No dia 11 deste mês, um policial civil lotado em Campo Grande foi flagrado com 14,5 quilos de cocaína e um carro roubado na BR-262, próximo a Miranda. A placa do veículo, do mesmo modelo e cor aos utilizados pela polícia, era fria, indicando que ele participava de um esquema organizado de narcotráfico internacional. Segundo a Polícia Federal, os passos do agente estavam sendo acompanhados havia dois meses, após denúncia anônima apontar seu envolvimento no tráfico. No último domingo, outro policial, este lotado em Miranda, foi flagrado com pouco mais de cinco quilos de entorpecente procedente da Bolívia. A prisão foi feita pela própria Polícia Civil, que também diz ter recebido denúncia anônima há cerca de um mês detalhando as atividades ilícitas do policial.
Se os dois casos têm alguma ligação, só os investigadores sabem dizer. Até agora, são tratados como fatos isolados. Porém, duas descobertas em período curto de tempo, na mesma região, com ambas as detenções acontecendo num domingo, com os policiais levando a droga sem qualquer tipo de disface dentro dos carros são alguns indícios de que algum esquema mais amplo está em curso e envolve funcionários públicos que se aproveitam da condição funcional para ganhar dinheiro fácil com o narcotráfico. Embora somente a Justiça possa dizer se estes dois policiais são ou não culpados, o mínimo que se espera é que seja apurado o possível envolvimento de outros agentes públicos no esquema. E, depois do devido processo legal, a demissão para o bem do serviço público.
Na semana passada, quatro PMs foram excluídos da corporação porque ficou comprovado seu envolvimento com o narcotráfico. E, em meio às duas prisões de agentes civis, a impressão que resta é que a "podridão" voltou a imperar nos meios policiais. Porém, o simples fato de estas prisões e exclusões terem despertado grande interesse evidencia que se vive outra fase. Há dez ou quinze anos eram comuns as notícias de policiais envolvidos com contrabando, narcotráfico, pistolagem, roubo de carros, queima de arquivo, fuga de presos, cobrança de propina e outros tipos de crimes. Nos últimos anos, contudo, estes fatos estão cada vez mais raros, tanto que ganham manchetes quando acontecem. Se esta situação tem alguma relação com as melhorias salariais tanto da PM quanto da Polícia Civil, não está claro. Porém, é impossível negar que a coincidência existe, embora bom salário não seja sinônimo de honestidade ou retidão de caráter.
Ou seja, a imagem das instituições policiais evoluiu sensivelmente, embora a insegurança e a criminalidade estejam cada vez maiores. Exatamente por isso é que o possível elo entre as duas prisões na região de Miranda precisa ser esclarecido o mais rapidamente possível.