Rafael Rech foi um dos primeiros a chegar no local de queda de helicóptero em Caieiras (SP), e a realizar os primeiros socorros às vítimas
Há exatamente uma semana, uma ocorrência marcou para sempre a vida do enfermeiro socorrista sul-mato-grossense Rafael Rech, de 25 anos.
Natural de Ivinhema, município a 295 quilômetros da capital Campo Grande, Rech é enfermeiro e trabalha há 6 anos na concessionária CCR-MSVia, como instrutor técnico especialista em resgate.
Na última quinta-feira (16), Rafael participou do atendimento às vítimas da queda do helicóptero em Caieiras (SP). O acidente provocou as mortes do empresário André Feldman e da esposa dele, Juliana Alves Feldman.
A filha do casal, Bethina Feldman, 12 anos; e o piloto Edenilson de Oliveira Costa, de 49 anos; foram resgatados com vida.
'Estava em São Paulo para treinamento'
O profissional atuante na base 10 da concessionária em Campo Grande, conta que participou da ocorrência por acaso. Isso porque o acidente ocorreu enquanto ele estava em viagem na cidade de São Roque (SP), para realizar um treinamento de qualificação.
"Eu fui pra São Paulo para poder pegar um pouco mais de treinamento, porque lá tem muito mais ocorrências. Desde treinamento veicular, salvamento em altura, enfim, fazer essa especialização na área para poder trazer o conhecimento e aplicar nas rodovias que a gente atua aqui no estado. E no dia do acidente, a gente recebeu o acionamento, imediatamente fizemos o deslocamento de São Roque até Caieiras, no local do acontecimento com a aeronave.", explica.
Rafael foi um dos primeiros a chegar no local do acidente e a trabalhar na retirada das vítimas. Ele relata que toda a ocorrência no local durou entre 4 a 5 horas de trabalho.
"Recebemos o acionamento às 5h40 da manhã e fomos sair às 11h. Quando a aeronave do Águia sobrevoou o local, eles localizaram o piloto e depois a menina. Eles encontraram a nossa equipe dentro da mata, e resgataram a menina dentro da mata junto com a gente. Fomos a primeira equipe a poder acessar a aeronave, e ali a gente acabou identificando as vítimas. Trabalhamos em conjunto com a Força Aérea para poder fazer a retirada dos corpos da aeronave", conta.
Socorrista Rafael Rech. Foto: Gerson Oliveira, Correio do EstadoSensação de dever cumprido
Rafael relatou ainda o sentimento de participar de um resgate dessa magnitude. Em razão da presença de vítimas fatais, o enfermeiro destacou a importância do equilíbrio emocional em trabalhos dessa natureza.
"A sensação é gratificante, lógico que a gente tem o sentimento por conta das perdas das vítimas do acidente aéreo, mas a gente tem a sensação de missão cumprido. Por conta do nosso trabalho a gente conseguiu dar o conforto, dar o destino aos corpos das vítimas para que a família pudesse ter novamente elas de volta".
"A gente sempre se coloca no lugar daquela família. Sempre temos que trabalhar com o emocional, não deixando que pese no dia a dia. Sentimos pela perda, mas a gente tem que dar o nosso melhor, para que o trabalho seja realizado da melhor maneira", explica.
A cada ocorrência, um novo aprendizado
Na profissão de Rafael Rech, cada emergência e resgate vivido representa um aprendizado para sua equipe. Aprendizado que posteriormente será compartilhado com outras equipes, para assim, aprimorarem seus atendimentos.
"Esses treinamentos são recorrentes. Fui para São Paulo em janeiro e em maio vou para o Paraná, em uma nova concessão que a gente tem lá. São oportunidades de passar todo o conhecimento que a gente agregou tanto em São Paulo quanto o que a gente tem aqui com os nossos colaboradores", enfatizou Rech.
Socorristas no local do acidente em Caieiras (SP). Foto: Divulgação, CCRQueda de helicóptero
Na noite de 16 de janeiro, um helicóptero caiu em área de mata fechada na Grande São Paulo com destino à Americana. O tempo na capital na hora da decolagem era muito ruim. O sinal de GPS da aeronave sumiu por volta de 20h34.
No acidente, André Feldman, de 50 anos, e sua esposa, Juliana Elisa Alves Maria Feldman, 49, morreram no local. A filha do casal, Bethina Feldman, 12 anos, foi resgatada com vida.
O helicóptero saiu de São Paulo com destino à Americana, e por volta de 20h34 de quinta-feira perdeu o sinal de GPS e caiu, segundo as informações da Defesa Civil.
O piloto, que é natural de Dourados, mas mora atualmente em Paulínia (SP) com a esposa e duas filhas, foi encontrado desorientado, pedindo água e preocupado em indicar a localização da adolescente aos socorristas.
Ele prestava serviço particular para a família Feldman, tendo mais de 13 anos de atuação na área, além de ser formado em enfermagem pelo Centro Universitário de Jaguariúna.
Segundo a Polícia Militar de São Paulo, a equipe de resgates localizou, primeiro, a aeronave e, logo em seguida, viram um homem acenando na área de mata, onde eles passaram a noite.
Quando pousaram, os agentes identificaram Edenilson, que indicou onde estava a menina - cerca de 100 a 150 metros para dentro da área da mata.
Como a criança estava com certa dificuldade de andar e com algumas dores, a polícia avalia que, ao amanhecer, Edenilson a deixou na mata e caminhou, tentando chegar à rodovia, e pedir socorro.
No entanto, devido ao cansaço, ele não conseguiu acessar a rodovia, mas chegou a uma área onde havia uma clareira, o que possibilitou que os policiais o visualizassem.
A Força Aérea Brasileira (FAB) informou que investigadores do Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa IV), órgão regional do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), foram acionados para realizar a ação inicial da ocorrência.
O corpo do empresário André Feldman foi enterrado neste domingo , no Cemitério Israelita do Butantã, na capital paulista. O corpo da esposa dele foi velado e sepultado no sábado (18), em Americana, no interior paulista, onde moravam e para onde a família voltava.
André e Juliana deixam outros dois filhos, de 9 anos.