado aos brasileiros nos dois últimos anos.
E, com menos espaço para açúcar, mais cana terá de ser destinada à produção de combustível. Contudo, a velha gangorra de preços do etanol continua em vigor, pois a queda de preço, se realmente vier, será fruto de intempéries naturais. Há cerca de seis meses o Governo federal falou em investir pesado na criação de um estoque regulador. Porém, a nova safra acabou de começar e nenhuma palha neste sentido foi movida.
Ou seja, caso as chuvas voltem a prejudicar a produtividade ou a Índia enfrente outra grande estiagem, fatalmente o etanol continuará com preços proibitivos nas bombas de grande parte das cidades e rodovias brasileiras, o que automaticamente impedirá que algum dia seja cumprida a promessa de que o etanol se transforme numa commodity internacional.