Na sociedade capitalista as características da alienação do trabalho docente configuram-se claramente.
A primeira é a exterioridade definidora do que, do como, da ordem mais indicada para ensinar nos níveis e modalidades de existência do ensino. No processo de avaliação e adoção de políticas para a educação, a natureza da atividade de ensino é ignorada e negada
A liberdade em abstrato, defendida pelo Liberalismo opõe-se à autonomia do professor, expressa na materialidade do sistema único de educação escolar, negativa da dualidade entre formação, e educação rebaixada para o trabalhador.
No segundo aspecto da alienação o elemento presente é a imposição. Quando o trabalho é um sacrifício; o professor trabalha para sobreviver. O trabalhador docente corre de uma escola para a outra, sempre sob a ameaça de perda da integridade física e mental.
No terceiro passo da alienação localiza-se o estranhamento. O trabalho do professor não lhe pertence. O processo é mais acentuado nas escolas privadas.
Convém, no entanto, não desconsiderar uma singularidade do trabalho do professor, entre os demais trabalhadores: ninguém pode surripiar do professor o conhecimento por ele organizado e elaborado com fins de ensino.
Por fim, e decorrência dos anteriores, vem o aspecto da autoalienação ou desumanização. Um aspecto da violência provocadora no trabalhador, de uma redução de sua condição humana a uma condição inferior à do animal.
A situação dos trabalhadores docentes, dos professores, chega a uma dramaticidade intensa. Submetem-se à alienação, o sofrimento no trabalho expressa-se em desgastes físicos e mentais, na dilapidação moral. Postos em relações de trabalho destrutivas; permanecem até o esgotamento dos limites de suas capacidades, ou a chegada do descarte pelo capital.
Venha a denominar-se dilapidação ou desumanização, trata-se de desbaratar, esbanjar, furtar irreversivelmente, o humano do humano.
Não é possível deixar de pensar estratégias e táticas de combate.
A organização dos docentes em sindicatos e partidos, a participação em eleições e em mobilizações, implica na adoção de uma estratégia classista, revolucionária e socialista, ou na dissipação dos esforços nos marcos do reformismo e do conservadorismo, principalmente das burocracias e da via parlamentar.
A adoção de uma estratégia revolucionária e socialista não é tarefa exclusiva dos partidos políticos que têm esta orientação; a tarefa cabe aos sindicatos, aos movimentos populares e organizações da juventude.
A concepção classista e socialista da luta dos trabalhadores implica em vincular as lutas econômicas à luta política geral contra o capitalismo, uma denúncia permanente deste sistema de exploração e da impossibilidade da classe trabalhadora, e nela, da categoria docente, vir a ter uma vida digna enquanto ele persistir. Não se trata de capricho, mas da natureza do capitalismo, que não abre espaço para concessões aos trabalhadores, pelo contrário, busca permanente e insistentemente aprofundar cada vez mais a exploração.
Decorre desta visão o entendimento de que a luta sindical não pode se limitar aos horizontes corporativos. As próprias tarefas colocadas questionam a opção corporativa de sindicalismo; por outro lado, não se concebe a omissão dos professores, trabalhadores, primordialmente, na busca de unir os diversos processos de luta de cada categoria em uma ação unificada da classe trabalhadora, objetivos permanentes da atuação sindical.
As formas de combate à alienação dos professores articulam-se dialeticamente às lutas pela unidade do movimento popular da cidade e do campo com o conjunto do movimento operário, contra as opressões às mulheres, aos negros e às negras, contra as opressões aos glbt. Implica em fortalecer a formas de combate da juventude, uma alternativa classista de luta e de organização dos estudantes.
Antonio Rodrigues Belon, Prof. Dr. da UFMS/Campus de Três Lagoas – E-mail [email protected]